Estudo liga bisfenol a obesidade em crianças nos EUA
Pesquisa da Universidade de Nova York levanta suspeita de que substância pode estar predispondo as pessoas ao ganho de peso
Da Redação
Publicado em 19 de setembro de 2012 às 23h26.
São Paulo - Um ano depois de a Anvisa ter proibido a fabricação e a importação de mamadeiras que contêm bisfenol A em sua composição, um estudo associou a presença da substância no organismo de crianças e adolescentes com um risco maior de obesidade. O bisfenol aparece no plástico de garrafas e de embalagens de alimentos. Também é usado no revestimento de latas.
Estudos em laboratório já tinham detectado uma relação entre o bisfenol e a obesidade. Essa é, porém, a primeira pesquisa em crianças e adolescentes a avaliar essa hipótese. A endocrinologista Tania Bachega, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e membro do Grupo de Trabalho dos Desreguladores Endócrinos da Regional São Paulo da SBEM, explica que, em cultura de células, já foi observado que o bisfenol seria responsável pela proliferação do tecido adiposo.
Tania alerta que as principais causas da obesidade continuam sendo o aumento do consumo de calorias e o sedentarismo. Mas especialistas estão discutindo que, apesar do aumento da ingestão calórica, a obesidade está crescendo muito mais que o esperado. A hipótese seria que substâncias químicas, chamadas de obesógenos, poderiam estar predispondo ao ganho de peso. O bisfenol, que interfere no funcionamento do sistema endócrino, seria uma dessas substâncias.
Mesmo assim, os pesquisadores não descartam a hipótese de que crianças obesas consumam mais produtos como refrigerantes e alimentos enlatados, que conhecidamente têm maior quantidade de bisfenol em suas embalagens. Outros malefícios associados ao bisfenol são câncer, diabetes, infertilidade, endometriose e ovários policísticos.
Segundo a endocrinologista Ieda Verreschi, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), estudos demonstram atuações específicas do bisfenol em alguns períodos do desenvolvimento humano, como o nascimento, a puberdade e alguns momentos da vida adulta. Nos recém-nascidos, ele pode promover a alteração no desenvolvimento das gônadas, podendo levar à ambiguidade genital. Na adolescência, está relacionado à puberdade precoce. Em adultos, se relaciona a alguns casos de câncer, como o de mama e o de próstata.
Saiba mais
A HISTÓRIA DO BISFENOL A
O bisfenol A foi sintetizado como estrogênio sintético pela primeira vez em 1891, na Rússia, mas como existiam outros estrogênios artificiais mais potentes, ele foi esquecido. Em 1930, voltou a ter suas propriedades investigadas e em 1950 fez seu retorno aplicado em policarbonatos usados para fabricar garrafas plásticas e para revestir o interior de latas de refrigerante. Nos anos 1970, surgiram as primeiras suspeitas sobre seus malefícios. Mesmo assim, sua aplicação em plásticos só aumentou, e hoje em dia é onipresente em produtos feitos de policarbonato transparente, além de ser um negócio altamente lucrativo. Estima-se que cerca de 90% das pessoas têm BPA no organismo.
Pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade de Nova York avaliaram 2.838 pessoas de 6 a 19 anos. A urina dos participantes foi analisada para quantificar a presença do bisfenol. Eles foram, então, divididos em quatro grupos, de acordo com a quantidade encontrada. No grupo com menos bisfenol na urina, havia 10,3% de crianças e adolescentes obesos. Já no grupo com maior quantidade da substância, 22,3% dos participantes estavam com obesidade. O estudo foi publicado hoje no Journal of The American Medical Association (Jama).