Limte: Segundo o presidente global da empresa, Joe Kraus, a Lime já está atingindo lucro em "algumas dúzias de cidades" das mais de 100 em que opera (Lime/Divulgação)
Rodrigo Loureiro
Publicado em 12 de julho de 2019 às 05h55.
Última atualização em 12 de julho de 2019 às 05h55.
São Paulo – A Lime, empresa californiana de micromobilidade que atua com patinetes elétricas, chegou ao Brasil oficialmente neste mês com o anúncio do início das operações nas cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro. Em entrevista a EXAME, Joe Kraus, presidente global da companhia, detalhou os planos da companhia para o futuro, a parceria com a Uber e como driblar os desafios de empreender com transporte alternativo no Brasil.
Apenas recentemente o Brasil começou a ver o crescimento de empresas de compartilhamento de bicicletas e patinetes. Por que a Lime decidiu investir em um País que ainda não abraçou a cultura do transporte alternativo?
A América Latina reúne todas as condições prévias necessárias para o mercado de patinetes. Há trânsito, uma alta densidade e um imenso centro urbano, fatores que criam demanda. É claro que é mais fácil fazer a adoção desses serviços na Europa, por exemplo, onde já há uma cultura para o uso de bicicletas e uma infraestrutura mais desenvolvida. Mas já observamos que o serviço funciona em mercados com condições semelhantes às brasileiras.
Como conquistar um público que não pode arcar com os custos do uso de patinetes e evitar que a empresa se torne um serviço para poucos?
Fundamentalmente, não é interessante para a empresa que esse seja as patinetes estejam disponíveis apenas para parte do público. Por isso, a Lime serve pessoas de diversas camadas, desde as que podem pagar mais caro até as que não podem fazer isso e que são beneficiadas por um programa chamado Lime Access – iniciativa que dá descontos para o uso de bicicletas e patinetes em comunidades carentes. Estamos apenas começando por aqui.
Agora que estão oficialmente no Brasil, o que pretendem fazer?
A quantidade de patinetes ainda é muito pequena em relação a demanda. Mas é importante destacar que não somos uma empresa de patinetes, mas uma empresa que tem como o objetivo tornar a vida das pessoas melhor. Quando alguém usa um patinete, essa pessoa pode estacionar na frente de um negócio local e consumir algo. Isso gera oportunidades.
Como vocês pretendem manter o negócio da Lime sustentável?
O nosso foco deve ser em como ganhar dinheiro com cada corrida para que exista um modelo de negócios sustentável. Não é preciso criar um grande serviço para que as pessoas paguem por isso, mas sim um grande negócio que gere grandes serviços. É assim que você contribui com uma mudança no mundo. Ou, então, você vai ter uma empresa fechada porque o dinheiro simplesmente acabou.
Um dos problemas das empresas do ramo está relacionado ao risco de ter bicicletas e patinetes nas ruas. Como a Lime pretende driblar esse obstáculo?
A Lime criou um mapa que indica os locais das cidades onde ocorrem os roubos e evitamos operar nessas áreas. Se alguém leva algum patinete para essas regiões, um alerta é enviado para que a nossa equipe recolha o equipamento o mais rápido possível. Mas é um exagero usar esse argumento para justificar as dificuldades de empreender neste mercado que estão mais relacionadas com estoque, reparo e controle sobre a localização dos veículos.
Além dos investimentos que a Uber fez na Lime, as duas empresas já trabalham juntas nos Estados Unidos. Essa parceria se estenderá ao mercado brasileiro?
O carro não é sempre o melhor jeito de chegar de um ponto ao outro. Especialmente em distâncias curtas no centro de cidades. Basicamente, queremos possibilitar que os usuários do aplicativo da Uber possam solicitar os patinetes da Lime, como eles fazem quando optam pelas categorias dos carros que estão no aplicativo. Por aqui, primeiro queremos tornar a nossa operação eficiente para, então, estender a conversa com a Uber.
A Lime já captou 795 milhões de dólares em seis rodadas de investimentos diferentes. Qual é o rumo da empresa agora?
Vamos continuar captando dinheiro no mercado privado e no mercado público quando estivermos prontos. Estamos expandindo globalmente. Um ano atrás estávamos em menos de uma dúzia de cidades e hoje estamos em mais de cem.
A Lime ainda não é uma empresa rentável?
Não. E é claro que o objetivo é ter uma empresa lucrativa porque é assim que faremos a diferença. Não poderemos trazer a mobilidade para o mundo se não nos tornarmos, em algum momento, uma empresa rentável. Mas há uma série de passos necessários para chegar lá. Não é algo que acontece imediatamente. Não dá para esperar, por exemplo, que as operações de São Paulo e do Rio de Janeiro sejam imediatamente lucrativas.
Qual é o plano para reverter esse quadro?
A primeira etapa é ter cidades em que a operação é rentável. E isso já acontece em algumas dúzias das mais de 100 regiões em que trabalhamos. Há também outras dúzias que estão no caminho para o lucro. O que importa neste primeiro momento é mostrar que existe caminho para atingir a lucratividade e que isso já está acontecendo.