Huawei volta a lançar celulares no Brasil após 4 anos
Aposta em inovação rendeu frutos em vendas: a empresa saltou de 5,5% do mercado global, em 2014, para 13%, em 2018
Estadão Conteúdo
Publicado em 10 de março de 2019 às 11h06.
Última atualização em 14 de março de 2019 às 12h57.
São Paulo - É do alto de um escritório no 32.º andar no bairro do Morumbi, em São Paulo, com vista para a Marginal Pinheiros e ainda muitas cadeiras a preencher, que a chinesa Huawei tenta colocar em pé uma de suas principais metas em 2019: entrar no mercado brasileiro de smartphones.
O retorno da empresa ao país já tem data marcada: a partir de maio, celulares premium da fabricante poderão ser encontrados nas lojas do País. "Queremos trazer ao Brasil as tecnologias mais inovadoras que temos", diz Ketrina Dunagan, vice-presidente sênior de marketing da Huawei nas Américas, em entrevista exclusiva ao jornal O Estado de São Paulo.
É uma aposta bem diferente da que a empresa fez em 2013, quando tentou entrar pela primeira vez no País. Na época, importou aparelhos de entrada e intermediários, mas naufragou com a alta do dólar e a falta de conhecimento do consumidor local. "O Brasil é um mercado complexo pela estrutura tarifária. Não dá para vencer aqui se você não tiver fabricação local", diz a executiva.
Segundo Ketrina, os smartphones que chegarão às lojas em maio serão trazidos de fora. Até o fim do ano, a empresa pretende montar seus celulares aqui - parceiros ainda estão sendo avaliados. Um time local, com áreas de logística, vendas e marketing, está sendo contratado.
A Huawei diz ter mudado muito nos últimos quatro anos: com investimentos em pesquisa, passou a disputar a liderança em inovação em smartphones. Foi a primeira empresa a lançar um celular com câmera de três lentes, em 2018, numa parceria com a alemã Leica. Em fevereiro, surpreendeu ao exibir o Mate X, seu primeiro celular de tela dobrável e embarcado com 5G - tecnologia na qual a empresa também atua para melhorar a infraestrutura de redes.
A aposta em inovação rendeu frutos em vendas: a Huawei saltou de 5,5% do mercado global, em 2014, para 13%, em 2018, segundo dados da consultoria Gartner (ver quadro abaixo). Só no ano passado, suas vendas subiram 35% em unidades - incomodando Apple e Samsung. "Queremos ser líderes globais em até dois anos", diz Ketrina.
Tropical
No Brasil, a Huawei também busca a liderança, mas a longo prazo, passo a passo - estratégia que incluirá o lançamento de aparelhos mais acessíveis no futuro. Um de seus trunfos é a longa parceria com as operadoras brasileiras, para as quais fornece infraestrutura de redes há duas décadas. Acordos com varejistas também estão sendo desenhados. "No lançamento, os brasileiros poderão ver e testar os produtos no varejo", garante a executiva.
Para ter chance de concretizar suas ambições por aqui, a empresa terá vários desafios. O primeiro será se apresentar ao brasileiro: menos de 1% dos consumidores do País conhece a marca, segundo pesquisa da consultoria IDC Brasil feita em setembro de 2018. "Preço vai ser importante, mas a empresa terá de convencer que é melhor que Apple e Samsung", diz Renato Meirelles, analista da IDC.
Para Eduardo Pellanda, professor de Comunicação Digital da PUC-RS, a fabricante tem argumentos sólidos de convencimento. "As câmeras da Huawei são das melhores atualmente. É um novo tipo de empresa chinesa, que desenvolve e produz na China, com custo mais baixo."
A empresa também enfrentará um mercado bastante concentrado: segundo a IDC, Samsung e Motorola responderam por nada menos que 78% das vendas de smartphones no País no ano passado. "O mercado precisa de novos competidores, mas quem quiser entrar precisará de marca forte e boas especificações", diz Meirelles.
Na visão de analistas, a estratégia da empresa de começar por aparelhos mais caros é acertada. "Hoje, o brasileiro não está mais comprando seu primeiro celular, mas trocando seu aparelho por modelos mais caros", diz o analista da IDC. O preço médio de um smartphone no Brasil, segundo a consultoria, saltou 13,7% em 2018, para R$ 1.307.
Embora tenha representatividade pequena nas vendas totais - celulares acima de R$ 2 mil são apenas 10,5% do mercado nacional -, o segmento premium é aquele em que a indústria tem melhores margens de lucro. "É uma estratégia clássica: começar com aparelhos mais caros para viabilizar produtos de massa", avalia Pellanda, da PUC-RS. "Além disso, o mercado premium traz visibilidade. Se entrasse só vendendo celular barato, seria mais uma chinesa 'xing ling'."
Entrevista
Responsável por organizar a chegada da Huawei ao Brasil, Ketrina Dunagan tem experiência no setor: de 1990 a 2000, ajudou Nokia e Samsung a serem líderes globais. Também esteve na Motorola, onde participou do lançamento do Moto G e do Moto X, sinônimos de custo-benefício. Agora, quer mostrar que pode brigar de igual para igual com as marcas líderes no Brasil.
Qual será o foco da Huawei no Brasil?
Vamos trazer um portfólio abrangente, mas queremos ser uma marca premium, com boas câmeras e boa performance. Traremos a tecnologia mais inovadora que temos - e não sacrificaremos qualidade em prol de quantidade.
A Huawei tem sido atacada por Trump. Como isso afeta a marca?
Tem sido um ano difícil para nós, mas somos uma empresa focada no consumidor. Fazemos negócios em mais de 170 países. Temos ótimo retorno de nossos clientes há décadas, seja em suporte, inovação ou comprometimento. Não queremos falar que somos bons, mas mostrar para as pessoas como trabalhamos bem.
Um destaque recente da Huawei é o dobrável Mate X. Ele chegará ao Brasil?
Só o tempo vai dizer. Ele tem 5G, algo que ainda não está no Brasil. Precisamos ter certeza de que o mercado está pronto para um dispositivo como o Mate X.