Mulher trata TOC com implante cerebral inédito nos EUA
Os rituais repetitivos ficaram em grande parte para trás graças ao implante cerebral, que ela usa para tratar tanto o TOC quanto a epilepsia
Agência de notícias
Publicado em 4 de fevereiro de 2024 às 16h55.
A americana Amber Pearson costumava lavar as mãos até sangrar, por medo de se contaminar com objetos do cotidiano, um dos muitos comportamentos provocados pelo transtorno obsessivo-compulsivo (TOC).
Os rituais repetitivos ficaram em grande parte para trás graças a um implante cerebral revolucionário, que ela usa para tratar tanto o TOC quanto a epilepsia.
"Estou realmente presente na minha vida diária, e isso é incrível. Antes, eu vivia preocupada com as minhas compulsões", disse Amber, 34, à AFP.
Os implantes cerebrais ganharam as manchetes no fim de janeiro, com o anúncio do magnata Elon Musk de que sua empresa Neuralink havia implantado um chip na cabeça de um paciente, com o qual cientistas esperam que as pessoas possam controlar um smartphone com o pensamento.
A ideia de inserir um dispositivo no cérebro não é nova. Os médicos sabem há décadas que o estímulo elétrico aplicado com precisão pode afetar o funcionamento cerebral.
Esse estímulo profundo é usado no tratamento de Parkinson e outras condições que afetam os movimentos, entre elas a epilepsia.
Os médicos que trabalharam no caso de Amber lhe ofereceram o dispositivo de 32 milímetros para tratar suas crises epilépticas, acreditando que ele seria capaz de detectar a atividade que gera esses episódios e enviar um pulso que permitisse interferir neles. Foi então que a própria Amber deu a sua contribuição.
"Foi ideia dela dizer: 'Bom, você vai entrar no meu cérebro e colocar esse eletrodo, e eu tenho TOC. Você poderia simplesmente colocar um eletrodo para TOC?'", contou o neurocirurgião Ahmed Raslan, que realizou o procedimento, na Universidade de Ciências e Saúde de Oregon, em Portland. “Felizmente, levamos essa sugestão a sério.”
Estudos anteriores já haviam sido feitos sobre o uso da estimulação cerebral profunda em pessoas com TOC, mas, segundo Raslan, ela nunca havia sido combinada com o tratamento da epilepsia.
Os médicos trabalharam com Amber para observar o que acontece em seu cérebro quando ela entra em um ciclo obsessivo. A técnica envolveu expor a paciente a fatores estressantes conhecidos, como o consumo de mariscos, e registrar os pulsos elétricos.
Os médicos conseguiram isolar de forma eficaz a atividade cerebral associada ao TOC. Poderiam, então, configurar seu implante para reagir a esse sinal específico.
Esperança
O dispositivo de dupla função agora monitora a atividade cerebral associada à epilepsia e ao TOC. “É o único dispositivo no mundo que trata duas doenças”, destacou Raslan.
“É programado de forma independente. O programa para a epilepsia é diferente do programa para o TOC. Essa ideia é algo fora do comum, e só poderia ter vindo de um paciente", ressaltou o neurocirurgião.
Amber teve que esperar oito meses após o procedimento de 2019 para perceber alguma diferença em seu comportamento. Gradualmente, os rituais que a desgastavam e consumiam oito ou nove horas do seu dia desde a adolescência começaram a diminuir, e sua vida foi se normalizando.
Raslan destacou que um estudo está sendo feito na Universidade da Pensilvânia sobre como ampliar o uso dessa técnica, que representaria uma esperança para algumas das 2,5 milhões de pessoas que sofrem de TOC nos Estados Unidos.