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Preços dos ovos disparam no Brasil — e devem cair a partir do fim de abril

Redução na produção, aumento do consumo e nos custos, impulsionaram os valores, com altas superiores a 40% em algumas regiões

César H. S. Rezende
César H. S. Rezende

Repórter de agro e macroeconomia

Publicado em 17 de fevereiro de 2025 às 15h26.

Última atualização em 17 de fevereiro de 2025 às 16h16.

A redução na oferta de ovos, aliada ao aumento da demanda pela proteína e à alta nos custos de produção, fez os preços dispararem nos últimos dias. Na parcial de fevereiro, até o dia 14, o preço médio da caixa com 30 dúzias de ovos tipo extra branco em Bastos — principal região produtora do estado de São Paulo — subiu 36,5% em relação a janeiro, para R$ 194,16, segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Esalq/USP. Na comparação com o mesmo período de 2024, o aumento é de 17,4%.

Na cidade capixaba de Santa Maria de Jetibá, maior produtora de ovos do Brasil, o valor médio atingiu o maior nível da série em termos reais, considerando a inflação. O preço de uma caixa com 30 dúzias de ovos brancos chegou a R$ 233,55, um aumento de 37,9% em relação a fevereiro de 2024. A caixa de ovos vermelhos passou a custar R$ 264,21, alta de 40,8% em comparação ao mesmo período do ano passado.

Segundo o Cepea, a demanda tem crescido gradualmente, impulsionada pelo retorno das aulas — já que o ovo é uma proteína amplamente consumida nas merendas escolares — e pela recuperação do consumo pela população em geral.

“Com a oferta reduzida e o bom volume de vendas, os preços devem continuar elevados até a Quaresma, período em que, tradicionalmente, o consumo de ovos aumenta”, afirma Claudia Scarpelin, pesquisadora da área de ovos do Cepea.

Na avaliação do Instituto Ovos Brasil (IOB), entidade que reúne produtores de ovos de todo o país, a recente alta no preço do produto resulta de uma combinação de fatores, incluindo custos de produção, condições climáticas e dinâmica de mercado.

Do lado dos custos, o preço da saca de milho, principal insumo utilizado na ração das galinhas, registrou alta de mais de 30% desde julho de 2024. Embora o impacto não tenha sido imediato, o aumento dos custos tornou inevitável o repasse para o consumidor final, pressionando os preços e os produtores, diz o IOB.

Ao mesmo tempo, a valorização de outras proteínas, como a carne bovina, tem impulsionado a demanda por opções mais acessíveis, como o ovo. Além disso, o poder de compra mais elevado no início do mês também influencia a procura pelo produto.

Por outro lado, as altas temperaturas registradas no início do ano afetaram a produtividade das aves, reduzindo a oferta e elevando os custos de produção.

Em 2024, a produção de ovos no Brasil atingiu 57,6 bilhões de unidades, segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). O volume representa um crescimento de 9,8% em relação a 2023, o que resultou em uma queda prolongada dos preços. Diante do cenário, os produtores ajustaram a oferta para o início do ano, período em que, tradicionalmente, a demanda é menor em razão das férias escolares.

Em janeiro, o ovo já havia registrado um aumento de 2,65% nos supermercados paulistas, segundo o Índice de Preços dos Supermercados (IPS), calculado pela Associação Paulista de Supermercados (APAS) e Fipe. No acumulado de 12 meses, a alta chega a 4,01%.

Preços dos ovos nos EUA

Por ora, o Cepea descartou que o aumento no preço dos ovos no Brasil tenha ligação com a gripe aviária nos Estados Unidos. No mês passado, o país exportou 220 toneladas para os EUA, um crescimento de 33% em relação a janeiro de 2024.

"No curto prazo, ainda é cedo para falar de um impacto significativo nos preços dos ovos no mercado interno. No entanto, caso a situação nos EUA se prolongue e o país continue aumentando suas importações de ovos brasileiros de forma consistente, isso poderá impactar a oferta doméstica", diz a pesquisadora.

Além disso, diz Scarpelin, a exportação brasileira de ovos representa menos de 1% da produção total, ou seja, a maior parte do que o país produz permanece no mercado interno.

Desde dezembro, os Estados Unidos enfrentam um surto de gripe aviária H5N1, o que coloca em risco a produção nacional de ovos. O país é o terceiro maior fabricante global, com coleta anual de 113 bilhões de unidades, segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).

A redução no número de galinhas afeta diretamente a oferta de ovos, pressionando os preços. Em nível nacional, o preço dos ovos brancos grandes atingiu US$ 7,74 por dúzia na semana passada, um aumento de US$ 0,40 em relação à semana anterior, de acordo com um relatório do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) — os estoques permanecem baixos, diz o órgão.

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