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1 ano sem Dilma: o que o impeachment representou para o Brasil

Segundo analistas políticos, o impeachment representou a perda de confiança na classe política e a guinada positiva para a economia do país

Ex-presidente Dilma Rousseff após aprovação do impeachment, dia 31/08/2016 (Bruno Kelly/Reuters)

Ex-presidente Dilma Rousseff após aprovação do impeachment, dia 31/08/2016 (Bruno Kelly/Reuters)

Valéria Bretas

Valéria Bretas

Publicado em 31 de agosto de 2017 às 06h30.

Última atualização em 31 de agosto de 2017 às 10h26.

São Paulo – Seria difícil prever que, quando foi reeleita em 2014 por mais de 54 milhões de brasileiros, Dilma Rousseff não terminaria seu mandato no tempo previsto pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Pois nesta quinta-feira (31) já faz um ano que a petista não é mais presidente do Brasil. Em 31 de agosto do ano passado, por volta das 13h30, 61 senadores outorgaram a Dilma o posto de segunda presidente do Brasil a sofrer impeachment. 

A petista deixou o cargo garantindo que a "história seria implacável", enquanto Michel Temer (PMDB) assumia oficialmente o comando do país com a promessa de ser um governo de "travessia para dias melhores". Um ano depois, apenas 5% da população aprova a gestão do peemedebista, segundo dados do CNI/Ibope. A menor aprovação de Dilma, por outro lado, foi de 9% em junho e dezembro de 2015.

A mudança em todo o cenário político gerou algumas consequências para o Brasil nos últimos 365 dias. Segundo especialistas ouvidos por EXAME.com, no plano político, o impeachment representou a perda de confiança na classe política. Do ponto de vista econômico, no entanto, o impedimento de Dilma Rousseff culminou em uma guinada positiva para a economia do país.

Retomada da economia

“O impeachment representou uma correção de rumo para o Brasil”, diz Carlos Pereira, cientista político da Fundação Getúlio Vargas (FGV/RJ), em referência ao cenário econômico do país.

“O principal efeito do impeachment foi o equilíbrio da política macroeconômica. Mesmo com evidências robustas de que o governo atual está envolvido em casos de corrupção, não há como negar que esse novo governante tem demonstrado muita capacidade em implementar reformas e corrigir negligências implementadas pela gestão anterior”.

Na visão de Rafael Cortez, cientista político da consultoria Tendências, o impeachment contribuiu  para a retomada de um ciclo econômico mais estável. “A expectativa que todo esse processo deixa é de que em 2018 exista novamente um casamento entre a estabilidade política com um crescimento econômico respeitável”, diz.

Desgaste político

Por outro lado, afirma Cortez, o impeachment mostrou a vulnerabilidade do mandato presidencial. “Na teoria, o sistema presidencialista é aquele que opera com um mandato forte do presidente. O impeachment de Dilma, por outro lado, mostrou que essa engrenagem é falha”, diz.

Na opinião do especialista, o processo foi extremamente traumático para a democracia brasileira, principalmente, pela ruptura da coalização de governo  — vale lembrar que o PMDB, principal aliado da petista, foi um dos mais importantes articuladores do processo que culminou na abreviação de seu mandato.

“A tensão gerada por esse rompimento também evidenciou a falta de confiança entre os partidos políticos, o que impede a construção de uma governabilidade minimamente estável", afirma Cortez.

Nesse processo, segundo Vitor Oliveira, cientista político da consultoria Pulso Público, alguns partidos saíram mais fortalecidos do que outros. "O resultado da eleição municipal de 2016 foi um reflexo claro dessa nova correlação de forças", diz.

Nessa toada, enquanto o PMDB se manteve estável na liderança com o maior número de prefeito eleitos, o partido mais impactado pelo impeachment foi o PT, que perdeu metade das prefeituras conquistadas em quatro anos. O PSDB, por outro lado, foi a sigla que mais ampliou seu domínio municipal no ano passado.

Novos atores e incertezas para 2018

O fim de mandato de Dilma em agosto passado, de certa forma, ajudou a desequilibrar o jogo de forças da política — fato que lança uma série de incógnitas para as eleições presidenciais de 2018.

"O impeachment ampliou o espaço do PMDB na política. Ainda assim, o partido não tem uma liderança forte com projeção nacional e deve manter sua presença nas disputas pelas prefeituras nos próximos anos", afirma Oliveira, da Pulso Público.

Na opinião do cientista político,  o PSDB, por sua vez, perdeu protagonismo quando decidiu apoiar o afastamento de Dilma e passou a desempenhar um papel secundário com o novo governo. "A histórica polarização entre PT e PSDB, ainda que forte, não deve concentrar maioria de votos em 2018. O impeachment abriu espaço para outros atores políticos".

É o caso do Democratas, que vive hoje um momento de ascensão na política nacional exercida pelo presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Com chances nada remotas de encurtar o caminho até a Presidência da República, o partido trabalha para aumentar a sua bancada no Congresso e não descarta uma fusão com outras legendas para aumentar sua influência no país.

Já o PT, apesar de enfraquecido, permanece (por ora) na liderança das pesquisas de intenção de voto com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como pré-candidato. Mas até a candidatura do petista segue incerta, já que ele corre o risco de perder seus direitos políticos caso seja condenado em segunda instância.

"Os desdobramentos da Operação Lava Jato, por exemplo, serão fundamentais para ditar o tom da disputa", diz Oswaldo Martins do Amaral, cientista político Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). "A crise política deve colocar o país no mesmo cenário de 1989, com muitas candidaturas e dispersão de votos". Com isso, fica difícil desenhar cenários para o futuro do país após o fim do mandato de Michel Temer.

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