Embrapa precisa recuperar orçamento para pesquisas, diz Moretti
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) completa 50 anos e aposta no futuro da agricultura de baixo carbono
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Celso Moretti, presidente da Embrapa (Embrapa/Divulgação)

Publicado em 24 de abril de 2023, 14h32.
Última atualização em 24 de abril de 2023, 14h44.
No ano em que completa cinco décadas de fundação, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) reforça o trabalho na autossuficiência de produções agrícolas, sobretudo sob a nova bandeira da agricultura de baixo carbono. No entanto, para ser reconhecido como líder na agenda de carbono neutro, o Brasil precisa recuperar o orçamento para ciência, pesquisa e desenvolvimento, conforme defende Celso Moretti, presidente da Embrapa. "A falta de investimento agora pode impactar daqui a cinco ou dez anos, então é importante retomarmos as pesquisas", ele diz.
Em janeiro, o orçamento da entidade para 2023 foi confirmado em R$ 3,6 bilhões. As despesas destinadas ao Programa de Pesquisa e Inovação Agropecuária e Administração da Unidade totalizam R$ 345 milhões, crescimento de 46,5% em relação a 2022.
"O valor é bastante substancial, ainda que não seja suficiente para atender todas as demandas que temos. Não começamos a discussão de orçamento para 2024, mas espero, sinceramente, que a nova gestão consiga aumentar o orçamento e consigamos retomar alguns projetos que foram parados devido à dificuldade orçamentária dos últimos anos", afirma Moretti.
Ainda em relação ao orçamento da Embrapa, o presidente diz que uma das saídas é o Núcleo de Inovação Tecnológico Externo, uma espécie de fundação que receberá recursos privados. O mecanismo funcionará como um ambiente em que serão negociados ativos e a possível formação de uma Sociedade de Propósito Específico.
"Estamos prontos para lançar este Núcleo, como um braço externo. Espero que a nova gestão leve isso adiante, porque essa é uma das maneiras de a Embrapa conquistar maior autonomia financeira", diz Celso Moretti.
Carbono no solo
Um dos carros-chefes da Embrapa atualmente é o Programa Soja Baixo Carbono (PSBC). A finalidade é atestar a sustentabilidade da produção de soja brasileira, por meio da concessão do selo Soja Baixo Carbono (SBC). Ainda para o primeiro semestre de 2023, a pretensão é concluir as diretrizes da metodologia de mensuração deste carbono.
Para isso, Celso Moretti anuncia o uso de uma recente tecnologia com inteligência artificial, que deve contribuir para o pagamento por créditos de carbono. Chamada de Aglibs, a ferramenta dispara um laser para mensurar o sequestro de carbono em determinada amostra de solo. Esta é a mesma tecnologia utilizada para investigar o solo de Marte, cujo potencial também é indicar manejos mais adequados para fertilidade do solo e nutrição de plantas.
"O processo faz a leitura e associa a informação com características físicas e químicas dos solos. A novidade é usar a Aglibs com inteligência artificial para medir, reportar e verificar o carbono e, em seguida, levar o produtor à comercialização deste carbono via crédito", diz Moretti.
Autossuficiência no trigo
Outro destaque da Embrapa são as altas produtividades de trigo no cerrado, podendo levar o Brasil a ser autossuficiente na produção do grão. Conhecida por ser uma cultura de clima frio, as variedades de trigo desenvolvidas pela Embrapa passaram a se adaptar no Centro-Oeste, entre cultivo de sequeiro e irrigado.
Em 1974, a inauguração da Embrapa Trigo resultou no desenvolvimento de 124 cultivares destinadas a diferentes usos, como fabricação de pães, massas, bolachas e biscoitos, além de trigos para alimentação animal ou forragem. De lá para cá, enquanto a produção supria 30% da demanda nacional em 2000, o trigo cultivado nacionalmente passou a atender 83% da demanda em 2022.
A partir desta curva de crescimento, Celso Moretti defende a independência das importações no médio prazo. "O Brasil está perto da autossuficiência de trigo. Talvez nos próximos três anos, pois temos tecnologia e área para isso", afirma. Com volumes variando de 3 mil a 10 mil quilos por hectare, o resultado se aproxima das melhores produções globais do grão.
Nova gestão da Embrapa
Celso Moretti está prestes a completar sua vigência como chefe da Embrapa. Ao fim de maio, a instituição deverá ser assumida pela pesquisadora Silvia Masshurá, doutora em Computação Aplicada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e membro do quadro de pesquisadores da Embrapa desde 1989.
Nome defendido pelo ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, Silvia é a primeira mulher a chefiar a estatal, após estar à frente da Embrapa Agricultura Digital, desde 2021, com projetos na área de computação científica aplicada à agricultura e inteligência artificial.
Créditos

Mariana Grilli
Repórter de AgroGraduada em Jornalismo com especialização em Agronegócios pela FGV. Trabalhou como repórter na Rádio Jovem Pan e na Revista Globo Rural. É vencedora do 2° Prêmio GTPS de Jornalismo e do Prêmio Rede ILPF de Jornalismo.Últimas Notícias
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