Desde quarta-feira, o dólar furou a marca dos R$ 6,27 após declarações do ministro da Fazenda , Fernando Haddad, sobre cortes de gastos e pela decisão do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA), que reduziu a taxa de juros norte-americana em 0,25 ponto percentual, para o intervalo de 4,25% a 4,50% ao ano.
“O dólar está desancorado dos fundamentos, aparentemente devido à falta de articulação entre governo, Executivo e Legislativo em relação à aprovação do pacote fiscal. No curto prazo, não se espera uma melhora significativa sem um esforço do Executivo para estabilizar o mercado e restaurar a confiança”, afirma Lima, da DA Economics.
Segundo ele, a ausência de um plano efetivo de cortes fiscais, que demonstre comprometimento com as contas públicas, faz com que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva "estique a corda demais", provocando reações do mercado em "modo pânico".
“No curto prazo, não há perspectiva de melhora sem uma ação concreta para trazer estabilidade. As atuais medidas parecem tratar apenas os sintomas, ignorando os fundamentos do problema. É como tentar consertar o termômetro sem resolver a causa da febre”, explica o economista.
Nesta quinta-feira, 19, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que a recente alta do dólar decorre de uma demanda maior do que o esperado, impulsionada por remessas de dividendos de empresas para o exterior e pelo envio de recursos de pessoas físicas ao exterior.
“A demanda [por dólares] foi muito maior do que esperávamos. Mas não existe um desejo do Banco Central de proteger nenhum nível de câmbio. O Banco Central tem muita reserva e vai atuar quando achar necessário”, disse Campos Neto.
Diante da alta do dólar, o BC foi obrigado a intervir para conter a escalada da moeda norte-americana. Nesta quinta-feira, realizou duas intervenções cambiais que totalizaram US$ 8 bilhões, elevando para US$ 20,76 bilhões o montante injetado no mercado desde 12 de dezembro.
Desse total, US$ 13,76 bilhões foram alocados em leilões à vista, enquanto o restante foi aplicado em leilões de linha, com compromisso de recompra.
O diretor de Política Monetária e futuro presidente do BC, Gabriel Galípolo, descartou a possibilidade de o país estar sofrendo um ataque cambial especulativo.
“Não é correto tratar o mercado como um bloco monolítico, que se move em uma única direção. O mercado opera com posições contrárias. Toda vez que um ativo se movimenta, há vencedores e perdedores. A ideia de ataque especulativo não reflete bem o que está acontecendo”, afirmou Galípolo.