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Sem subsídios, biodiesel se resume a projeto social

Para especialista, em vez de buscar a adoção ampla como combustível, programa do biodiesel deve focalizar o fornecimento de insumos para a indústria oleoquímica

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 12h44.

Ao que tudo indica, o biodiesel nunca chegará a ser produzido em escala industrial no Brasil, nem participará de forma relevante da matriz de combustíveis no país. Segundo Osvaldo Stella Martins, do Centro Nacional de Referência em Biomassa da Universidade de São Paulo (Cenbio-USP), imaginando-se um cenário com utilização exclusiva do óleo de mamona para fornecer a mistura com o diesel, seria necessário ampliar em 1 300% o cultivo da oleaginosa.

Para uma parte dos especialistas participantes do Seminário Franco-brasileiro sobre Biodiesel, realizado nesta segunda-feira (4/7) no Instituto de Engenharia de São Paulo, o programa de biodiesel pode acabar revelando-se útil apenas como indutor de projetos sociais de desenvolvimento comunitário. É o que faz a Cirad, um instituto francês de pesquisa agronômica voltado a países em desenvolvimento, com 170 milhões de euros de orçamento anual. "Desenvolvemos motores diferentes para cada tipo de planta tropical", diz Patrick Rousset, representante do instituto francês. "É difícil obter uma motorização única para todos os tipo de óleo."

O governo brasileiro autorizou a mistura de 2% de diesel vegetal em cada litro de diesel fóssil desde 1º de janeiro deste ano. Nas contas oficiais, isso implicaria na necessidade de produção de 800 milhões a 1 bilhão de litros de biodiesel por ano. Segundo Martins, a produção atual não passa de 49 milhões de litros a partir da soja plantada nas regiões Centro-oeste e Sul, mais 108 mil litros no Nordeste, com mamona, e 100 mil no Norte, com óleo de palma.

Tomando-se um cenário alternativo, em que a soja seria responsável por toda geração de biodiesel necessária, a produção precisaria ser ampliada em 8%. "Isso seria possível no curto prazo", diz Martins, "mas o problema é que a diretriz do governo federal é que o programa de biodiesel priorize a geração de empregos, e a cultura da soja é agronegócio extremamente mecanizado."

Viabilidade

O problema maior, porém, é a barreira dos preços. Um litro de biodiesel extraído da mamona custa de 1,46 a 2,40 reais (veja tabela abaixo), enquanto um litro de diesel custa pouco mais de 1 real. A menos que o barril de petróleo alcance cotações astronômicas, a única forma de viabilizar o programa de biodiesel é com subsídio. "É preciso considerar que o gasto com subsídio valeu a pena no caso do Proálcool [programa oficial de incentivo à produção de álcool combustível, lançado na década de 70]", afirma Martins. Na avaliação do pesquisador, é preciso que o governo federal pondere se os benefícios estratégicos do programa compensam os dispêndios. Atualmente cerca de 20% do óleo diesel consumido no Brasil é importado, gerando despesas da ordem de 1,5 bilhão de dólares anuais (dados de 2004).

Para o especialista, porém, pode acabar se revelando mais vantajoso direcionar o biodiesel para a geração elétrica descentralizada no região Norte e para a indústria oleoquímica. "Está sendo instalada no Brasil uma fábrica de detergentes biodegradáveis a partir de óleo de palmiste. O problema é que as 100 mil toneladas de óleo necessárias por ano terão de ser importadas, porque não há plantio local", afirma Martins. "Talvez seja mais vantajoso para o Brasil adotar um prudente gradualismo e começar tornando-se capaz de fornecer as matérias-primas necessárias para suas indústrias, simplesmente isso."

Preço do litro de diesel
CBIE*
Conab**
Comum
US$ 0,40
R$ 1,03
Mamona
US$ 1
R$ 1,46
Girassol
-
R$ 1,36
Soja
US$ 0,50
R$ 1,31
*Centro Brasileiro de Infra-estrutura
**Companhia Nacional de Abastecimento
Fonte: Cenbio-USP
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