Vista geral da cidade síria de Alepo: nos próximos dois anos, os 67 locais históricos em risco escolhidos receberão ajuda financeira do WMF (Ramzi Haidar/AFP)
Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2013 às 14h25.
Última atualização em 18 de abril de 2018 às 13h09.
Nova York - Veneza, ameaçada pelo turismo em grande escala de grandes transatlânticos, e a Síria, que tem um patrimônio cada vez mais destruído e saqueado devido a um longo conflito, lideram a lista de 67 locais históricos em risco incluídos na lista 2014 apresentada nesta terça-feira pelo World Monuments Fund (WMF).
No relatório anual desta organização independente sem fins lucrativos há 15 sítios da América Latina, entre eles a cidade de argila de Chan Chan, no Peru, e as ruínas de Uaxactun, na Guatemala, e 18 da Europa, onde a falta de financiamento começa a repercutir na manutenção de seu patrimônio.
"Hoje temos 67 sítios em 41 países do mundo todo, o que eleva nosso número total de sítios sob vigilância desde 1996 para 740 em 133 países, com um investimento de 300 milhões de dólares desde então", disse a presidennte do WMF, Bonnie Burnham, durante uma coletiva concedida em Nova York na qual apresentou este informe bianual.
O WMF recebeu um total de 248 candidaturas enviadas por governos, ONGs e especialistas em conservação do patrimônio, entre outros. Nos próximos dois anos, os 67 lugares escolhidos receberão ajuda financeira do WMF, mas sobretudo de outras entidades, para tentar reverter sua situação.
A lista de 2014 "inclui três ou quatro dos maiores desafios no campo" da preservação do patrimônio histórico e cultural, disse Burnham, referindo-se em particular à situação na Síria e no Mali, onde têm ocorrido conflitos internos.
"Na Síria, a guerra civil teve um custo terrível para monumentos e locais que ainda continua. Colocamos toda a Síria na lista", explicou, dando como exemplo a destruição da cidade histórica de Aleppo (norte).
Embora a situação no Mali "pareça ter se acalmado", o dano sofrido pelo patrimônio também foi elevado e, por isso, todo o país foi posto em vigilância.
"Nos próximos dois anos faremos todo o possível para ajudá-los", disse Burnham, que mencionou também dois importantes locais em risco devido a catástrofes naturais: a catedral armênia do século VII de Mren en Kars (Turquia) e a região histórica de L'Aquila na Itália, ambos vítimas de terremotos.
Ameaçada há anos por diferentes males, como a lenta elevação das águas onde se situa, a mítica Veneza, no nordeste da Itália, encontrou um novo inimigo sob a forma de grandes cruzeiros de turismo de massa, advertiu Burnham.
"O aumento dos cruzeiros gigantes em Veneza é uma fonte de grande preocupação. Os especialistas acreditam que está empurrando Veneza para um limite ambiental e comprometendo a qualidade de vida de seus cidadãos", destacou.
Burnham indicou que o número desses cruzeiros de turismo de massa que chegam anualmente à cidade dos canais passou de 400 em 2005 para 1.000 no ano passado, com até 20.000 turistas por dia durante a alta temporada.
A presidente do WMF afirmou que o objetivo da inclusão de Veneza na lista de 2014 é tentar chegar a "algum tipo de compromisso" com as autoridades para controlar o impacto negativo no meio ambiente deste novo fenômeno, que é ao mesmo tempo uma fonte de recursos importante.
Veneza é um dos 18 locais da Europa na lista, o que faz dela o continente mais representado. Em seguida está a América Latina, com 15 lugares nesta edição; um retrocesso com relação aos 22 incluídos na lista de 2012; seguida da Ásia, com 13.
Na coletiva de imprensa desta terça-feira, o WMF destacou a situação preocupante das ruínas da cidade de argila de Chan Chan, em Trujillo (norte do Peru), onde o crescimento urbano traz problemas para a preservação do sítio, declarado Patrimônio da Humanidade pela Unesco em 1986.
Formado por nove cidadelas ou pequenas cidades muradas, Chan Chan começou a ser construída no século IX e foi a capital do reino Chimor da cultura Chimú.
O arquiteto Javier Robles, promotor da candidatura de Chan Chan, explicou que "Trujillo cresce e não há um plano de trabalho em como isto está afetando as ruínas", razão pela qual a ideia é "trabalhar com um projeto em nível nacional e internacional e criar um sistema de proteção".
Com quatro sítios arqueológicos, o Peru é o país latino-americano mais representado, embora na lista do WMF haja locais do século XX reconhecidos por sua arquitetura ou valor histórico, como a Cidade Universitária de Caracas e o Parque Fundidora de Monterrey, México.