Tecnologia

Um conto de duas cidades

Nick Wingfield © 2016 New York Times News Service Vancouver, Colúmbia Britânica – Seattle, no estado americano de Washington, e Vancouver, no Canadá, são como gêmeas fraternas separadas no nascimento: ambas são cidades costeiras agitadas no noroeste do Pacífico, com populações que aceitaram o mau tempo em grande parte do ano em troca de pistas […]

VANCOUVER: estudantes caminham pelo campus da Universidade da Colúmbia Britânica, importante polo tecnológico da América do Norte / Ruth Fremson/ The New York Times

VANCOUVER: estudantes caminham pelo campus da Universidade da Colúmbia Britânica, importante polo tecnológico da América do Norte / Ruth Fremson/ The New York Times

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Da Redação

Publicado em 18 de outubro de 2016 às 14h13.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h07.

Nick Wingfield © 2016 New York Times News Service

Vancouver, Colúmbia Britânica – Seattle, no estado americano de Washington, e Vancouver, no Canadá, são como gêmeas fraternas separadas no nascimento: ambas são cidades costeiras agitadas no noroeste do Pacífico, com populações que aceitaram o mau tempo em grande parte do ano em troca de pistas de esqui próximas e caiaques, além de verões gloriosos.

No entanto, os 225 quilômetros de estradas com tráfego pesado e a fronteira internacional que as divide mantêm as duas mais distantes do que suas identidades culturais e geográficas poderiam sugerir.

Agora a elite política, acadêmica e tecnológica de ambos os lados está procurando maneiras de aproximá-las, com o objetivo de continuar o crescimento de duas das mais vibrantes economias na América do Norte.

“Vancouver tem muito mais em comum com Seattle do que com Calgary, Montreal, Toronto ou qualquer outro lugar no nosso país. Devemos aproveitar essas semelhanças culturais”, disse em entrevista Christy Clark, governadora da Colúmbia Britânica.

Não se sabe se a grande visão de um “corredor inovador Cascadia” – que ganhou seu nome das Montanhas Cascade na região – irá um dia se materializar, mas líderes dos dois lados querem que isso aconteça. Ícones de tecnologia americana como a Microsoft, com uma necessidade voraz do talento da engenharia global, estão expandindo seus escritórios de Vancouver, em parte por causa do processo mais suave de imigração do Canadá.

Por sua vez, Vancouver quer trazer mais empresas de tecnologia americanas para a cidade na esperança de produzir futuros empreendedores que vão expandir sua base pequena de empresas de tecnologia.

Um obstáculo sério para as ambições tecnológicas de Vancouver são os custos habitacionais: o preço médio de uma casa na área metropolitana em agosto era de 1,4 milhão de dólares canadenses (aproximadamente US$ 1,06 milhão), um aumento de 27,8 por cento em relação ao ano anterior, de acordo com Comissão Imobiliária da Grande Vancouver. Na área metropolitana de San Francisco, o preço médio de uma casa para uma família é de cerca de US$ 848 mil.

Porém, enquanto o salário médio anual em empregos relacionados à tecnologia é de US$ 112 mil na área da Baía de San Francisco, ele é de apenas US$ 49 mil em Vancouver, de acordo com uma análise da PayScale, empresa de compensação de dados. (Parte dessa discrepância se deve a uma queda no valor da moeda canadense em relação ao dólar americano.)

“Temos os preços de imóveis de San Francisco com os rendimentos de algo entre Reno e Nashville”, disse Andy Yan, diretor do programa urbano da Universidade Simon Fraser, em Vancouver.

Nas ruas do centro de da cidade canadense, é fácil perceber os sinais dos crescentes laços econômicos entre ela e a região de Seattle: um prédio retangular de aço e vidro com um letreiro enorme da Microsoft ocupa quase um quarteirão inteiro, localizada acima de uma grande loja da Nordstrom (outra marca de Seattle).

A Microsoft diz que investiu US$ 120 milhões em seus novos escritórios no centro de Vancouver, inaugurados em junho, e espera gastar outros US$ 90 milhões por ano em salários e custos operacionais. Ela planeja empregar cerca de 750 pessoas na cidade.

Está contratando canadenses para o escritório, mas as políticas de imigração mais flexíveis do país foram um fator importante para seu investimento, disse em entrevista o presidente Brad Smith. A Microsoft e outras empresas de tecnologia há muito tempo se queixam que o sistema educacional dos Estados Unidos não produz cientistas da computação em número suficiente, forçando-os a depender de imigrantes da Índia, da China e outros lugares.

Esses trabalhadores podem esperar cerca de três vezes mais por um visto de trabalho nos Estados Unidos do que no Canadá, segundo estimativas do Boston Consulting Group.

Em setembro, autoridades e executivos das duas cidades se reuniram em um hotel em Vancouver para discutir como permitir que pessoas, ideias e capital circulem mais livremente entre elas.

Na conferência, Christy Clark e Jay Inslee, o governador de Washington, assinaram um acordo para aprofundar os laços entre Vancouver e Seattle, incluindo mais colaboração em pesquisas entre a Universidade da Colúmbia Britânica e a Universidade de Washington. Bill Gates, co-fundador da Microsoft, e Satya Nadella, seu atual diretor-executivo, falaram sobre globalização e educação.

Uma proposta para lidar com o tráfego entre Vancouver e Seattle foi a criação de uma ferrovia de alta velocidade que transportaria os viajantes a mais de 320 km/h entre as cidades, em 57 minutos (pode levar quatro horas ou mais de carro). Os detalhes sobre o financiamento do projeto – que poderia custar por volta de US$ 30 bilhões ou mais – não foram elaborados.

Um grupo de Seattle propôs uma alternativa mais barata: uma faixa exclusiva para veículos autônomos na Interestadual 5, estrada que liga Seattle à fronteira canadense. O plano – que se baseia em veículos autônomos que ainda precisam de muito desenvolvimento – não iria diminuir muito o tempo do trajeto, mas poderia deixá-lo menos entediante, permitindo que os viajantes trabalhem ou assistam a um filme, disse Tom Alberg, diretor da Madrona Venture Group, firma de capital de risco de Seattle e um dos autores da proposta.

Com raízes na indústria madeira e de transportes, a economia de Vancouver se diversificou nas últimas décadas com o crescimento da produção do cinema e do videogame. A cidade diz ter um “unicórnio” – startup avaliada em mais US$ 1 bilhão –, a Hootsuite, que faz ferramentas para a mídia social.

Mas Vancouver continua a ser pequena em termos tecnológicos, com aproximadamente US$ 1,78 bilhão em capital de risco chegando às novas empresas de tecnologia locais na última década, em comparação com aproximadamente US$ 8,9 bilhões em Seattle, segundo estimativas da Pitchbook.

Mesmo assim, o boom tecnológico esperado na cidade pode enfrentar problemas caso não consiga resolver seus problemas de custo de vida, que, de acordo com alguns padrões, são mais agudos do que os que assolam outras cidades prósperas. Vancouver se classificou em terceiro lugar no ranking de cidades com o maior custo de vida no mundo, depois de Hong Kong e Sydney, em um estudo publicado neste ano pela empresa de consultoria Demographia.

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