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A guerra dos smartphones está muito longe do fim

São Paulo - A trajetória das fabricantes de smartphones na última década mostra por que o mercado de telefonia móvel é apontado por analistas como o mais dinâmico...

celulares (Wikimedia Commons)

celulares (Wikimedia Commons)

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Da Redação

Publicado em 3 de setembro de 2013 às 13h27.

São Paulo - A trajetória das fabricantes de smartphones na última década mostra por que o mercado de telefonia móvel é apontado por analistas como o mais dinâmico do setor de tecnologia. O caso mais conhecido é da finlandesa Nokia, que chegou a ter 50% do mercado em 2007 e hoje luta para manter um décimo dessa participação.

O pecado da Nokia foi a soberba. Uma vez no topo, a fabricante não soube reconhecer que as inovações trazidas pelo iPhone, como a tela sensível ao toque e a loja de aplicativos, transformariam o mercado. De um mal parecido sofreu a canadense RIM.

A fabricante do BlackBerry chegou a responder por seis em cada dez smartphones vendidos nos Estados Unidos em 2008, mas foi atropelada por Apple e Samsung, as duas empresas que entenderam que o design era um fator tão importante quanto o desempenho tecnológico. Essa dinâmica destrutiva do mercado de telefonia também abriu caminho para novos entrantes.

Um dos exemplos mais notórios é o Google, que em 2008 lançou o sistema Android, hoje presente em 75% dos aparelhos mais sofisticados. No movimento mais recente do setor, empresas tidas como fora da briga estão voltando. É o caso da coreana LG, que já teve uma posição confortável, cometeu erros, foi punida e agora esboça uma reação.

O que impressiona na trajetória recente da LG é a velocidade com que os ventos mudaram — tudo ocorreu em cinco anos. A coreana chegou a ter 10% das vendas globais de telefones em 2009, atrás apenas de Nokia e Samsung, mas caiu para a quinta colocação em 2012, com 3,3%.

O tombo foi causado por uma sucessão de erros cometidos no fim da última década, como insistir na produção de aparelhos simples enquanto os smartphones já despontavam. Para se recuperar, valeu até abandonar outro mercado promissor, o de tablets. “A LG colocou os esforços para a produção de tablets em segundo plano. A prioridade são os smartphones”, disse o coreano Ken Hong, porta-voz da LG, em junho do ano passado. 

O primeiro passo foi dado em 2011, quando a LG priorizou o desenvolvimento de aparelhos com tecnologia 4G, uma geração à frente dos aparelhos mais sofisticados daquela época. Quando as redes 4G passaram a ser implantadas em larga escala nos Estados Unidos, na Europa e no Japão, no ano passado, a empresa estava bem posicionada — tinha telefones tão sofisticados quanto os de Apple e Samsung.

Outro passo importante foi a aliança com o Google, selada no fim do ano passado, para fabricar o Nexus - aparelho então produzido pela Samsung. Precisando de um cartão de visita, a LG aceitou reduzir as margens e cumprir as exigências técnicas do Google para ganhar a briga.[quebra]

O esforço - por ora - deu certo. As vendas do Nexus foram fundamentais para a LG comercializar 10 milhões de smartphones no primeiro trimestre de 2013 em todo o mundo, o dobro do número registrado no mesmo período do ano passado. Pela primeira vez, desde 2009, a LG conseguiu crescer e voltou a ocupar a terceira posição entre as fabricantes de smartphones.

A coreana guarda duas cartas na manga para o segundo semestre. Em agosto, lançará o G2, um smartphone com tela de 5,3 polegadas, apontado por blogs de tecnologia como favorito ao título de celular do ano. Em outubro, está prevista a chegada às lojas de uma nova versão do Nexus.

Com as mudanças, a LG começa a recuperar a confiança dos investidores. Mesmo com as vendas da divisão de TVs estacionadas, os resultados dos smartphones têm elevado o preço de suas ações. Em julho, de 47 analistas dos principais bancos do mundo que acompanham a companhia, dois indicavam a venda dos papéis. A maioria prevê, mesmo após uma valorização recente de 12%, uma perspectiva de alta em 2013.

A estratégia de pular um ciclo tecnológico também foi usada pela fabricante americana de processadores Qualcomm. Uma das líderes do mercado de chips para celulares até meados dos anos 2000, a companhia viu sua situa¬ção mudar quando uma parte importante das operadoras de celular trocou a tecnologia CDMA, patenteada pela Qualcomm, pela GSM, que contava com um número maior de fornecedores.[quebra]

A reação começou ainda no fim dos anos 2000, quando a Qualcomm passou a investir no desenvolvimento de componentes para as redes 4G. A aposta foi recompensada. Hoje, ela tem 59% do mercado de processadores para celulares e lucrou 6 bilhões de dólares no ano passado, 40% mais do que o resultado de 2011.

Sobressaltos assim fazem com que os analistas de tecnologia tenham uma postura cautelosa em relação ao futuro do mercado de telefonia. Do ponto de vista histórico, a corrida está no começo. O Nokia Communicator, primeiro smartphone do mundo, foi lançado em 1996. Foram necessários 16 anos para chegar à marca de 1 bilhão de aparelhos vendidos, atingida em 2012.

O próximo bilhão, de acordo com a consultoria americana Strategy Analytics, será alcançado até 2015. “O mercado de smartphones está em aberto”, diz o indiano Anshul Gupta, analista da consultoria Gartner. Segundo ele, cerca de 50% das vendas de telefones móveis são de smartphones. A outra metade é de celulares. “Dentro de cinco anos, os aparelhos mais simples terão apenas 5% de participação em países ricos.”

O avanço da capacidade de processamento das máquinas tem produzido ciclos tecnológicos cada vez mais curtos na última década. As TVs coloridas levaram mais de 30 anos para se popularizar. Os computadores, pouco mais de uma década. Já os smartphones precisaram de poucos anos.[quebra]

O resultado prático disso é que as empresas hoje são obrigadas a fazer grandes investimentos para se manter competitivas em tecnologias que podem entrar em decadência rapidamente. “O desafio é decidir quando vale a pena persistir num negócio que oferece margens de lucro reduzidas, mas que pode ser importante para o próximo ciclo tecnológico”, afirma Horace Dediu, fundador da consultoria Asymco. 

Quem não marca presença corre o risco de ficar para trás, como aconteceu com a americana Intel. A fabricante de processadores lidera há décadas o mercado de PCs, com mais de 90% de participação. Mas não conseguiu criar um produto adequado aos smartphones, que exigem bom desempenho e baixo consumo de bateria.

“Agora, estamos nos preparando para o que acreditamos ser o próximo ciclo tecnológico”, afirma Fernando Martins, presidente da Intel no Brasil. O executivo refere-se ao que vem sendo chamado de “internet das coisas”, uma nova era em que, segundo algumas previsões, os processadores estarão presentes em eletrodomésticos, carros e roupas.

Nos laboratórios da Intel, já está em testes uma lente de contato com um chip. A ideia é ter uma pequena tela de computador integrada à visão, no estilo do Glass, os óculos do Google. Outra tecnologia em estudo é da tinta com sensores capazes de analisar dados como temperatura e umidade do ambiente.

É cedo para dizer se a Intel conseguirá recuperar sua relevância já no próximo ciclo tecnológico. O que se pode dizer, com base na experiência recente, é que os perdedores de hoje podem muito bem ser os vencedores de amanhã.

Sobre o autor: Bruno Ferrari é jornalista da revista Exame.

 

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