EXAME Agro

Agro brasileiro pode perder R$ 14,8 bilhões em 2026 com tarifas dos EUA

Segundo a CNA, entre agosto e novembro deste ano, as exportações do agro para o mercado americano caíram 38% em relação ao mesmo período de 2024

Tarifas: setor de pescados ainda sofre com a sobretaxa de Trump (Freepik)

Tarifas: setor de pescados ainda sofre com a sobretaxa de Trump (Freepik)

César H. S. Rezende
César H. S. Rezende

Repórter de agro e macroeconomia

Publicado em 9 de dezembro de 2025 às 14h35.

Última atualização em 9 de dezembro de 2025 às 14h36.

O agronegócio brasileiro pode perder até US$ 2,7 bilhões (R$ 14,8 bilhões) em 2026 caso os Estados Unidos mantenham a sobretaxa de 40% sobre produtos agropecuários como pescados, ovos e mel. A estimativa é da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), divulgada nesta terça-feira, 9.

Segundo a entidade, o próximo ano deve ser marcado por intensas movimentações em torno das tarifas aplicadas por Washington.

“Os Estados Unidos devem manter uma política comercial agressiva, alinhada à estratégia de estímulo à industrialização e atração de investimentos estrangeiros”, afirmou a CNA.

Em novembro, o presidente americano, Donald Trump, retirou a sobretaxa de 40% imposta em agosto sobre parte dos produtos brasileiros. Antes disso, já havia suspendido a tarifa de 10%, anunciada em abril, durante o Liberation Day.

Entre as commodities isentas estão carne e café — a justificativa do governo foi o aumento dos preços internos nos EUA.

Entre agosto e novembro deste ano, as exportações do agro brasileiro para o mercado americano caíram 38% na comparação com o mesmo período de 2024. Atualmente, os EUA respondem por cerca de 6% dos embarques do setor.

A CNA alerta que a previsibilidade comercial está em risco e que produtores podem ser obrigados a redirecionar cargas para mercados com margens menores. Uma reconfiguração do fluxo global é considerada provável caso as sobretaxas sejam restabelecidas em 2026.

Cadeias do agro

Segundo Sueme Mori, diretora de Relações Internacionais da CNA, setores mais internacionalizados, como o de carne bovina, conseguiram redirecionar parte das vendas e ampliar mercados, mitigando os efeitos das tarifas dos Estados Unidos.

Já cadeias menores — como mel, frutas e pescados — sofreram impacto direto e têm menor capacidade de reposicionar exportações.

Mori alerta que, com a Investigação 301 em andamento, novos setores podem ser alvo de sanções adicionais. A investigação, amparada na Seção 301 da Lei de Comércio dos EUA de 1974, avalia se práticas comerciais brasileiras são consideradas injustas, discriminatórias ou prejudiciais aos interesses americanos.

“A 301 ainda pode resultar em novas sanções, e por isso trabalhamos para ampliar a lista de exceções. Enquanto isso, o setor busca ativamente a abertura de novos mercados”, afirma.

Além dos Estados Unidos, o ambiente externo impõe outras pressões: o avanço das negociações do acordo Mercosul–União Europeia, que pode incluir salvaguardas agrícolas; o adiamento da Lei Antidesmatamento Europeia; e o 15º Plano Quinquenal da China, que prevê reduzir a dependência de importações, revisar estoques e elevar exigências sanitárias.

"Tanto o governo brasileiro quanto a UE dizem que o acordo será assinado em 20 de dezembro. Mas esse mecanismo da salvaguarda gera preocupação porque pode ser mais danoso ao Mercosul", afirma.

Acompanhe tudo sobre:CNAAgronegócioSafra 2025/2026SojaExportações

Mais de EXAME Agro

Os 5 países que mais importaram café brasileiro em 2025

Savencia, dona da Polenghi, anuncia compra da Quatá Alimentos

Peru e uva-passa: o agro por trás da ceia — e de um mercado de R$ 85 bilhões

Os 5 países que mais compraram ovos do Brasil em 2025