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Florianópolis cresce em startups, mas ainda segue distante do jogo global

Capital catarinense atrai fundadores e sustenta um ecossistema de inovação coeso, mas baixa inserção internacional limita escala, acesso a mercados e investimentos

Capital catarinense foi apontada como um dos principais modelos globais de ecossistema de startups em cidades de médio porte,  (Evandro Badin/Getty Images)

Capital catarinense foi apontada como um dos principais modelos globais de ecossistema de startups em cidades de médio porte, (Evandro Badin/Getty Images)

Rafael Martini
Rafael Martini

Editor da Região Sul

Publicado em 9 de dezembro de 2025 às 16h05.

Última atualização em 9 de dezembro de 2025 às 16h08.

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Reconhecida como um dos polos mais promissores do ecossistema de startups brasileiro, Florianópolis se destaca por sua qualidade de vida, densidade empreendedora e forte cultura de colaboração entre fundadores.

Contudo, quando o objetivo é conquistar relevância internacional, o cenário revela fragilidades estruturais. É o que mostra o Assessment of the Florianópolis Startup Ecosystem, relatório elaborado pela Startup Genome, em parceria com o Sebrae Startups.O estudo foi divulgado nesta terça-feira (9), na sede de Sebrae/SC, em Florianópolis.

A cidade atraiu centenas de empreendedores nos últimos anos — 34% vieram de outras regiões — e conseguiu reter 96% deles em operação local. Hoje, o ecossistema florianopolitano conta com 700 a 800 startups ativas, amparado por instituições como Sebrae e ACATE. Ainda assim, o estudo indica que a capital catarinense precisa superar um obstáculo decisivo para dar o próximo salto de maturidade: a baixa inserção internacional de suas startups.

A participação de clientes fora da América Latina é 40% menor que a média dos ecossistemas pares avaliados globalmente. Isso revela um desafio de mentalidade: a maioria das startups da cidade ainda nasce focada prioritariamente no Brasil. O índice de fundadores que desenham seus produtos para mercados globais desde o início é 77% inferior à média internacional. E, quanto aos empreendedores classificados como “altamente ambiciosos” — aqueles que miram grandes problemas, produtos inovadores e atuação global —, Florianópolis apresenta desempenho 36% abaixo dos benchmarks globais.

Eventos internacionais

Segundo Alexandre Souza, gerente de Inovação do Sebrae SC, esse diagnóstico não deve ser confundido com falta de qualificação técnica. “Os indicadores de acesso a desenvolvedores experientes e qualidade de talentos estão acima da média. O que falta é ambição global desde o começo, e, principalmente, conexões estruturadas que permitam escalar internacionalmente.”

O relatório também aponta que Florianópolis está significativamente abaixo da média global em conexões com hubs estratégicos e na participação em redes de inovação. Os fundadores locais fazem uma média de 0,5 viagem por ano a ecossistemas como Vale do Silício, Berlim ou Tel Aviv — enquanto a média global é de 3,5 viagens.

A circulação em eventos internacionais e os encontros com líderes globais também são reduzidos: 0,8 por ano, contra 2,5 em polos pares. Para Naira Bonifácio, diretora do Startup Genome LatAm, “a conectividade global é um fator determinante para o potencial de escalabilidade das startups locais”.

Essa falta de vínculos internacionais reduz oportunidades de acesso a capital de risco, mentoria especializada e conhecimento de fronteira. “A internacionalização não é um objetivo futuro, é uma condição de partida”, reforça Diego Brites Ramos, presidente da ACATE, ao afirmar que “sem conexões estruturadas com mercados globais, o crescimento continuará limitado ao potencial doméstico”.

Na visão do Sebrae Startups, os dados reforçam a urgência de corredores internacionais de conexão. A plataforma está incorporando a metodologia do Startup Genome em sua estrutura de análise e deve expandi-la para outros ecossistemas no Brasil, criando diagnósticos comparáveis que alinhem políticas públicas e estratégias de desenvolvimento aos padrões globais. “Ao implementar nossa metodologia para analisar e determinar as ações estratégicas necessárias, estamos aumentando a visibilidade e a atratividade internacional dos ecossistemas brasileiros e, consequentemente, sua conectividade global”, afirma Bonifácio.

O estudo destaca que o avanço rumo à globalização exige mudança de mentalidade, incentivos mais ousados e institucionalidade voltada ao mundo. Apesar das barreiras, Florianópolis já reúne ativos competitivos que podem alavancar sua projeção internacional: um ecossistema coeso e unido — o apoio entre fundadores é 85% superior à média dos pares —, talento técnico acima da média, ambiente de negócios estável e qualidade de vida como diferencial competitivo.

Foco em escala

O relatório aponta ainda que Florianópolis já está na Fase de Ativação Avançada do modelo global de maturidade dos ecossistemas. Para chegar à Fase de Globalização, será necessário atingir mais de 1.000 startups e produzir ao menos um caso de sucesso de US$ 100 milhões por ano.

No ranking nacional, Florianópolis se consolida como o 5º ecossistema mais financiado do Brasil e 3º em número de rodadas, com 176 operações entre 2020 e 2024. Ainda assim, há uma lacuna crítica de financiamento na Série A: a mediana das rodadas, de US$ 3,085 milhões, está abaixo de Belo Horizonte e bem distante de São Paulo. Outro indicador que exige atenção é o modelo de participação acionária: apenas 2% das startups oferecem stock options a todos os funcionários — índice 92% inferior à média de ecossistemas pares.

A parceria entre o Sebrae Startups e o Startup Genome foi anunciada em junho, juntamente com o lançamento do Global Startup Ecosystem Report 2025 (GSER), principal relatório global sobre inovação.

O estudo destacou Florianópolis como um dos principais modelos internacionais de ecossistema em cidades de médio porte, citando o caso como exemplo de como restrições geográficas podem se transformar em vantagem competitiva. A capital catarinense também figurou entre os 20 melhores ecossistemas latino-americanos, ocupando a 13ª posição.

O desafio agora é transformar potencial em escala global. O ecossistema florianopolitano já provou que sabe formar empresas competitivas. Com as conexões certas — de capital, conhecimento e negócios — pode se tornar um caso de referência entre os polos emergentes da América Latina. A ambição está lançada: mirar o mundo, conquistar o mundo e fazer do Vale do Silício brasileiro uma ponte para muito além do Brasil.

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