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Netflix testa preço mais barato em alguns países para aumentar assinaturas

Em 2019, serviços de streaming perderam cerca de 9 bilhões de dólares devido ao hábito de compartilhar de contas com amigos

Compartilhamento de senhas: prática pode se tornar restrita nos serviços de streaming (Chris Ratcliffe/Bloomberg)

Compartilhamento de senhas: prática pode se tornar restrita nos serviços de streaming (Chris Ratcliffe/Bloomberg)

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Maria Eduarda Cury

Publicado em 11 de janeiro de 2020 às 08h55.

Última atualização em 11 de janeiro de 2020 às 11h40.

São Paulo – Para tentar aumentar seu número de assinantes, a Netflix está testando, desde o segundo semestre de 2019, assinaturas que custam a metade do preço original na Índia e na Malásia. Com preço 67% menor do que o plano básico atual, de 8,99 dólares, a intenção da companhia é tornar o produto mais acessível e, também, diminuir a quantidade de contas compartilhadas entre amigos. As novas assinaturas em teste custam 2,99 dólares ao mês.

Com as novas opções de pacotes de assinatura, os usuários que adquirirem os 12 meses de uma vez recebem um desconto de 50%, e 30% se optarem pelo pacote de seis meses. Por serem mais baratas, essas assinaturas são voltadas a quem prefere usar celulares ou tablets para assistir filmes e séries - mas é possível espelhar a tela dos dispositivos móveis para televisões, com o uso de produtos como o Chromecast, do Google, e o Fire Stick, da Amazon.

Ajay Arora, diretor de inovação de produtos da Netflix, disse ao jornal Metro que essas assinaturas irão beneficiar tanto a empresa, quanto as pessoas que desejam economizar nas despesas.

O chefe de produtos Greg Peters também comentou que essa é uma das alternativas para diminuir o compartilhamento de senhas entre amigos e aumentar a receita da companhia. Se o novo modelo de assinaturas funcionar, ele pode ser lançado globalmente no futuro.

Por que restringir o compartilhamento de senhas?

Se você é assinante da Netflix, é bastante provável que esteja emprestando a conta para algum amigo. Essa prática é algo que a própria empresa não condena explicitamente – pelo menos até agora. Um estudo feito pela empresa americana de pesquisa e consultoria Parks Associates mostra que os serviços de streaming perderam cerca de 9,1 bilhões de dólares em 2019 devido ao compartilhamento de contas entre amigos entre amigos ou membros da família que moram em casas diferentes. O levantamento mostra ainda que a tendência de que essa perda aumente para 12,5 bilhões em 2024. Afinal, se uma pessoa paga a conta para três consumidores, os serviços estão "dando" duas assinaturas de graça.

Apesar de ser uma prática muito comum entre os consumidores de plataformas como Netflix, Amazon Prime Video, Globoplay e HBO Go, as empresas podem começar a restringir essas ações em um futuro próximo. Até o momento, apenas a venda de contas para desconhecidos é considerada "crime" pelas plataformas. Mesmo que a grande maioria dos serviços disponibilize planos para duas ou mais telas, a intenção - ainda que não seja uma regra - é que sejam utilizadas por moradores da mesma residência.

Em dezembro de 2019, Tom Rutledge, presidente da Charter Communications - a segunda maior companhia de serviços a cabo dos Estados Unidos -, marcou uma reunião com os executivos das principais plataformas, conforme reportagem do site Hollywood Reporter. Rutledge informou que essa prática prejudica o ecossistema e que o compartilhamento desenfreado de senhas permite que, em uma residência de 2 pessoas, 5 estejam utilizando a mesma conta dos produtos.

Mas de qual maneira as produtoras de conteúdo podem controlar o acesso aos seus serviços? Em outubro de 2019, a Alliance for Creativity and Entertainment (ACE) - que faz parte da Motion Picture Association of America (MPAA), associação que engloba os estúdios Netflix, Universal, Paramount, Disney, Warner e Sony - anunciou um grupo de trabalho para achar alternativas ao acesso não autorizado de conteúdos.

O foco do ACE, que também engloba estúdios menores, como Amazon e Lionsgate, é propor assinaturas mais caras para aqueles que decidirem continuar com o compartilhamento de senhas. Outra opção possível é o uso da tecnologia para identificar o problema por meio de programas; um exemplo é um novo software que foi apresentado na feira de tecnologia CES de 2020, em Las Vegas, capaz de identificar quais usuários estão compartilhando senhas com pessoas que não moram na mesma residência. Depois de identificados, os provedores do serviço podem escolher bloquear a conta do usuário ou lhe oferecer um desconto, caso o amigo que está utilizando o serviço crie sua própria conta.

Jean-Marc Racine, diretor de produtos da empresa Synamedia - que tem como clientes Disney, Comcast e AT&T -, acredita que a tecnologia é a melhor forma para se lidar com os milhões de assinantes, tendo em mente que a grande maioria compartilha sua conta: "É um problema bastante complexo. Milhões de assinantes e milhões de usuários compartilham contas. Portanto a resposta precisa ser automatizada na plataforma para que haja uma solução adequada para lidar com os assinantes que compartilham contas com outras pessoas", comentou para o Hollywood Reporter. Um estudo da Synamedia mostra que dois dos maiores serviços de streaming, com nomes mantidos sob sigilo, estão perdendo mais de 70 milhões de dólares ao ano devido ao compartilhamento de contas.

Diante desse cenário, em um futuro não muito distante, é possível que fique mais difícil compartilhar contas da Netflix ou da Amazon Prime Video com os amigos, ou até mesmo com parentes. Na semana de lançamento do Disney+, serviço de streaming da Disney, os representantes disseram que já pensam em maneiras de combater tal compartilhamento, caso se torne necessário. Por isso, há chances de que o Disney+ já chegue ao Brasil neste ano com essa restrição.

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