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O iPhone não está mais sozinho

Com o avanço dos concorrentes, ainda vale pagar o que o iPhone custa?

iPhone 4 microfone (Divulgação/Apple)

iPhone 4 microfone (Divulgação/Apple)

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Da Redação

Publicado em 12 de novembro de 2010 às 19h03.

Madrugada de sexta-feira, 17 de Setembro, 14 graus em São Paulo. Dentro de um shopping center, vê-se uma cena bizarra: uma longa fila, com direito a espera num desconfortável piso de mármore. Não se trata de uma megaliquidação, muito menos do show da banda adolescente da vez. Eles estavam ali para esperar o início das vendas do iPhone 4 no Brasil — por preços entre 500 e 2 100 reais, dependendo do plano e do modelo. Nem mesmo o alardeado bug da antena do novo iPhone (e seu bumper corretivo, que não é dado de graça aos brasileiros) desestimularam os interessados. Por ali, ninguém falava em defeitos

“Fui direto do meu trabalho para a loja da operadora e comprei dois aparelhos, um para mim e outro para a minha mulher”, conta Bruno Perlato, analista de sistemas. Ele aposentou seu Nokia E71 para fazer videoconferência e navegar mais na web.

A cena não foi uma exclusividade dos brasileiros. Ela se repetiu mundo afora, na frente de várias unidades da Apple Store. Como já virou rotina desde a aparição do primeiro aparelho, em 2007, as novas versões do smartphone costumam despertar duas corridas: uma dos fãs ávidos para comprar o aparelho no primeiro minuto possível, e outra das fabricantes concorrentes, ansiosas para superar os recursos do iPhone.

De acordo com números do Gartner, já são mais de 4 milhões de unidades de iPhone vendidas em 2010 no mundo, e a nova versão do gadget ainda nem chegou ao mercado chinês. No Brasil, Claro, Vivo, Oi e TIM afirmaram à INFO que a procura inicial pelo iPhone 4 superou as expectativas e que novos lotes de aparelhos foram encomendados.

“No lançamento do primeiro iPhone, os smartphones ainda eram muito associados ao público corporativo. Isso mudou com o iPhone 4. De lá para cá, esse segmento cresceu mais de 200%”, afirma Fiamma Zarife, diretora de serviços de valor agregado da Claro.

 


Quando o assunto é a concorrência, a história é diferente. A estratosférica vantagem técnica que o iPhone tinha em relação aos rivais em 2007 não é mais unanimidade. Ainda vale a pena pagar tanto pelo smartphone da Apple? Ele é melhor para acessar a web e as redes sociais? Sua interface continua sendo a mais prática e bonita? As respostas para essas perguntas moram em vários aparelhos rivais, que foram aprimorando suas interfaces touchscreen ao longo do tempo e isolando os trunfos do iPhone. Cada um, a seu modo, se equivale ou até supera o smartphone da Apple em algum quesito, como você poderá conferir nas páginas de testes a seguir.

Entre os motivos dessa evolução dos rivais estão a altíssima concorrência de pelo menos sete grandes fabricantes e o crescente interesse das operadoras em ganhar dinheiro vendendo planos de dados. Essa disputa promoveu um boom dos smartphones, que podem ser comprados com pagamento parcelado, subsídios cada vez maiores e planos 3G mais acessíveis. “Os smartphones já representam 19% do total das vendas mundiais de telefones e, até 2014, deverão chegar aos 40%”, diz Anshul Gupta, analista do Gartner. “Prevemos que a partir de 2012 apareçam aparelhos com preços inferiores aos 75 dólares, o que vai acelerar ainda mais o crescimento”, diz Gupta. Um dos indícios dessa tendência de queda de preços foi o anúncio do smartphone IDEOS, da chinesa Huawei, durante a feira IFA, em Berlim, no mês passado. Sua pegada está justamente no fato de ser considerado um Android popular. Com preço previsto entre 150 e 200 dólares, ele trará recursos como GPS, Wi-Fi n e capacidade para se transformar num hotspot 3G. Mas ainda não há data definida para chegar ao Brasil.

