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Oferta da Fiat de fabricar carros com Apple não é tão maluca

Em busca de um parceiro com o qual se combinar, o CEO da Fiat Chrysler acaba de dizer que está aberto a uma aliança com a Apple

Sergio Marchionne, CEO da Fiat: “sempre me intrigou a possibilidade de surgirem inovadores tecnológicos no mercado e mudarem o paradigma” (Rebecca Cook/Files/Reuters)
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Da Redação

Publicado em 30 de abril de 2015 às 20h53.

Em busca de um parceiro com o qual se combinar, o CEO da Fiat Chrysler acaba de dizer que está aberto a uma aliança com a Apple .

“Sempre me intrigou a possibilidade de surgirem inovadores tecnológicos no mercado e mudarem o paradigma”, disse Sergio Marchionne a analistas, na quarta-feira, em meio a um discurso para explicar por que a indústria automotiva deve se consolidar.

“Se eles surgirem e forem realmente bem-sucedidos, com a montanha de dinheiro e o know-how que eles têm, podem fazer estragos no setor”.

Ao responder se estaria disposto a levar sua proposta à Apple ou à Google em caso de rejeição de outras fabricantes de veículos, Marchionne disse que era possível. “Eu acho que, de qualquer forma, deveríamos incentivar esse diálogo”.

Os comentários de Marchionne ressaltam as possíveis mudanças em curso nos setores automotivo e tecnológico em um momento em que ambos se tornam cada vez mais interligados, podendo abrir novas portas a players e relacionamentos incomuns. A ideia de uma aliança com a Apple não é tão absurda quanto pode parecer. Eis o porquê:

Carro da Apple?

A Apple vem estudando o desenvolvimento de seu próprio carro elétrico, pressionando seus engenheiros a iniciarem a produção já em 2020, embora a empresa possa deixar esses esforços de lado ou atrasar os planos se os executivos ficarem insatisfeitos com o progresso, disseram fontes familiarizadas com a tentativa, no início do ano.

O CEO da Apple, Tim Cook, está levando a fabricante de iPhones e iPads a ingressar em novas categorias de produtos para envolver mais as vidas digitais dos usuários com o mundo da Apple.

Já são amigos

A Fiat, de Marchionne, já tem um relacionamento com a Apple. Eddy Cue, diretor de software e serviços para a internet da empresa de tecnologia, está no conselho da Ferrari SpA desde 2012.

O diretor financeiro da Apple, Luca Maestri, passou vários anos na General Motors e era, inclusive, o executivo que estava no comando do relacionamento da fabricante de automóveis americana com a Fiat, entre 2000 e 2005.

Os investidores podem estar no clima

Os investidores recomendaram a Cook, na reunião anual de acionistas da Apple, em março, que ele estudasse um casamento com outra fabricante de automóveis, a Tesla Motors Inc.

O CEO se esquivou do assunto, dizendo que esperava que a Tesla, empresa com sede em Palo Alto, Califórnia, utilizasse o sistema de informação e entretenimento de bordo da Apple.

O otimismo em relação aos produtos da Apple para o futuro levou as ações da empresa a altas recordes neste ano. A Apple encerrou o trimestre de março com US$ 194 bilhões em caixa e títulos. A empresa, com sede em Cupertino, Califórnia, não tinha comentários imediatos a fazer a respeito das declarações de Marchionne.

Um acordo como esse ainda seria improvável

A Apple, que tem se esquivado de grandes aquisições, ainda está digerindo a compra da Beats Electronics LLC ocorrida no ano passado, por US$ 3 bilhões, que foi uma tentativa de aumentar a divisão de streaming de música da empresa.

A Apple também deixou de fabricar seus próprios produtos, recorrendo a empresas terceirizadas asiáticas de baixo custo para produzir seus iPhones, por exemplo. Possuir uma fabricante de carros global não se encaixa nessa estratégia.

É possível que a Apple Inc. já conte com muitas vantagens em relação às outras empresas do Vale do Silício para se tornar uma fabricante internacional de carros. A empresa de tecnologia com sede em Cupertino, Califórnia, designou algumas centenas de funcionários para trabalhar em um projeto secreto para desenvolver um automóvel elétrico, disse uma pessoa com conhecimento do assunto.  Embora a Apple costume testar ideias que acabam não sendo lançadas, o trabalho destaca o antigo desejo da empresa de ter um papel maior no espaço automotivo, que está maduro para mais fusões com a vida digital dos usuários. “Faz muito sentido”, disse Gene Munster, analista da Piper Jaffray Cos., em entrevista no sábado. “Se você tivesse dito há 10 anos que a Apple entraria no setor automobilístico, diriam que você estava louco – porque seria uma loucura --. Hoje ela é uma empresa muito diferente, capaz de lidar com esses enormes mercados de interesse”. A Apple, com uma capitalização de mercado de mais de US$ 700 bilhões, precisa continuar aumentando as vendas de iPhone, sua maior fonte de receita, e se expandir para novos mercados, como os automóveis, para atingir a cotação de US$ 1 trilhão, disse Munster. Ele acrescentou que não acha que a Apple vá lançar um carro nos próximos cinco anos. Contudo, a Apple possui algumas vantagens em comparação com outras companhias do Vale do Silício que também têm a ambição de entrar no mercado automobilístico. A Tesla Motors Inc., que fornece menos de 10.000 veículos por trimestre, pegou os investidores de surpresa no mês passado quando o CEO Elon Musk disse que a companhia não será lucrativa até 2020. Veja alguns pontos fortes da Apple como possível fabricante de carros.
  • 2. US$ 178 bilhões

    2 /6(.)

