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10 mudanças absurdas que o IP do governo fez na Wikipedia

Investigação para descobrir autores de alterações feitas por meio de rede do Palácio do Planalto começa hoje; veja a lista das principais edições

Desde 2004, foram 256 alterações feitas por dispositivos ligados à rede Wi-Fi do Planalto (Peter MacDiarmid / Getty)

Talita Abrantes

Publicado em 12 de agosto de 2014 às 17h39.

São Paulo – Das 256 intervenções feitas na Wikipedia por computadores conectados à rede Wi-Fi do Palácio do Planalto, pelo menos quatro tiveram o objetivo de excluir trechos que ligavam pessoas do governo a acusações de corrupção ou fatos constrangedores. As investigações para apurar quem seriam os autores das edições começaram hoje, segundo portaria publicada no Diário Oficial da União desta terça-feira.

A primeira alteração deste tipo feita pelo IP 200.181.15.10 aconteceu em 2010 no perfil de Gilberto Carvalho, atual ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência da República, como EXAME.com mostrou.

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Na ocasião, relato de acusações que ligavam o então chefe-de-gabinete do ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva a esquema de arrecadação de propina na região do ABC paulista foram substituídos por elogios ao hoje ministro.

Ele não foi o único. De acordo com a Folha de São Paulo, o mesmo IP também teria sido usado para alterar trechos constrangedores das páginas de Alexandre Padilha, candidato petista ao governo de São Paulo, Ideli Salvatti, atual ministra dos Direitos Humanos, e Michel Temer, vice-presidente da República.

Segundo O Globo, os jornalistas Míriam Leitão, colunista do jornal, e Carlos Alberto Sardenberg, da CBN e Rede Globo, também foram alvo de edições do IP 200.181.15.10 que, segundo o governo disse ao veículo, corresponde ao endereço geral do servidor da rede Wi-Fi do Palácio do Planalto.

De acordo com relato do blog da jornalista Cristiana Lôbo do G1, as redes sem fio do governo da não foram usadas apenas para resguardar a reputação da base governista. Segundo a Polícia Federal, um dispositivo usando o Wi-Fi do Ministério de Meio Ambiente seria o responsável por adicionar comentários negativos ao perfil da ministra Izabella Teixeira, que comanda a pasta.

Confira as principais alterações da mais recente para a mais antiga feita por computadores (ou outros dispositivos) do Planalto:

1. Do perfil da hoje ministra dos Direitos Humanos Ideli Salvatti, foi excluída a informação de que, em 2009, ela votou a favor do arquivamento de ações contra José Sarney. A edição foi feita em 16 de janeiro às 17h25.

2. Um extenso trecho que relatava suposto esquema de corrupção na Funasa (Fundação Nacional da Saúde) durante a gestão de Alexandre Padilha, hoje candidato do PT ao governo do estado de São Paulo, foi retirado do ar em 10 de dezembro de 2013.

O  ex-ministro da Saúde, Alexandre Padilha, recebe os profissionais estrangeiros do Mais Médicos (Elza Fiúza/ABr)

3. O mesmo procedimento foi adotado para o relato de críticas da Associação Médica Brasileira (AMB) e do Conselho Federal de Medicina (CFM) ao Programa Mais Médicos, criado durante o período em que Padilha foi ministro da Saúde. Os editores que usavam a rede do Planalto aproveitaram a deixa para tecer uma série de elogios ao programa.

4. Até a diferença de idade entre Michel Temer, vice-presidente da República, e a sua esposa foi alvo da navalha dos editores que usavam o IP da Presidência no dia 14 de outubro do ano passado. As informações de que ela teria sido recepcionista e candidata ao Miss Paulínia também foram limadas. No dia 1º de novembro, foi a vez do relato de que Temer seria maçom ser excluído.

Michel Temer e a esposa, Marcela, durante cerimônia de posse em 2011 (Agência Brasil)

5. A informação de que Temer  foi acusado de se beneficiar do chamado mensalão do DEM foi trocada pela explicação de que, na verdade, ele “teria articulado a saída do ex-governador do DF, Joaquim Roriz (PMDB)”, um dos suspeitos de envolvimento no esquema de corrupção. A alteração foi feita em 21 de agosto de 2013.

6. Em maio do mesmo ano, foi a vez de jornalistas entrarem na mira dos computadores do Planalto. No dia 10, as análises econômicas de Míriam Leitão, colunista de O Globo, foram classificadas de desastrosas pelos autores que usavam a rede do governo. Três dias depois, ela foi acusada  de fazer “a mais corajosa e apaixonada defesa de Daniel Dantas”, escreveram.

7. Nos mesmos dias, pessoas usaram a rede do Planalto para relacionar as posições de Carlos Alberto Sardenberg, da CBN e Rede Globo, com o fato de ele ser irmão do diretor da Febraban (Federação Brasileira de Bancos). “A relação familiar denota um conflito de interesse em sua posição como colunista econômico”,adicionaram.

8. Em novembro de 2010, a informação de que a hoje ministra do planejamento Míriam Belchior foi casada com o ex-prefeito de Santo André, Celso Daniel, também foi suprimida.

O ex-prefeito de Santo André, Celso Daniel, morto em 2002

9. Dois meses antes, foi excluído trecho que relatava a acusação dos irmãos do prefeito Celso Daniel, morto em 2002, contra o ministro Gilberto Carvalho. No lugar, os autores que usavam o Wi-Fi da Presidência teceram uma série de elogios ao então chefe-de-gabinete de Lula.

10. Em 2008, talvez testando a ferramenta, um autor usando a rede do Planalto descreveu o Japão como o “país das pessoas de olho puxado (sic)” em verbete sobre a História da República da China (1912 - 1949). O trecho foi alterado posteriormente por outros usuários da ferramenta.

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