De fato, os aparelhos capazes de rodar aplicativos variados e de navegar pela web via 3G saíram do bolso dos executivos para se transformar em um tangível objeto de compra para pessoas de variadas classes sociais e idades. Comparando o primeiro semestre deste ano ao mesmo período de 2009, a venda de smartphones cresceu 128% no país, segundo a Nielsen. Parte desse sucesso é explicada pela aparição dos planos de acesso a dados com promoções agressivas. Quem compra um smartphone hoje pode optar por planos que dão, por exemplo, seis meses de acesso grátis ou cobram apenas 50 centavos de real por dia. “Cerca de 53% dos brasileiros já têm acesso à web no celular e não usam esse recurso pois acham os preços proibitivos. Isso está mudando rapidamente”, afirma Sandro Cimatti, diretor da empresa de pesquisas de mercado CVA Solutions. E começam,também, a aparecer opções mais customizadas ao perfil do cliente. “As operadoras locais já oferecem planos de dados para BlackBerry que atendem usuários que querem apenas acessar redes sociais ou mensageiros”, diz Adriano Lino, gerente de inteligência de mercado da Research In Motion.


 

A evolução das interfaces e do design encanta os compradores, mas ainda são as etiquetas de preço que pesam mais na decisão da compra no Brasil. Cabe ao consumidor investir num aparelho que represente mais que um celular. “Os smartphones ainda não são tão baratos, mas as pessoas sabem que estão comprando um aparelho com uma combinação de recursos muito superior ao modelo que tinham antes”, diz Roberto Guenzburger, diretor de segmentos da Oi. Para aproveitar esse cenário extremamente favorável à inovação, há uma luta envolvendo gigantes do hardware e do software, com um embate crescente entre Apple, Google e Microsoft nas telinhas. O smartphone que você vai comprar nos próximos meses é que vai definir os vencedores e os perdedores do round atual.

Pai do N95 e responsável pela divisão de smartphones e serviços da Nokia, o fi nlandês Anssi Vanjoki foi recentemente afastado do seu cargo pela nova presidência da empresa. Mesmo ocupando a liderança do ranking mundial de venda de celulares, a empresa está com o alerta vermelho ligado para não seguir o mesmo caminho da Microsoft, que perdeu participação de mercado e o bonde da história com seu sistema Windows Mobile — que já foi líder e hoje luta para manter seus 8% de market share. “A Nokia teve sorte por estar no lugar certo e na hora certa, tirando vantagem dos segmentos mais baratos de celulares. Nos smartphones, esse sucesso não se repetiu e essa é a área em que o crescimento está”, afirma Allen Nogee, analista do mercado de telecom da consultoria americana In-Stat. Lançamentos recentes no exterior como o Motorola Milestone 2, o HTC Desire HD e o Samsung Epic 4G trazem tecnologias novas ao mercado, como telas de super Amoled e conexão WiMAX, conduzindo um ritmo forte de inovação que a Nokia parece não conseguir alcançar. Nos smartphones, a empresa finlandesa deixou de ditar os caminhos.

O maior responsável pelo aumento do stress da líder Nokia, no entanto, não parece estar simplesmente no hardware. É, na verdade, o simpático robozinho verde do Android, sistema criado pelo Google que já roda em aparelhos HTC, Motorola, Samsung, LG e Sony Ericsson. Prestes a completar dois anos de mercado, o sistema operacional virou o segundo mais vendido em 2010, atrás apenas do Symbian, e pode alcançar a dominância global em 2015, de acordo com previsão da Informa Telecoms & Media.


