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Wikipédia de alimentos estragados combate carne falsa

Estudante chinês criou um site que monitora a segurança alimentar e as fabricações questionáveis no país

Consumidora escolhendo carne em um supermercado em Hong Kong, na China (Lam Yik Fei/Bloomberg)
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Da Redação

Publicado em 12 de setembro de 2014 às 23h23.

Hong Kong - A refeição favorita de Wu Heng era carne assada com arroz antes de ele ver uma postagem em uma rede social chinesa mostrando duas fotos idênticas de ‘ carne ’ lado a lado.

Uma era de carne bovina. A outra era carne de porco quimicamente tratada para ter gosto de carne bovina. “Trapaceiros! Inaceitável!”, ele pensou.

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Indignado, Wu resolveu fazer justiça com suas próprias mãos. Por isso, ele trancou seu mestrado para criar o que ele descreve como uma “Wikipédia” que monitora a segurança alimentar e as fabricações questionáveis na China.

Ele o chamou de “Jogue isso pela janela” - um nome inspirado em uma reportagem que ele leu sobre o presidente dos EUA Theodore Roosevelt, que supostamente atirou uma salsicha pela janela depois de ler sobre os horrores da produção do alimento.

Desde sua criação, em 2011, o site de Wu compilou uma lista de mais de 3.000 casos de alimentos potencialmente inseguros e agora tem mais colaboradores do que ele consegue contar.

“Eu me senti uma vítima e imaginei que outros deviam se sentir assim também”, disse Wu, 28, que trabalha como escritor.

“Eu tenho esperança de que o site ajude a construir o poder para que o mercado impulsione uma mudança. Mesmo se não pudermos fazer mudanças, eu acho que se você está consumindo alimentos inseguros você deveria saber disso”.

Seus esforços mostram como os cidadãos da China estão se manifestando cada vez mais contra os riscos para a saúde e o meio ambiente. No mês passado, a polícia chinesa prendeu 17 homens por venderem carne de cachorro envenenada, segundo a mídia estatal.

Eles apreenderam separadamente cerca de 30.000 toneladas de pés de frango tratados com excessivas quantidades de peróxido de hidrogênio, conhecido comercialmente como água oxigenada – para clarear a cor da carne.

Campanhas massivas

Wu vê produtos como a carne que foi colorida como um problema de segurança alimentar. As fabricantes que deturpam seus produtos representam uma ameaça para a saúde, diz ele, porque os consumidores não conseguem saber exatamente o que estão comendo.

Em 2008, pelo menos seis bebês morreram depois de terem ingerido uma fórmula misturada com melanina.

Esse incidente provocou indignação e a maioria dos chineses hoje é consciente das conexões a longo prazo entre alimento e consequências para a saúde, como o câncer, disse Shawn Wu, gerente sênior em Xangai da consultoria SmithStreet.

Alguns dias depois de dar início ao site e vasculhar a internet em busca de exemplos, ele se deu conta de que trabalhar sozinho era “missão impossível”, porque havia muitos casos e as notícias eram “muito nojentas”.

Ele lembra que no começo passou fome. Cada vez que começava a ter dor por causa da fome, ele se lembrava de todas as imagens que tinha visto e se sentia mal. “Eu fiquei sem comer durante dias”, disse ele, por telefone, de Xangai, onde mora.

Por isso, ele recorreu às redes sociais com um chamado por voluntários. Mais de 30 chineses -- tanto no país quanto no exterior -- responderam.

Colaboradores

Hoje, seu site (www.zccw.info) atrai cerca de 5.000 visualizações diárias e age como uma enciclopédia pública, com voluntários que procuram reportagens de notícias locais sobre problemas alimentares e as publicam.

Como na Wikipédia - com a qual ele não tem afiliação -, ninguém pode postar informações diretamente. Wu gasta em torno de 15 a 30 minutos diários atualizando o site. Ele também escreveu um livro sobre segurança alimentar que tem o mesmo nome de seu site.

Os telefonemas feitos para o órgão regulador do país -- a Administração de Alimentos e Medicamentos da China -- não foram respondidos. O premiê da China, Li Keqiang, prometeu uma maior fiscalização dos alimentos.

Wu pretende que o site permaneça como uma fonte de recurso público e diz que paga a tarifa anual de hospedagem de 1.500 yuans (US$ 244) de seu próprio bolso, porque “não é muito”.

Ele diz que o governo ofereceu ajuda nos últimos anos e que ele recusou para continuar independente.

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