Fabiane Stefano, João Bosco, Carlos Alberto Marinelli e Dirce Carraro: debate sobre edição genética (Germano Lüders/Exame)
Rodrigo Loureiro
Publicado em 12 de junho de 2019 às 13h30.
Última atualização em 12 de junho de 2019 às 17h12.
O problema não é novo. Falta dinheiro. Neste caso, para a evolução de procedimentos genéticos que podem auxiliar na prevenção e no combate às doenças. O diagnóstico foi dado por especialistas convidados por EXAME para debater os avanços da tecnologia na área médica durante o EXAME Fórum Saúde, evento que aconteceu na manhã desta quarta-feira (12), no Complexo Aché Cultural, em São Paulo.
O principal tema debatido foram os custos da pesquisa genômica. Esse tipo de estudo serve para, entre outras finalidades, identificar o melhor tratamento para um determinado paciente. Na teoria, isso acontece por meio de um estudo que avalia as informações genéticas desse indivíduo e as compara com um banco de dados.
Na prática, se torna possível observar se um tumor maligno pode ser reduzido com a quimioterapia, por exemplo. Essa prática ajuda a determinar os tratamentos personalizados e as melhores drogas para indicar em cada caso, reduzindo a generalização.
O obstáculo é que fazer isso requer um grande volume de informações genéticas armazenadas para que possam ser comparadas ao caso em estudo. Montar esse banco de dados está longe de ser barato. Décadas atrás, quando os testes começaram a ganhar força, seu custo superava 100 mil dólares. Esse valor sofreu redução drástica nos últimos anos – estima-se que esteja próximo de mil dólares. Mesmo assim, é caro para ser feito em larga escala.
“O problema do Brasil é que não temos um grande volume de dados sobre o DNA da nossa população”, afirma Dirce Carraro, líder do laboratório de Genômica e Biologia Molecular do A. C. Camargo Cancer Center. O cenário é diferente nos Estados Unidos e na Europa, onde já há uma base consolidada de informações graças a investimentos públicos e privados na área.
Sem dinheiro, o tratamento se torna mais caro e quem acaba pagando a conta é o paciente. Nesse cenário, a coparticipação no pagamento do plano de saúde se torna quase essencial no Brasil. “Se o sistema privado tiver de pagar por tudo, vamos observar uma diminuição no número de pessoas que possuem esse benefício”, afirma Carraro.
Esse custo, porém, não deve ser encarado como um gasto excessivo. Isso, pelo menos, é o que diz Carlos Alberto Iwata Marinelli, presidente do Laboratório Fleury. “Há vinte anos considerávamos os preços dos celulares muito altos, mas eles trouxeram uma série de benefícios para as nossas vidas. Esses tratamentos vão nos fazer viver mais e melhor”, afirma.
Para Marinelli, o custo também vai diminuir com a popularização dos procedimentos genéticos na sociedade. “Quanto mais cedo o paciente tiver o diagnóstico, quanto mais saudável ele estiver, menos ele vai custar para o sistema de saúde”, diz.
Já João Bosco, fundador da Genomika-Einstein, lembra que a conta pode ficar mais barata conforme os recursos não sejam usados de forma ineficiente. “Um tratamento de quimioterapia para câncer de pulmão, por exemplo, é caro e o público está cada mais estratificado”, afirma.
Uma célebre frase diz que os dados são o novo petróleo. Agora, talvez, eles sejam muito mais do que isso. Para os especialistas ouvidos por EXAME, é preciso que os investidores enxerguem isso, sejam eles do setor público ou de grandes fundos privados, para que haja fundos suficientes para a construção de grandes bases de dados genéticas.