Para Melinda Gates, aplicativos não resolvem todos os problemas
Melinda e Bill Gates apoiam o projeto da startup Nimarai, que tem um software capaz de combater a oncocercose, uma doença tropical que causa cegueira
Maria Eduarda Cury
Publicado em 17 de abril de 2019 às 10h58.
Última atualização em 18 de abril de 2019 às 17h51.
São Paulo – Em uma recente entrevista ao jornal americano The New York Times , Melinda Gates, vice-presidente da organização filantrópica Bill e Melinda Gates e bacharel em ciência da computação , afirmou que uma das coisas que a incomodam no mundo da tecnologia é a ideia de que os aplicativos podem ser a solução para todos os problemas da sociedade.
“Mesmo quando se trata dos problemas sobre os quais Bill e eu costumamos falar, às vezes o mundo da tecnologia pensa que a solução é dar um aplicativo a cada pessoa. Bem, isto não vai mudar tudo”, disse ela, acrescentando que gostaria de ver mais inovações sendo criadas para resolver os grandes problemas sociais do mundo. “[É muito comum ouvir pessoas dizendo:] ‘Vamos criar a próxima grande tecnologia que rastreia o meu cachorro’. Isso é divertido e legal, mas, poxa, as pessoas estão morrendo.”
A Fundação Bill e Melinda Gates é mundialmente reconhecida por suas ações de caridade, especialmente na área da saúde pública. Na entrevista ao New York Times, Melinda Gates demonstra ter opiniões fortes sobre como a tecnologia tem sido utilizada para realizar melhorias na sociedade. Em sua opinião, aplicativos desenvolvidos por pessoas milionárias para uso individual são úteis – mas dois ou três são realmente necessários.
Recentemente, ela e o marido e parceiro de trabalho, Bill Gates, apoiaram um projeto da startup Nimarai, que desenvolve um software de inteligência artificial capaz de combater a oncocercose, uma doença tropical que causa cegueira e uma certa perda dos movimentos. Na África, cerca de 17 milhões de pessoas são afetadas pela enfermidade, que se propaga por meio de picadas de moscas negras.
O software desenvolvido pela startup Nimarai será capaz de atuar de forma não-invasiva para detectar as lesmas adultas presentes no organismo do infectado.
Além de apoiar projetos como esse, a Fundação tem outras iniciativas. Melinda Gates, por exemplo, vem reforçando a importância de se desenvolver um mapa virtual com os principais locais de contaminação de malária, a fim de desacelerar a propagação da doença.
“Cabe às empresas e aos governos superarem o medo e o otimismo ingênuo e serem práticos. Em vez de imaginar e esperar qual será o impacto da mudança tecnológica, eles podem guiá-lo”, disse a cientista da computação em uma artigo publicado no site da emissora CNN, no ano passado.
Melinda considera que o primeiro passo para mudar o mundo é colocar a tecnologia nas mãos dos bilhões de pessoas ao redor do mundo que não a possuem. Ao mesmo tempo, para ela, é preciso reduzir os preços dos celulares, que hoje são inviáveis para a população mais carente. “A tecnologia digital não ajudará a combater a pobreza se o seu mercado ajudar a empurrar as pessoas para a pobreza.”