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12 capitais têm alta de covid e avanço chega ao interior, diz Fiocruz

Tendência de alta de covid-19 que há um mês se restringia aos estados do Nordeste se espalhou pelo país, mostra análise do InfoGripe

Ala médica de hospital: novembro confirmou que a curva do coronavírus parou de cair no Brasil (Diego Vara/Reuters)
CR

Carolina Riveira

Publicado em 27 de novembro de 2020 às 10h15.

Última atualização em 27 de novembro de 2020 às 12h58.

Há menos de um mês, o grupo de pesquisadores do InfoGripe, da Fiocruz, escrevia em seu boletim semanal que havia um sinal de alerta às autoridades sobre o coronavírus no Brasil. Naquela semana, no fim de outubro, nove das 27 capitais brasileiras tinham tendência de alta de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), que são um indicador que tem mostrado o avanço da covid-19 na falta de testes.

Passadas três semanas, o cenário ficou um pouco mais grave. Agora, 12 capitais brasileiras registram tendência de alta forte ou moderada nos casos.

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Se nas outras semanas a alta ficava restrita sobretudo aos estados da região Nordeste -- com exceção de Florianópolis (SC), que vinha em alta constante --, desta vez, estados do Sul e do Sudeste também passaram a preocupar, diz o coordenador do InfoGripe, Marcelo Gomes.

"Se antes nós tínhamos situações localizadas, agora já vemos um cenário mais espalhado e disperso em todo o país", diz. "Nós estamos falando sobre capitais, mas temos visto avanço simultaneamente também no interior dos estados."

O problema do avanço também no interior leva a um cenário diferente da "primeira onda" de contágios, que começou por volta de março. Naquele momento, o vírus entrou no Brasil por meio dos grandes centros -- como São Paulo, até hoje a cidade com mais casos -- e demorou até se espalhar para outros estados e para o interior. Desta vez, já há casos ativos nesses lugares.

"Em vez de questões localizadas, agora o desafio está disperso no território. Há muitos lugares com situação parecida, não é só mais a capital, o que pode ter um impacto na rede de atendimento. É uma dificuldade adicional para a gente lidar", diz Gomes.

O Infogripe faz as projeções com base em dados reportados pelos estados ao Ministério da Saúde sobre os casos de SRAG. Os dados são referentes às semanas anteriores ao boletim, com dados da semana epidemiológica 47, encerrada em 21 de novembro.

A cidade de São Paulo (SP), por exemplo, estava em estabilização e voltou a ter tendência de alta. Vitória (ES) e o Rio de Janeiro (RJ) estavam inclusive em tendência de queda há menos de um mês e agora têm alta moderada. Assim como Porto Alegre (RS), que passou de queda para estabilização.

Os números comprovam um triste diagnóstico que já vinha sendo mostrado pelos números diários de casos e vítimas: o mês de novembro marcou de vez a interrupção da queda da covid-19 no Brasil.

"Esse espalhamento dos casos para outras regiões é o que justamente levou à situação de que a própria 'curva Brasil' -- essa soma do que está acontecendo no país inteiro -- também esteja agora em sinal de retomada de crescimento", diz Gomes.

O Brasil chegou a 6,2 milhões de casos confirmados e 171.497 óbitos por covid-19, segundo os números desta quinta-feira, 26, compilados pelo consórcio de imprensa (UOL, Folha de S.Paulo, O Estado de S. Paulo, O Globo, G1 e Extra). A média móvel voltou a ficar na casa das 500 mortes por dia.

Nesta semana, o Imperial College de Londres divulgou que a taxa de transmissão do coronavírus no Brasil (a chamada Rt) está em 1,3, a maior desde maio.

Uma taxa acima de 1 indica que um infectado transmite o vírus para uma outra pessoa ou mais, de modo que a doença tenderá a se espalhar de forma muito rápida. O objetivo é sempre chegar a taxa inferior a 1, o que significa que o número de novos casos eventualmente irá cair. A taxa de transmissão brasileira foi de 1,1 a 1,3 em apenas uma semana, entre 16 e 24 de novembro. Em outubro, estava em 0,68.

Esse momento de queda nos contágios até então havia feito o país conseguir retomar alguma normalidade, sobretudo a partir dos meses de agosto, setembro e outubro. Empresas reabriram escritórios, bares e restaurantes voltaram a funcionar e o varejo mostrou sinais de recuperação; agora, as autoridades precisarão novamente avaliar como lidar com a alta recente.

"É importante monitorar essa evolução, em especial no estado de São Paulo, em que temos sinais [de lotação] já aparecendo nos hospitais", escreve nesta sexta-feira o economista Arthur Mota, da Exame Research, em relatório sobre o impacto econômico da covid no Brasil e no mundo ( leia na íntegra aqui ).

A grande São Paulo chegou ao maior número de internações por covid-19 desde agosto, e o cenário se repete em outras capitais. Na segunda-feira, o governo do estado vai anunciar se terá novas restrições na quarentena em meio à alta de casos.

A partir de agora, Gomes afirma que, mesmo estados com tendência de queda precisam ser avaliados com cautela. Muitas vezes, a queda não se prolonga por tempo suficiente para de fato garantir que os governos possam adotar mais medidas de flexibilização.

Em outros casos, o plateau (alguma estabilidade no número de casos) é ele próprio incômodo: João Pessoa (PB) e Rio Branco (AC), por exemplo, estabilizaram após terem tido um crescimento anterior. Ou seja, estão piores do que estavam há alguns meses, apesar de, por ora, terem parado de crescer. O mesmo vale para Florianópolis, que vem tendo crescimento constante de casos, embora com estabilização nesse último boletim.

No combate à pandemia, até que se tenha uma vacina, vale a máxima: fazer cair a curva de contágio é muito difícil e demorado, mas descuidos pequenos podem fazê-la voltar a subir muito mais rapidamente.

"Há uma série de ações que podemos tomar, cada um no seu âmbito: governos, empresas e indivíduos. Nenhuma delas tem capacidade de sozinha erradicar ou frear os contágios, mas esses grupos precisam trabalhar em conjunto", diz Gomes, da Fiocruz. O cenário em que o Brasil estará nos próximos meses dependerá dos cuidados de todos agora.


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