Tecnologia

Vendida para Intel, Moovit é startup que cresceu primeiro no Brasil

O aplicativo israelense Moovit, conhecido como Waze do transporte público, apostou no Brasil e se uniu a startups compradas por gigantes da tecnologia

Moovit: app foi vendido para a Mobileye, da Intel (Moovit/Divulgação)

Moovit: app foi vendido para a Mobileye, da Intel (Moovit/Divulgação)

Lucas Agrela

Lucas Agrela

Publicado em 9 de maio de 2020 às 05h55.

Última atualização em 11 de maio de 2020 às 12h14.

WhatsApp, Waze e Moovit. As três empresas podem não ter tanto em comum nos seus negócios, mas compartilham uma história parecida: elas cresceram e se destacaram primeiro no Brasil.

Com mais de 207 milhões de pessoas, o país tem 220 milhões de smartphones, segundo número da Fundação Getúlio Vargas. Ou seja, há mais celulares do que indivíduos no Brasil.

Fundada em Israel, um país com população comparável à da cidade de São Paulo, a Moovit viu no Brasil uma oportunidade de crescer. Primeiro, a empresa se aliou a órgãos de transporte público, fazendo alianças com prefeituras de grandes cidades, como Rio de Janeiro, Porto Alegre e São Paulo. Com isso, foi possível oferecer um ativo importante para os usuários do aplicativo: tempo.

Antes da Moovit, as pessoas precisavam esperar por um ônibus no ponto sem saber ao certo quanto tempo ele levaria para chegar. Podia ser cinco minutos ou uma hora. Quem usa o aplicativo sabe uma estimativa de quando o ônibus vai chegar, o que ajuda a planejar a hora de sair de casa para ser pontual com compromissos pessoais ou com o trabalho.

Após isso, a startup foi conquistando cada vez mais usuários. De 2015 para 2020, o salto foi de 47%, passando de 1,99 milhão para 2,93 milhões de usuários ativos semanalmente só no Brasil. Globalmente, a empresa tem 14,94 milhões de usuários ativos por semana, de acordo com dados da consultoria AppAnnie. A grande maioria, 78,5%, usa o aplicativo em smartphones com sistema operacional Android.

O Brasil foi o primeiro país onde a companhia realmente cresceu. Em 2015, o país representava 47% dos usuários ativos do aplicativo. Com o passar do tempo, a startup conquistou espaço em novos mercados, como o México, que tornou-se o principal mercado da companhia em 2020, com 28,5% dos usuários, contra os 19,6% do Brasil, que o deixam como segundo colocado.

Omar Tellez, primeiro presidente da Moovit e integrante do conselho administrativo da empresa até a sua venda para a Intel, afirma que o Brasil tem particularidades importantes para startups, como um grande entusiasmo em relação a novas tecnologias. “Apostar no mercado brasileiro é um bom caminho que poucas empresas trilharam. Isso ainda não está no manual de startups do Vale do Silício, mas há uma oportunidade para empreendedores no Brasil”, diz Tellez em entrevista à EXAME, concedida via Zoom Video Communications.

Tellez vê o momento econômico como favorável para startups internacionais lançarem operações no mercado brasileiro.

Após a venda da Moovit para a Mobileye, uma empresa de veículos autônomos que pertence à Intel, Tellez se dedica agora apenas às suas atividades na americana Niantic, a companhia responsável por jogos para celular, como Pokémon Go, Harry Potter: Wizards Unite e Ingress.

O Waze foi outra empresa de Israel que apostou no Brasil. Criado por Uri Levine, também um dos fundadores da Moovit, o aplicativo de GPS tem como objetivo não apenas mostrar rotas, mas também poupar o tempo das pessoas no trânsito. A maior parte dos mais de 100 milhões de usuários do aplicativo estão no Brasil. Por aqui, as pessoas usam o Waze para diferentes finalidades, como ir ao trabalho ou visitar amigos e voltar para casa. Segundo dados da companhia, que foi vendida ao Google em 2013, 20% dos usuários brasileiros usam o app para ir a shoppings, restaurantes ou supermercados.

Já o WhatsApp tem presença massiva em dois mercados: Brasil e Índia, países onde o aplicativo conta com 120 milhões e 400 milhões de usuários.

Para Arthur Igreja, professor da FGV especialista em tecnologia e inovação, o momento é favorável para empresas iniciantes de tecnologia apostarem no Brasil. “Não tem como a empresa ser grande no mundo sem ser grande no Brasil. O brasileiro é propenso à adoção de novos hábitos. Tanto é que aplicativos como Uber e Waze viram crescimento forte de usuários logo que entraram no Brasil. O brasileiro é muito atento à tecnologia, algo que também acontece com a população da Índia. Para ter aplicativos de tecnologia no Brasil, é preciso que eles sejam capazes de funcionar em celulares simples e com conexão de internet não muito boa. Esse é o motivo de o WhatsApp ter feito sucesso nesses mercados. Por isso, se um aplicativo funcionar aqui, funcionará em qualquer lugar”, afirma Igreja, em entrevista à EXAME.

O professor ressalta também que há dois lados nessa história. Enquanto fica mais barato para testar aplicativos tecnológicos no Brasil, o retorno que as empresas terão pode ser pequeno em razão do real fraco perante ao dólar. “O momento é favorável para startups de tecnologia entrarem no Brasil. O lado ruim é a receita. Se ela for expatriada, isso se torna um problema. A Netflix, nos Estados Unidos, cobra 15 dólares pela assinatura básica. O valor é mais do que o dobro do preço cobrado no Brasil. Nossa moeda está muito fragilizada. Com capital externo, nunca foi tão barato para uma startup entrar no Brasil. Custo de aquisição por cliente é muito mais baixo no Brasil do que nos Estados Unidos. O momento é bom para as empresas aprenderem muito gastando menos”, diz.

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