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Um passeio com o Glass

Nosso repórter foi para a balada com o Google Glass e virou o centro das atenções. Vesgo, falando sozinho e tocando obsessivamente na haste dos óculos, deu um show no mínimo esquisito

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Glass

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Jeferson de Sousa

Publicado em 24 de abril de 2015 às, 14h02.

Sabe o visor do Exterminador do Futuro, com medidor de temperatura, infravermelho, cálculo de distância e outra dezena de funções? Então, o Google Glass não tem nada disso. Mas não se decepcione (muito). Com ele é possível navegar na internet, tirar fotos, gravar vídeos, enviar e-mails, checar o tempo e se orientar pelo GPS. Igualzinho ao que já faz seu smartphone. A diferença está na cara, literalmente. 

O Google Glass está sendo saudado como o grande avanço da próxima onda tecnológica, a computação de vestir. Se você não passou o último ano em Marte, sabe que se trata de um gadget em forma de óculos com um pequeno visor acima do olho direito e um touchpad em sua haste. Pode ser comandado por voz, pelo toque e, para algumas funções, pelo movimento da cabeça ou por uma piscadela. É fascinante imaginar um futuro com acessibilidade tão simples. Sublinhe a palavra futuro. O presente é um pouco menos glamoroso.

Para começar, o Glass necessita de um smartphone como interface. Na versão Explorer, a encontrada no Brasil, esse smartphone deve utilizar o sistema Android. Ou seja, se você tem um iPhone, pode ir tirando seu iOS da chuva. Assim como qualquer aparelho com internet, o Glass precisa de conexão Wi-Fi ou 3G para receber e transmitir dados. Isso é muito bonito nos Estados Unidos, onde o Wi-Fi está por todo canto nas grandes cidades, mas tente usá-lo em São Paulo. 

Sair desfilando com um Glass faz com que você se torne alvo das atenções. Não, ele não deixa você mais bonito. Como já expliquei, os óculos tecnológicos do Google têm um visor logo acima do olho direito. Isso significa que, para ler as informações, você tem de focar os olhos no visor. E, a não ser que você tenha a habilidade de mover os globos oculares independentemente, isso o tornará um sujeito inevitavelmente vesgo. O Glass também é comandado pela voz — basta dizer “OK Glass” para acioná-lo ou “take a picture” para tirar uma foto (ele só atende comandos em inglês) — ou ainda pelo toque em sua haste direita. Então, imagine o seguinte: você vesgo, falando sozinho e tocando obsessivamente na haste. E tudo isso em público. É um espetáculo no mínimo esquisito. 

Foi esse tipo de cena que ofereci aos frequentadores do Gràcia, um badalado bar de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo, numa noite de sexta-feira. A primeira reação das pessoas que veem você chegando com cara de cyborg vesgo é um olhar assustado. A segunda é fingir que você não está ali. 

Há, claro, quem se aproxime para perguntar o que diabos é aquilo em seu olho. Edson, o chefe de bar do Gràcia, foi o primeiro a mostrar curiosidade. Ficou fascinado com as possibilidades do Glass. E, por fim, emendou: “Mas o celular também faz isso, né?”. Pois é, Edson, o celular também faz tudo isso. 

A ideia era experimentar na prática os múltiplos aplicativos do Glass, da internet ao sistema de gravação. E aí veio a primeira frustração. O ambiente, um tanto escuro (sim, baladas costumam ser escuras), impede que se façam fotos e vídeos com o Glass, já que ele não tem um corretor de luminosidade. O comando de voz também não pode ser usado corretamente, pois o excesso de barulho o confunde. O melhor é partir para a função touchpad. 

Resolvemos, então, ir para o coração da Vila Madalena, o bairro boêmio de São Paulo. Penso em ajudar o taxista usando o Google Maps. Mas há um problema de conexão com o 3G, o que torna impossível abrir o aplicativo. De qualquer forma, não seria muito útil. O fato de o Glass só atender comandos em inglês faz com que se confunda com o nome das ruas. E, por mais que você force o sotaque, feito um americano recém-chegado ao aeroporto de Cumbica, ele continuará traduzindo “rua Pedroso de Moraes” como “did rosa junior dies”.

Entramos em um tradicional bar para um chope. Mais olhares curiosos. A vantagem é que a maioria dos bares do bairro tem Wi-Fi. Wilson, um veterano vendedor de LPs na noite, senta-se e pergunta se aquilo é o tal do Google Glass. Uma coisa que você descobre ao usar o gadget: a segunda questão sempre será “quanto custa?”. E a resposta, pelo menos por enquanto, é: “Custa caro”. 

Nos Estados Unidos, o Glass sai por 1 500 dólares. E aqui? Segundo o site Go Glass Brasil, que pretende vender os óculos no país, o cálculo do preço é o seguinte: custo nos Estados Unidos + impostos de importação + impostos para a legalização comercial + lucro da empresa. No Mercado Livre, pessoas pedem entre 5 400 e 6 000 reais pelo gadget. Mas a venda oficial depende ainda de uma homologação da Anatel. Quem não quer esperar pode alugar os óculos, ao custo de 250 reais por dia. 

Na conversa com o vendedor de LPs, discordamos sobre o ano de lançamento de um disco de Roberto Carlos. Arrá! Posso colocar a tecnologia a meu favor. Vesgo e batendo na haste dos óculos, acesso o sistema de busca rapidamente e checo a informação em dois sites. Ele estava certo. 

A próxima etapa é caminhar pelas ruas lotadas da Vila Madalena e ver a reação das pessoas à tecnologia. Novos olhares curiosos, alguns ameaçam atravessar a rua, e um gaiato grita: “Go, Glass!”. Mais adiante, em uma muvuca, há mais interação. Duas garotas — Isabella e Beatriz — querem saber como funciona, se é confortável, o que faz de diferente e, é claro, quanto custa. 

As mesmas perguntas são feitas por mais dois grupinhos. Faço uma demonstração com vídeo e... a bateria acaba. Esse é outro inconveniente do Glass: ao usar o aplicativo de gravação de vídeo, sua bateria descarrega em uma velocidade impressionante (e a haste onde está o touchpad esquenta).

Sem bateria, nosso passeio chega ao fim. A constatação é que o Google Glass não é uma maravilha. Mas também não é um fracasso. Ao usá-lo, pode-se antever o futuro sensacional que vem por aí com a computação de vestir. E, na velocidade em que a tecnologia avança, em breve você terá uns óculos com painel de leitura igualzinho ao do Exterminador do Futuro. 

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