  • Veja também

    O setor automotivo gasta dinheiro a um ritmo impressionante. E acontece que a Apple acumulou quase US$ 180 bilhões em dinheiro. Como Musk disse na semana passada, a Apple está "ficando sem ideia de como gastar dinheiro. Eles gastam perdulariamente e, mesmo assim, não conseguem gastar o suficiente”. Embora a antiga regra de ouro dite que desenvolver um carro novo custa cerca de US$ 1 bilhão, esses custos agora estão sendo dissipados entre mais veículos, pois os fabricantes tradicionais estão trabalhando para utilizar as plataformas dos veículos para mais modelos, disse Dave Sullivan, analista do setor automotivo na AutoPacific.  Esse seria um desafio para a Apple, pois ela não tem experiência na construção de carros, embora Thilo Koslowski, vice-presidente e líder de prática automotiva na Gartner, tenha dito que eles poderiam adquirir essas habilidades de produção.
  • 3. O melhor aparelho móvel

    3 /6(Adrees Latif/Reuters)

  • A Apple fez sua fortuna criando produtos que têm um design atraente e integram o software de modo a mergulhar a vida dos usuários mais profundamente no mundo da Apple, deixando-os mais dependentes das versões seguintes.  E ela já tem uma tecnologia compatível com carros – o software de mapeamento, por exemplo – pronta para usar. “O carro é uma das peças mais importantes e essenciais do quebra-cabeça que é preciso dominar para interagir com os clientes onde quer que eles estejam”, disse Koslowski. “É muito importante ter um telefone que seja conectado, que possa lhe mostrar seu calendário e fazer várias outras coisas, mas agora, estendendo-o a esse outro aparelho que tem quatro rodas”.
  • 4. Fanáticos por carros?

    4 /6(Dimas Ardian/Bloomberg)

    O setor automobilístico parece simples para os de fora, e alguns acham que podem se sair melhor do que Detroit, que gastou uma geração escorregando rumo a recuperações de falência antes de ressurgir com novos lucros. Mas a indústria automotiva moderna tem um histórico heterogêneo em relação ao desempenho dos forasteiros. Para cada Alan Mulally, que saltou da Boeing Co. para comandar o ressurgimento da Ford Motor Co., há um Bob Nardelli, o ex-executivo da General Electric Co. e CEO da Home Depot Inc., que esteve à frente da Chrysler durante a falência da companhia.  Até o momento, a Tesla está tendo sucesso, ao passo que a Fisker Automotive, outra empresa de alto perfil de carros elétricos, liquidou seus ativos em uma recuperação judicial. A Apple, por sua vez, possui uma combinação exclusiva de executivos com experiência em tecnologia e automóveis. A companhia há muito vem contratando engenheiros do espaço automotivo, frequentemente com experiência em gestão da cadeia de fornecimento, tecnologia de baterias e experiência do usuário. Luca Maestri, o diretor financeiro da Apple, passou 20 anos na General Motors , em áreas como finanças e operações. Eddy Cue, o influente vice-presidente sênior de software de internet, é fanático por carros e faz parte do conselho da Ferrari . Steve Zadesky, vice-presidente do design de produto do iPhone, está à frente da iniciativa automobilística da Apple e trabalhou na Ford no início da carreira. Marc Newson, designer industrial bem conceituado que entrou na equipe secreta de design da Apple no ano passado, confeccionou um carro-conceito de alto padrão para a Ford em 1999.
  • 5. Rede varejista

    5 /6(Marcelo Camargo/ABr)

    Um dos pontos fortes — e fracos — das fabricantes de automóveis tradicionais tem sido as redes de concessionárias . É difícil abrir lojas ao redor do mundo com a velocidade necessária para obter a escala exigida para vender carros.  Nos EUA, há também outras complexidades, como leis estaduais de franquias que proíbem que os fabricantes vendam diretamente aos consumidores. A Apple, é claro, já possui uma rede varejista gigantesca através de centenas de lojas no mundo inteiro, do Brasil e da Suécia até a Turquia.
  • 6. Apple é global

    6 /6(Getty Images)

    O setor automobilístico possui uma complexidade global como poucos, com questões regulatórias, de marketing e logísticas que podem derrubar a qualquer momento empresas que utilizam capital intensamente. A Apple, que cria seus produtos na Califórnia, mas depende de terceiros para montá-los, principalmente, na Ásia, está acostumada a administrar uma rede de fornecimento pontual ao redor do mundo — algo que o Google Inc. não faz em suas atividades cotidianas de pesquisa na internet — e a lidar com as complexidades das variações cambiais nos mercados internacionais.  O CEO Tim Cook ficou conhecido na Apple por sua habilidade para lidar com essas operações globais. “Essa seria uma enorme vantagem caso eles decidam fabricar carros”, disse Tim Bajarin, presidente da Creative Strategies. Ele disse que continua achando que a Apple não quer de fato vender carros, mas quer simplesmente se aprofundar na criação de sistemas operacionais para as fabricantes de automóveis. “Fabricar carros não é um dos domínios da Apple”, disse Bajarin. “É mais provável que eles estejam tentando criar uma experiência eletrônica mais rica e envolvente, vinculada com o iOS, em que não apenas o sistema de áudio, mas a informação e, possivelmente, novos níveis de segurança, através de sensores e câmeras, fariam parte do que a Apple pode oferecer a outros fabricantes de veículos”. A Apple poderia estar criando conceitos ou referências de design para integrar a tecnologia para apresentar às fabricantes de automóveis, disse ele.
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