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Por que a geração Z não gosta de cenas de sexo em filmes e séries?

Estudo da UCLA revela que quase 50% dos jovens americanos acham que relações sexuais não são necessárias em certas produções

'The Idol', série da HBO com Lily-Rose Depp e The Weeknd, foi criticada pelas cenas picantes (HBO/Reprodução)
Laura Pancini

Repórter

Publicado em 9 de novembro de 2023 às 15h50.

Última atualização em 9 de novembro de 2023 às 18h42.

É um sábado à noite, e o novo seriado de sucesso da Netflix é merecedor de maratona. O clima é de tranquilidade até que a imagem na tela troca para dois personagens se entrelaçando em uma cena picante. O rosto de quem assiste começa a ficar quente e ele percebe que a maçaneta da porta começa a se mexer.

Não há nada mais vergonhoso do que ser pego assistindo a uma cena de sexo, mas quem entra na sala tem mais vergonha do que o espectador. Ele é da geração Z – um jovem que, em 2023, tem entre 15 e 28 anos – e está enojado com a visão de dois atores usando roupas íntimas na cor da pele. Talvez até mais que seus pais ficariam. Um estudo recente da UCLA mostra que 47,5% dos adolescentes afirmaram que o sexo não é necessário na trama da maioria dos programas de TV e filmes.

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Os resultados indicam um retrocesso na relação que adolescentes têm com sexo. O motivo não é só o desconforto na hora de assistir: o atraso social por conta da pandemia e o uso predominante de redes sociais são alguns dos pontos principais para explicar esse desconforto com cenas picantes.Para a psicóloga Larissa Fonseca, a falta de experiência pode ser explicada por um termo científico: neuroplasticidade cerebral. “A partir do momento que vivenciamos algo, mudamos nosso cérebro”, resume. Ou seja, o distanciamento que jovens vêm sentindo ao assistir cenas de sexo pode ser fruto da falta de experiência.

Dados de outro estudo da UCLA corroboram a fala da psicóloga. Divulgada em 2021, a pesquisa mostrou que a geração Z está tendo menos relações sexuais do que as gerações de seus pais. Em 2011, cerca de 22% dos entrevistados com idades entre 18 e 30 anos relataram não ter tido parceiros sexuais no ano anterior. Esse número subiu para 29% em 2019 e saltou para 38% em 2021.

“Buscamos o sexo por ser uma sensação que já sentimos e sabemos que é boa. Se não reconhecemos ela como prazerosa, então não damos importância”, resume a sexóloga Tamara Wall Zanotelli, que ressalta o impacto dos quase três anos de isolamento social. “No caso da geração Z, o online tomou uma proporção muito maior bem nos anos em que eles estariam engatinhando para relacionamentos mais profundos”.

A pesquisa foi feita através da plataforma de coleta de dados Alchemer, e sua amostra final incluiu 1,5 mil adolescentes entre 10 e 24 anos, sendo quase metade (46,7%) entre 18 e 24 anos.

Rachel Sennott, Lily-Rose Depp e Troye Sivan em "The Idol", da HBO (Warner Media / HBO Max/Divulgação)

O lado Z da história

Quem é da geração Z, porém, também carrega críticas sobre as decisões feitas por quem cria o conteúdo. “Quem decide o que vai ao ar muitas vezes é de uma geração mais velha, vendendo para a Z. É uma falha de comunicação ”, opina Luiza Tutu, criadora de conteúdo do TikTok com mais de 1 milhão de seguidores.

Para a jovem de 20 anos, o descontentamento da geração Z com cenas de sexo começou a surgir nas redes sociais com o lançamento da série “The Idol”, da HBO. Cancelada após uma temporada, a série mostrava a vida luxuosa, mas solitária, da artista Jocelyn (Lily-Rose Depp), e o que acontece após ela se apaixonar pelo misterioso Tedros (“The Weeknd”).

Na tentativa de vender o luxo e o sexo de Hollywood, os episódios acabaram focando demais em cenas da filha de Johnny Depp nua ou performando de forma erotizada. No geral, questionava-se a necessidade de ter a atriz seminua – e também o por quê o diretor e criador da série, Sam Levinson, estaria repetindo a fórmula sexualizada de “Euphoria”, também da HBO.

Portanto, vale ressaltar que a falta de prática é só um dos motivos que podem explicar o distanciamento da geração Z com cenas de sexo. “A nossa geração [Z] está cansada de ver o corpo da mulher numa cena de forma apelativa ou objetificadora”, disse a jovem.No estudo, uma frase destacada da cantora americana Olivia Rodrigo resume o sentimento geracional: “Lembro de sair da sessão de Barbie e pensar: ‘uau, faz tanto tempo que não vejo um filme sobre mulheres que não seja sobre suas dores ou ser traumatizada’”.

Para a jovem estudante, uma grandes parte das cenas de sexo é necessária para a construção de narrativas. Algumas, porém, podem ser bem apelativas, e é aí que permanece a crítica. “Às vezes, a gente só quer assistir uma série sobre amizades. Valorizamos mais relações interpessoais, ou que não sejam românticas”, comenta Tutu. A pesquisa da UCLA também indica que 44,3% dos entrevistados consideram que o romance na mídia é usado em demasia, e 51,5% expressaram desejo por mais conteúdo centrado em amizades e relacionamentos platônicos.

Já Fonseca adverte que quem rejeita cenas de sexo por completo pode estar aumentando o risco de ansiedade, problemas sexuais e uma aversão maior às relações reais. “A vergonha vem porque a cena desperta nosso interesse, mas com a idade percebemos que o desejo é natural”, disse.

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