 

Apesar da qualidade da interface e dos 80 000 aplicativos disponíveis para o Android, o fator decisivo para o seu crescimento é a quantidade de aparelhos que rodam o sistema. Enquanto o Symbian roda apenas nos smartphones da Nokia e o iOS é confinado ao iPhone, o Android se espalha por modelos dos mais sofisticados até aqueles mais simples, como o Motorola Quench de 550 reais. E esta é a faixa de preço que mais interessa aos brasileiros. De acordo com análise da Gfk Retail and Technology Brasil, 48,3% dos smartphones vendidos por aqui entre janeiro e julho deste ano custavam entre 450 e 799 reais. “Qualquer segmento de mercado depende do volume para se desenvolver. E smartphone não é bolsa Louis Vuitton”, diz Cimatti, da CVA Solutions. Quem vende iPhone no Brasil se defende comparando condições para a venda do aparelho aqui e no exterior. “O Brasil vende smartphone com planos de até 12 meses por causa da regulamentação da Anatel. Nos Estados Unidos, o subsídio das operadoras é maior, pois há planos de 24 meses”, diz Nuno Cadima, diretor de ofertas da Vivo.

Assim como o iPhone, o Android também vem sofrendo baixas no quesito unanimidade, mas por motivos diferentes. A velocidade dos updates do sistema promovidos pelo Google anda deixando fabricantes e usuários perdidos. Não são raros os casos de smartphones que não podem atualizar o software e assim deixam de ser compatíveis com os aplicativos recém lançados. Uma das maiores polêmicas no Brasil ficou por conta da não atualização do Milestone para a ver são 2.2 do Android (o Froyo), que acabou obrigando a Motorola a rever a política depois de sucessivos protestos dos usuários. “Os problemas de atualização são o resultado de muito crescimento em pouco tempo, com vários produtos tendo sido adaptados para rodar Android. São problemas compreensíveis, mas não aceitáveis”, afirma Marcellus Louroza, diretor de produtos de telecom da Samsung.

Outro fator que pesa no mercado brasileiro é a dificuldade de trazer os telefones mais modernos ao Brasil, embora já não seja tão raro que certos aparelhos sejam lançados de maneira simultânea em todo o mundo. “Hoje em dia um modelo consegue ser novidade por no máximo uns três meses. Depois, entre seis e nove meses, ele é substituído”, diz Rodrigo Byrro, diretor de negócios da HTC no Brasil. Nesse intervalo, a criatividade do Google e dos desenvolvedores pode criar um abismo entre o software e o hardware dos smartphones com Android. E essa é a brecha para outros concorrentes surpreenderem com aparelhos e funções mais bem azeitadas.

Nos Estados Unidos, já existem aparelhos que acessam a internet pelas conexões 4G. Abre-se aí outra ameaça para os líderes de mercado. Embora o novo padrão de redes ainda esteja em um horizonte distante, pode desestabilizar de novo o equilibrado jogo de forças entre os players do mercado.

Mas com tantos concorrentes musculosos no mercado, por que o iPhone continua a causar tanto barulho e a vender tanto? Há várias respostas. No quesito de integração software e máquina, por exemplo, o iPhone ainda continua soberano. Além de hardware e software estarem nas mãos da mesma empresa, a Apple mantém um controle meticuloso e até exagerado sobre os aplicativos que entram ou não entram na App Store. Quem compra um celular da Apple sabe direitinho quais das 250 000 apps vão ou não rodar no seu sistema. O capricho no acabamento, a facilidade de uso e obsessão da Apple por surpreender nos detalhes (e até nas embalagens) acabaram gerando uma legião de fãs. O iPhone não foi o primeiro aparelho a navegar em 3G e até hoje há quem sinta falta de um slot para cartão de memória ou de um sintonizador de TV digital no aparelho. E um bug bizarro de projeto atinge simplesmente o recurso mais básico de qualquer telefone, que é a recepção do sinal nas ligações. Nada disso parecia importar para quem estava na fila do iPhone 4 naquela fria madrugada de 17 de setembro. Esta aí mais um dos segredos de Steve Jobs.

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