Loja da Apple, em Xangai, na China: linhas de produção garantidas mesmo com o lockdown intenso (Paul Souders/Getty Images)
Confrontos violentos, infecções crescentes e linhas de produção vazias: o tumulto que envolveu dezenas de milhares de trabalhadores em uma fornecedora da Apple em Xangai é um sintoma preocupante dos esforços extremos da China para manter as fábricas funcionando durante seu pior surto de covid desde 2020.
Presos em uma bolha por quase dois meses, confinados por decreto do governo e isolado do mundo exterior, os trabalhadores da Quanta Computer, na sua maioria de baixa renda, exige mais liberdade e começa a se revoltar contra seus supervisores, disseram pessoas familiarizadas com o assunto, pedindo para não serem identificadas por medo de represálias.
Centenas de trabalhadores entraram em confronto com guardas. Um grande contingente, preocupado que seus mantimentos acabem se o bloqueio persistir, romperam as barreiras de isolamento no início deste mês em busca de produtos básicos, segundo vários funcionários.
No fim de semana passado, relatos se espalharam de um grupo grande invadindo um dormitório que abriga os gerentes taiwaneses da Quanta após uma disputa sobre o lockdown prolongado e pagamento - desencadeando um impasse de horas confirmado por vários trabalhadores dentro do complexo.
Os incidentes ressaltam como o sentimento está se deteriorando em um lockdown que abalou a vida de 25 milhões de residentes de Xangai desde março.
“As pessoas estão ficando frustradas e cansadas desses controles”, disse um dos trabalhadores. “Isso é inevitável, especialmente quando não há previsão de quando tudo isso vai acabar.”
Representantes da Quanta e da Apple não quiseram comentar. Em abril, a Quanta disse em comunicado que estava interrompendo a produção em sua unidade de Xangai e adotando medidas em conformidade com os regulamentos do governo local para proteger sua equipe.
A turbulência em uma das fabricantes mais importantes da região se soma a um tumulto crescente na sociedade e na indústria sobre as restrições.
A velocidade com que a situação se agravou em Xangai - que abriga nomes famosos como Tesla e GM – é um alerta para as autoridades que tentam acabar com as infecções por meio de medidas de quarentena sem precedentes. A agitação de trabalhadores corre o risco de prejudicar um vasto setor manufatureiro em um momento em que a China luta para cumprir sua meta oficial de crescimento de 5,5%.
Não são apenas trabalhadores. Nos últimos meses, estudantes universitários em Pequim se rebelaram; conjuntos habitacionais realizaram protestos; e usuários de mídia social que postam vídeos críticos tentaram driblar um exército de censores.