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Brasil e Rússia voltam a falar do abastecimento de fertilizantes

Aproximação entre países é positiva para o abastecimento de adubos, mas relação política é sensível devido ao conflito com a Ucrânia e possíveis desdobramentos na parceria comercial com Estados Unidos

Aplicação de fertilizantes no campo antes do plantio (Getty Images/Getty Images)

Aplicação de fertilizantes no campo antes do plantio (Getty Images/Getty Images)

Mariana Grilli
Mariana Grilli

Repórter de Agro

Publicado em 18 de abril de 2023 às 11h32.

Última atualização em 13 de julho de 2023 às 17h44.

Em encontro nesta segunda-feira, 17, o chanceler russo Serguei Lavrov e o ministro do Itamaraty Mauro Vieira voltaram a falar sobre a parceria comercial para o fornecimento de fertilizantes químicos ao agronegócio brasileiro. De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), 28% dos fertilizantes importados pelo Brasil vêm da Rússia -- 20% de todo adubo químico utilizado na agropecuária.

Fertilizantes químicos são compostos por nitrogênio, potássio e fosfato. Esses elementos são macronutrientes necessários para todas as plantas e, quando unidos, chamados de NPK. "Um quarto dos fertilizantes utilizados no Brasil são de produção russa. Tratamos de um acordo para garantir o fluxo deste insumo de vital importância para nossa agricultura. Também tratamos para que estabelecimentos brasileiros possam exportar produtos de origem animal para a Rússia", disse o chanceler brasileiro à imprensa após o encontro.

Mais de 80% dos adubos que o Brasil utiliza são importados. No início do conflito entre Rússia e Ucrânia, o risco da falta de abastecimento expôs a dependência brasileira e levou à criação do Plano Nacional de Fertilizantes, lançado pela ex-ministra Tereza Cristina durante o governo Jair Bolsonaro. O plano deverá ser mantido por Lula e prevê aumentar a fabricação interna até 2050, incluindo os biofertilizantes.

Visão econômica e política

Na avaliação do consultor de mercado Junior Crossara, a aproximação entre os dois representantes é positiva, à medida que a dependência brasileira pelos adubos sintéticos não terminará tão cedo.

"A gente tem uma dependência dos fertilizantes que, a curto prazo, não vai mudar, como estrutura e matriz de importação de fertilizantes. Então, economicamente, é um excelente sinal do Brasil ter uma linha direta com o governo russo e continuar a ter um canal aberto para garantia de suprimentos", diz Crossara.

Ele ainda comenta que outros assuntos tratados foram a cooperação na área tecnológica e o credenciamento de frigoríficos brasileiros à exportação.

Se do ponto de vista econômico a aproximação entre os países é benéfica, pelo lado político pode trazer sensibilidade ao agronegócio, segundo o consultor. Na saída do encontro entre os representantes da Rússia e do Brasil, Lavror disse à imprensa que "as visões do Brasil e da Rússia são similares em relação aos acontecimentos que ocorrem no mundo".

O presidente Lula tem declarado intenção em estimular conversas sobre acordo de paz entre os russos e a Ucrânia. O discurso é visto como antagônico à postura assumida por Estados Unidos, também grande parceiro comercial para a agropecuária.

"Talvez o que esteja na mesa é o lado político. Há uma sinalização para a comunidade ocidental dessa aproximação do governo russo, visto o interesse da Rússia em mostrar ao mundo que ela tem simpatizantes. Há uma preocupação grande de como Washington vai receber isso, então a questão política é mais delicada para nós", afirma Crossara.

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