EXAME Agro

Empresas com boas práticas de gestão do agronegócio brasileiro

Opinião | Uma coisa é saber gerenciar bem o negócio agrícola — o que o empreendedor do agronegócio brasileiro aprendeu a fazer; outra é enxergar as oportunidades de avanços

Agrogalaxy: companhia espera ver efeito de reestruturação conduzida em 2023 no balanço de 2024 (Divulgação/Divulgação)

Agrogalaxy: companhia espera ver efeito de reestruturação conduzida em 2023 no balanço de 2024 (Divulgação/Divulgação)

Luis Otávio Fonseca
Luis Otávio Fonseca

Sócio-líder para a Indústria de Consumer e líder para o setor de Agronegócio da Deloitte

Publicado em 8 de maio de 2023 às 16h24.

Última atualização em 8 de maio de 2023 às 17h01.

O programa Empresas com Melhor Gestão, da Deloitte, avalia as empresas considerando diferentes dimensões: Estratégia & ESG, Cultura & Compromisso, Capacidade & Inovação e Governança & Finanças. Por meio de um processo rigoroso e independente, as companhias são submetidas a um modelo de avaliação global, utilizado pela Deloitte há mais de 30 anos.

As empresas habilitadas recebem um selo de “Empresas com Melhor Gestão” durante o período de um ano, que representa uma distinção por suas boas práticas de gestão corporativa. A avaliação fica mais abrangente a cada ano e as empresas precisam renovar o selo.

Trago este assunto para a minha coluna na EXAME com foco em Agronegócio devido à representatividade das empresas do setor não somente no processo de seleção para aquisição do selo, mas principalmente pelo fato de serem recorrentemente ganhadoras do programa, como foi o caso da Cooperativa Agrária, Cocamar, Usina Cocal, São Salvador Alimentos, Santa Helena, entre outras.

A melhor maneira de ilustrar os porquês e o que encontramos nas empresas deste setor é transcrevendo uma conversa que tive com meu sócio na Deloitte, Fábio Carneiro, responsável pela condução do programa nas empresas:

LO: Por que as empresas se interessam em participar deste programa?

FC: É um programa que oferece uma visão independente e especializada do negócio, por meio de uma interação personalizada e individual com executivos seniores da Deloitte [coaches], além de reconhecer as boas práticas de gestão da empresa, proporcionando maior visibilidade e credibilidade no mercado.

O que desperta o interesse das empresas do agro a participarem do programa?

O Programa possibilita a empresa e seus gestores uma visão 360º da organização, como uma mentoria ou consultoria, realizada por especialistas da Deloitte. De modo que se a empresa busca atualizar e melhorar seus processos de gestão corporativa, aproveita a oportunidade e ao final do programa recebe um diagnóstico detalhado demonstrando suas fortalezas e os pontos de melhorias identificados durante todo o processo de intercâmbio de práticas e processos com especialistas das diversas áreas que levam a obtenção do selo. No caso específico das empresas do agro, observa-se certa competição e relevância no setor em demonstrar qualidade e eficiência na gestão, eventualmente como reflexo da importância de tomar boas decisões no campo.

Considerando as dimensões de análise, o que faz as empresas do agro se destacarem em relação às de outros setores?

O agro é um setor econômico importante que envolve aspectos peculiares de avaliação uma vez que permeia vários setores. Esse fato faz com que o setor se destaque em relação aos demais. As práticas ESG também são bastante difundidas neste setor, assim como o Brasil tem uma grande representatividade no cenário global, inclusive no quesito de inovação tecnológica.

As empresas do agro ganharam devido a uma somatória de boas práticas. Estratégia consistente e monitorada, práticas ESG, governança robusta, preocupações com a carreira e com as pessoas, entre outras práticas.

Em que critérios de avaliação as empresas do agro costumam ter mais dificuldade durante o processo?

Plano de sucessão é a parte mais crítica na minha visão, pois as empresas acham que as famílias e seus fundadores estarão sempre presentes e isso é bastante perigoso. Não basta apenas olhar para o CEO ou CFO, mas também a sucessão em outras posições gerenciais.

Quais empresas do Agro participaram do programa em sua existência e o que chamou a atenção em cada uma delas quanto à atribuição de seus respectivos prêmios?

Entre as empresas vencedores da segunda edição do programa, estão: Cooperativa Agrária, Cocal, Cocamar, São Salvador Alimentos e Santa Helena.

O conjunto de boas práticas destas empresas nos quatro pilares a fizeram ganhar o prêmio. Estratégia bem definida e executada com portfólio de programas e projetos alinhados as diretrizes estratégicas, propósito bem definido, práticas e indicadores de ESG sendo monitorados, preocupação com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU com ações concretas, finanças sólidas, e governança robusta.

Qual é sua percepção em relação a seus executivos e gestores das empresas do agronegócio e alimentos que participaram do programa?

No que se refere à alta gestão as empresas do agro, ainda que muitas vezes regionais ou familiares, não ficam a dever a nenhuma empresa multinacional ou empresas de maior porte. Estão sempre se atualizando, implantando ferramentas de mercado nos seus processos como RPA, inteligência artificial, se utilizam de ferramentas de Analytics para tomada de decisões, entre outros aspectos.

Quais benefícios as empresas verificam após receber o selo de Best Managed Company?

O grande ganho para a empresa é ter um diagnóstico 360º sobre suas práticas de gestão, além de receber insights do que o mercado e/ou empresas do mesmo setor e de outros  vem praticando. Com isso, ela já sai do programa com um plano de ação pronto. Além disso, as discussões entre especialistas em empresas permitem que estas adicionem conteúdos importantes que nem sempre estão priorizados em seus dia-a-dia, como por exemplo assuntos de cyber-segurança e automação de processos.

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Transcrever essa discussão é importante na quebra do paradigma de que empresas carecem de boa gestão e práticas empresariais. Certas são duas coisas: uma é saber gerenciar bem o negócio agrícola – seja em que etapa for da cadeia de valor — é fundamental em um mercado sujeito à volatilidade de preços e do câmbio. E isso o empreendedor do agronegócio brasileiro aprendeu a fazer bem, seja individualmente ou através das cooperativas agrícolas tão fortes em nosso mercado.

A outra coisa é que ainda há oportunidade de avanços. Ainda é recente a ida de empresas agropecuárias ao mercado de capitais no financiamento de suas operações. Motivadas pelo atual custo do capital, aliada à necessidade de financiamento além do permitido pelo Plano Safra cada vez mais empresas do setor têm buscado na melhoria da gestão, da contabilidade, da transparência, da organização e na auditoria externa uma maneira de reduzir sua percepção de risco pelos agentes financeiros e assim ter acesso a linhas de financiamento mais eficientes.

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