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Da Redação
Publicado em 28 de março de 2013 às 19h21.
Sessenta anos depois da descoberta da vacina contra a poliomielite, a doença está a ponto de ser erradicada no mundo, embora persistam desafios pela falta de recursos e a violência de grupos islâmicos em Paquistão e Nigéria, onde continua sendo endêmica.
"O mundo nunca esteve tão perto de erradicar a poliomielite. Atualmente temos a menor quantidade de casos e países afetados" registrados, disse à AFP Oliver Rosenbauer, porta-voz do programa de erradicação da doença na Organização Mundial da Saúde (OMS).
Em 2012 foram registradas apenas 223 infecções contra 360.000 em 1988, quando a ONU lançou uma campanha para erradicar a doença, altamente contagiosa, e que afeta sobretudo crianças de pouca idade, entre as quais muitas ficam paraplégicas e entre 5% e 10% morrem.
O fato de a Índia ter conseguido eliminar o vírus da pólio há dois anos demonstra "que uma erradicação é tecnicamente possível", destacou Rosenbauer.
Se não se consegue eliminar completamente este vírus, a quantidade de infectados poderia aumentar na razão de 200.000 novos casos anuais na próxima década, advertiu o especialista, destacando a ameaça que representa a violência contra as campanhas de vacinação nos últimos redutos da doença.
Na Nigéria e no Paquistão, as autoridades afirmam que a vacina contém carne de porco, que tem seu consumo proibido pelo Islã, ou de tornar estéreis aqueles que a recebem, alimentando boatos sobre um complô ocidental para impedir a reprodução dos muçulmanos.
Vários ataques contra equipes médicas de vacinação ou centros de saúde deixaram dezenas de mortos nos últimos anos, principalmente em áreas isoladas desses países.
Somado a estas suspeitas, a agência de inteligência americana CIA é acusada no Paquistão de ter realizado falsas campanhas de vacinação no país para obter amostras de DNA da população e encontrar, desta forma, o paradeiro de Osama bin Laden, ex-líder da Al Qaeda, morto em maio de 2011 por um comando americano em Abbottabad.
"Não resta dúvida de que grupos que combatem a vacinação representam um desafio para a erradicação" da doença, afirmou a médica Carol Pandak, responsável pelo programa de combate à doença no Rotary Internacional, organização de caridade americana muito ativa no combate à pólio.
Para enfrentar estas hostilidades, a OMS lançou campanhas de informação e sensibilização entre os principais líderes religiosos e de governo dos países envolvidos, explicou esta pediatra em entrevista à AFP, destacando na Nigéria uma forte mobilização em nível presidencial.
"O objetivo é comunicar em nível local com os líderes religiosos e as autoridades tradicionais para informá-las das vantagens da vacinação e também escutar quais são seus temores", acrescentou.
Mas além deste problema vinculado à violência, "o financiamento das campanhas de erradicação também representa um desafio", insistiu Pandak.
Segundo ela, faltam 660 milhões de dólares para financiá-las, isto é, mais da metade do orçamento anual previsto, de cerca de 1 bilhão de dólares, ao qual contribuem sobretudo países do G8, a Fundação Bill e Melinda Gates e o Rotary Internacional.
A erradicação da poliomielite abriria o caminho para a eliminação de outras doenças, como o sarampo, afirmou Wlater Orenstein, presidente do grupo de especialistas independentes da OMS sobre erradicação da pólio.
A campanha mundial contra esta doença "permitiu implementar uma rede muito sofisticada de laboratórios e um conhecimento para atacar doenças adicionais", explicou à AFP.
A vacina contra a poliomielite foi descoberta pelo americano Jonas Salk. Em 26 de março de 1953, ele divulgou um primeiro teste clínico bem sucedido em alguns voluntários, entre os quais estavam ele mesmo, seus três filhos e sua esposa.
Em 1955, a vacina foi oficialmente declarada segura e eficaz.