Jensen Huang: CEO da Nvidia (ANTHONY WALLACE / Colaborador/Getty Images)
Repórter
Publicado em 4 de dezembro de 2025 às 09h25.
Última atualização em 4 de dezembro de 2025 às 09h27.
Nvidia, líder global em chips gráficos e uma das maiores empresas de tecnologia do mundo, está diante de um dilema raro: tem dinheiro demais. Ao final de outubro, a empresa acumulava US$ 60,6 bilhões em caixa e investimentos de curto prazo, e analistas preveem que, nos próximos três anos, esse número pode saltar para US$ 576 bilhões em fluxo de caixa livre.
É o que se poderia chamar de um “problema de caixa” que [fortalece a Nvidia, mas exige decisões difíceis]. Afinal, como investir tantos bilhões sem comprometer a posição competitiva da companhia, e sem acionar os alarmes de órgãos reguladores?
A resposta mais recente da empresa tem sido evitar aquisições diretas e apostar em uma estratégia de investimentos estratégicos minoritários, com foco em parceiros relevantes no ecossistema de inteligência artificial.
Nesta semana, a Nvidia anunciou que comprará uma participação de US$ 2 bilhões na Synopsys, empresa americana especializada em design de chips. Além disso, se comprometeu com um investimento de US$ 1 bilhão na Nokia, US$ 5 bilhões na Intel e um aporte robusto de US$ 10 bilhões na Anthropic, startup de IA concorrente da OpenAI. Somados, os quatro investimentos representam US$ 18 bilhões em compromissos recentes.
Fora isso, a empresa avalia entrar em um novo nível de relação com a criadora do ChatGPT. Segundo a CFO da Nvidia, Colette Kress, a companhia estuda investir até US$ 100 bilhões em ações da OpenAI, ao longo de vários anos. A negociação, no entanto, ainda está em fase preliminar e não há um acordo fechado.
A escolha por participações estratégicas não é casual. Desde que fracassou a tentativa de comprar a designer britânica de chips Arm, em 2020, por US$ 40 bilhões, a Nvidia adotou uma postura mais cautelosa com aquisições bilionárias. A operação foi barrada por reguladores dos Estados Unidos e do Reino Unido por riscos à concorrência, levando a empresa a desistir do negócio.
De lá para cá, a Nvidia passou a investir de forma ativa em startups e empresas privadas. Segundo um documento corporativo divulgado em outubro, a companhia já havia aportado US$ 8,2 bilhões em empresas privadas antes mesmo dos anúncios mais recentes. Essas participações funcionam, na prática, como um substituto às fusões e aquisições.
"Nenhuma empresa cresceu na escala de que estamos falando", disse o CEO Jensen Huang em uma teleconferência com investidores. O executivo defende que o objetivo da empresa é expandir o ecossistema de IA baseado em seus produtos, especialmente o Cuda, o software da Nvidia usado para treinar e operar modelos de inteligência artificial.
A Nvidia não está apenas investindo em parceiros externos. A empresa também tem retornado parte de seu caixa aos acionistas. Em agosto, seu conselho autorizou US$ 60 bilhões para um novo programa de recompra de ações, e nos três primeiros trimestres de 2024 já foram gastos US$ 37 bilhões com recompras e dividendos.
Apesar disso, analistas do mercado financeiro gostariam de ver ainda mais dinheiro sendo devolvido aos investidores. Segundo Ben Reitzes, analista da Melius Research, com uma geração de caixa projetada acima de US$ 600 bilhões nos próximos anos, a Nvidia teria margem para recompras ainda maiores, sem comprometer seus investimentos em inovação.
Mas o foco declarado da empresa vai além da valorização das ações. Huang afirma que o balanço patrimonial sólido ajuda a garantir pedidos futuros junto a fabricantes como Foxconn e Dell, que precisam de capital de giro para expandir linhas de montagem e capacidade de entrega. "É preciso um balanço realmente sólido para sustentar o nível de crescimento, a taxa de crescimento e a magnitude associada a ele", afirmou o CEO.
Mesmo sem exigir cláusulas formais, a Nvidia espera que os aportes feitos gerem retorno indireto com o aumento do uso de seus chips. "Todos os investimentos que fizemos até agora — todos eles, ponto final — estão associados à expansão do alcance do Cuda, à expansão do ecossistema", declarou Huang.
Com a transformação da empresa, de fabricante de placas gráficas para games à maior fornecedora de infraestrutura para IA do mundo, a Nvidia criou um tipo raro de vantagem: um ciclo de investimento que alimenta ainda mais sua própria demanda. Se a OpenAI ou a Anthropic crescerem, precisarão de mais chips — e, inevitavelmente, da Nvidia.