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No Japão, cães robôs fora de uso têm direito a funeral tradicional

Eu chorei quando tomei o decisão de dizer adeus, disse proprietária de um cachorro eletrônico em carta de despedida

Cachorro robô: 3 mil exemplares esgotaram em 20 minutos e custam cerca de 1.800 euros (Ethan Miller/Getty Images)

Cachorro robô: 3 mil exemplares esgotaram em 20 minutos e custam cerca de 1.800 euros (Ethan Miller/Getty Images)

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AFP

Publicado em 26 de abril de 2018 às 10h01.

Incensos e sutra recitado por um monge: os funerais rituais e tradicionais no Japão também são respeitados em um templo a leste de Tóquio para o adeus a uma centena de cães-robô.

Alinhados em frente ao coro do secular templo de Kofukuji, na cidade de Isumi (Chiba), os 114 robôs são modelos mais antigos do famoso cachorro AIBO lançado pela Sony em 1999. Fora de uso e sem possibilidade de reparo, eles precisaram ser descartados por seus donos.

A fumaça dos incensos enche o templo enquanto um monge recita sutras, rezando por uma transição pacífica das almas dos mortos.

Fugindo à tradição, um pequeno robô explica o que espera os cães após a cerimônia.

Os proprietários não estão presentes, mas cada um enviou uma carta indicando o nome do seu antigo animal de estimação e contando memórias compartilhadas com ele.

"Sinto-me aliviada por saber que haverá uma oração pelo meu AIBO", diz uma dessas cartas, enquanto em outra, um proprietário escreveu: "Eu chorei quando tomei o decisão de dizer adeus", acrescentando: "por favor, ajude outros AIBOs".

Porque uma vez terminado o funeral, os cães são cuidadosamente guardados em plástico bolha e papelão, com direção para as instalações da A FUN, uma empresa especializada no reparo de produtos eletrônicos "vintage".

Suas partes ainda funcionais servirão de estoque de peças de reposição para reviver outros robôs quebrados.

É A FUN que organiza esses funerais coletivos e mais de 800 modelos do AIBO já tiveram sua cerimônia.

Consciência

"Há muitas pessoas que nos enviam seus robôs porque acredito que os faz bem doarem seu corpo em vez de jogá-lo fora como uma máquina", explica Nobuyuki Norimatsu, seu gerente.

Para Bungen Oi, o monge do templo, essas cerimônias não são de todo absurdas. "A essência do budismo habita em todas as coisas (...) Até as máquinas têm consciência e é por isso que praticamos essa cerimônia", afirma ele à AFP.

AIBO foi o primeiro robô doméstico capaz de desenvolver uma certa personalidade. A Sony lançou a primeira geração em junho de 1999 e o cachorrinho foi um sucesso imediato.

O primeiro lote de 3.000 exemplares se esgotou em menos de 20 minutos, apesar de seu alto preço de 250.000 ienes (mais de 1.800 euros).

Ao longo dos anos, mais de 150.000 cães foram vendidos. Mas em 2006, diante das dificuldades financeiras, a Sony parou de fabricar o robô AIBO.

O grupo manteve um reparo "clínico" até 2014, antes de encerrar essa atividades, deixando os proprietários desses cães sem ajuda em caso de problemas.

Para seu alívio, antigos engenheiros do grupo assumiram a criação da A FUN.

Se em janeiro a Sony revelou uma nova versão de seu famoso robô canino, conectado e desta vez com inteligência artificial, não relançou o serviço de reparação de seu ancestral do século XX.

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