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Lula contra Bill Gates

Presidente, o maior empresário do mundo não merece tanto ódio

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 12h19.

O governo Lula mostra sua cara a cada dia que passa, e não é a cara de um governo não-intervencionista, que gosta de empresas ou de lucro. A Câmara dos Deputados aprovou em primeiro turno uma reforma tributária que, no entender dos maiores especialistas no assunto, abre um sem-número de portas para o aumento da nossa extorsiva carga de impostos, representa mais um peso que um alívio sobre os ombros do setor produtivo e tornará mais difícil investir para ganhar dinheiro. O setor de telecomunicações também tem testemunhado um festival de intervenções atabalhoadas do ministro Miro Teixeira, que vão da defesa de maior controle das tarifas à de um destemido padrão brasileiro de TV digital. Na área de energia, a confusão armada com as empresas é tão grande que o próprio presidente da Eletrobrás, Luiz Pinguelli Rosa, entrou em rota de colisão com a ministra Dilma Rousseff. Agora, de acordo com reportagem do Wall Street Journal, o presidente prepara-se para assinar um decreto dando preferência em órgãos públicos à compra de softwares livres, como o sistema Linux, sobre programas proprietários, como os vendidos pela Microsoft.

Primeiro, queria deixar uma coisa clara: pessoalmente, acredito no software livre, sobretudo no modelo de desenvolvimento mais eficiente que ele representa. Uso Linux desde o final de 1994, provavelmente muito antes que alguém do PT tenha se interessado pelo assunto. Já entrevistei as maiores figuras do mundo do software livre, como o próprio Linus Torvalds, e até publiquei um pequeno livro introdutório sobre o assunto (Linux, editado pela revista Superinteressante). Escrevo este texto, por sinal, usando softwares livres. Minha preferência pelo Linux tem um motivo simples: além de ter copiado o meu de graça, toda vez que o computador deu problema, consegui consertar fuçando um pouco. Com o Windows, já tive tanto galho que praticamente desisti de tê-lo em casa. Mas tenho plena consciência de que não sou um usuário médio. Para a maioria das pessoas, os programas da Microsoft continuam sendo a porta de entrada para o mundo da computação. Se alguém pode ser considerado o maior responsável pela inclusão digital das massas no planeta, não pode haver nenhuma dúvida: esse alguém é Bill Gates.

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Na sua defesa do Linux, os ideólogos digitais do PT parecem partir de uma premissa muito frágil: se o Estado adotar o software livre, então isso funcionará como um indutor do desenvolvimento de tecnologias desse tipo e tornará o computador mais acessível para o povo. Sob essa ótica, o Linux, distribuído de graça, é um programa "de esquerda", enquanto o Windows, vendido para dar lucro, é "de direita". Mas é um tremendo equívoco atribuir cores ideológicas a programas de computador. Um dos maiores gurus do Linux, por exemplo, é o ultra-liberal Eric Raymond, partidário de causas notoriamente direitistas, como o livre porte de armas. Além do mais, os programas digitais mais bem-sucedidos do Estado brasileiro (o sistema de compras do governo federal e o software de controle e gestão pública do estado de São Paulo) são baseados em programas proprietários. Se o computador tem algum uso para o governo, deve ser para reduzir o gasto público e ganhar eficiência na máquina. É menos importante se isso é feito com programas abertos ou fechados. Escrever na letra da lei a preferência por um tipo de programa equivale a limitar um poder de escolha que pode resultar em mais custo para o próprio governo. Não é com uma mãozinha do governo, seja ele brasileiro, francês, alemão ou indiano, mas apenas por meio do lucro e de modelos de negócio rentáveis que o Linux tem alguma chance contra o Windows.

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