Twitter: o Twitter restabeleceu recentemente dezenas de milhares de contas (Chesnot/Getty Images)
AFP
Publicado em 9 de janeiro de 2023 às 20h02.
Sob a direção de Elon Musk, o Twitter restabeleceu recentemente dezenas de milhares de contas, algumas pertencentes a conspiradores ou antivacinas, aumentando o risco de reavivar a desinformação na rede social.
Segundo o desenvolvedor Travis Brown, citado por várias organizações, mais de 27.000 contas restauradas tinham sido suspensas por desinformação, assédio e incitação ao ódio.
Contactado pela AFP, Brown disse que sua lista estava incompleta e que o número destas contas poderia ser ainda maior.
"Restabelecer estas contas tornará a plataforma um ímã para os atores que quiserem difundir informação falsa", advertiu Jonathan Nagler, codiretor do Centro de Mídia Social e Política da Universidade de Nova York (NYU).
"E haverá menos moderação do discurso de ódio, o que tornará a rede menos acolhedora para muitos usuários", acrescentou.
Entre as personalidades que estão de volta à rede do pássaro azul, estão "antivacinas" como o cardiologista Peter McCullough e o doutor Robert Malone, que tinha sido suspenso há um ano por ter alertado para uma suposta periculosidade das vacinas contra o novo coronavírus, sem apresentar informação que o respaldasse.
Desde que foi retirada a suspensão de sua conta, Malone, que tem mais de 869.000 seguidores, publicou várias mensagens com informação falsa sobre as vacinas contra a covid-19.
Entre os ex-párias novamente autorizados na rede social, também está o ex-presidente americano Donald Trump, que manteve, por enquanto, a promessa de não voltar e usar exclusivamente a rede Truth Social, que ele mesmo criou no ano passado.
Mike Lindell é um dos mais incendiários. Suspenso duas vezes em 2021, o diretor-geral da empresa My Pillow e apoiador incondicional de Trump, pediu, assim que sua conta foi restabelecida, para "derreter as máquinas de votação eletrônica e transformá-las em grades de prisão".
Trata-se de uma referência direta à teoria da conspiração de que a contagem dos votos nas eleições presidenciais de 2020 foi manipulada com a ajuda de máquinas de votação, o que nunca foi comprovado.
Outra readmitida no Twitter foi a ativista de extrema direita Pamela Geller, apresentada pela organização jurídica para a luta contra o extremismo Southern Poverty Law Center como "uma das ativistas antimuçulmanos mais extravagantes dos Estados Unidos".
No começo desta semana, o criador do The Geller Report publicou uma mensagem sobre estudantes muçulmanos que tinham se queixado de que uma professora havia mostrado fotos do profeta Maomé.
"Já o decapitaram?", tuitou, em alusão ao homicídio do professor francês de história e geografia Samuel Paty em Conflans-Sainte-Honorine, subúrbio de Paris, em outubro de 2020.
"Na era Musk, os 'superpropagadores' de desinformação se sentem incentivados e os leitores têm menos informação disponível sobre a confiabilidade das fontes", ressaltou Jack Brewster, do observatório de mídia NewsGuard.
Em meados de dezembro, o Twitter informou em uma publicação em sua plataforma que uma "suspensão permanente por romper as regras (da rede social) era uma medida desproporcional".
Musk esclareceu em seguida que o Twitter "continua comprometido em evitar conteúdo perigoso" em seu site, assim como "atores maliciosos". "As contas restabelecidas sempre devem seguir nossas regras".
O Twitter foi questionado esta semana depois de um incidente com o jogador de futebol americano do Buffalo Bills, Damar Hamlin.
A parada cardíaca sofrida pelo zagueiro de 24 anos, na segunda-feira, durante um jogo, levou muitos usuários do Twitter a ligar o ocorrido à vacina contra a covid-19.
"Antes das vacinas contra a covid, não se via os atletas caírem duros em campo como está acontecendo hoje", tuitou a legisladora republicana na Câmara de Representantes, Marjorie Taylor Greene. "É hora de investigar as vacinas da covid".
Embora Musk tenha dito recentemente que planeja ceder a direção do Twitter, "levará mais tempo arrumar" a plataforma, disse Nora Benavidez, da organização de vigilância de mídia Free Press.
Será preciso, alertou, adotar "uma série de medidas para reverter as mudanças de Musk, reinvestir em moderação e reestruturar a governança da plataforma".
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