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Energia nuclear torna-se arma contra fraudes em alimentos

Raios gama são usados para esterilizar batatas e isótopos para comprovar se um suco está adulterado

Usina de energia nuclear: especialista garante que as técnicas nucleares não são perigosas (gjp311/Thinkstock)
DR

Da Redação

Publicado em 18 de fevereiro de 2015 às 09h16.

Viena - Raios gama são usados para esterilizar batatas e isótopos para comprovar se um suco está adulterado. Embora possa parecer estranho relacionar energia nuclear com segurança alimentar, a ONU desenvolve e recomenda essas técnicas como forma de evitar fraudes e garantir que um produto não está contaminado.

"Quando o público em geral escuta a palavra nuclear, pensa em Fukushima, em Chernobyl. Mas as pessoas não deveriam ter medo", garantiu Carl Blackburn, especialista em irradiação de alimentos.

Blackburn trabalha em Viena, na Áustria, para o programa conjunto desenvolvido pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) que busca usar a energia nuclear para trazer melhorias à agricultura e à comida.

O especialista garante que as técnicas nucleares não são perigosas e servem para dar mais segurança sobre o que comemos, além de evitar fraudes.

"As técnicas servem para saber se uma laranja realmente veio da Espanha e também se um suco de laranja é realmente 100% suco de laranja", explicou.

Isso é possível graças à análise dos isótopos estáveis, as variações naturais e não radioativas de um mesmo elemento químico e cuja proporção varia dependendo da região do planeta.

Essas diferenças ficam impregnadas na comida em uma marca que pode ser acompanhada com o uso de um espectrômetro de massas para identificar a origem de um produto.

A análise também permite saber se um produto foi adulterado. Por exemplo, é possível descobrir se um mel recebeu a adição de açúcares baratos.

"Também é importante do ponto de vista econômico, porque há países e produtores que investem na produção de comida de uma determinada maneira para ter uma marca de qualidade", disse Blackburn.

A Organização Mundial de Aduanas calcula que a fraude com alimentos cause danos no valor de US$ 49 bilhões a cada ano. As técnicas nucleares também permitem detectar níveis excessivos de antibióticos e pesticidas nos alimentos.

Outros métodos com os quais a AIEA e a FAO trabalham são irradiação de alimentos com raios gama, raios X e feixes de elétrons, que acabam com bactérias e outros microorganismos e prolongam a duração dos alimentos.

Blackburn explicou que irradiar os alimentos não significa submetê-los à radioatividade e comparou essa técnica com a da pasteurização usa no leite.

A irradiação costuma ser usada para tratar a comida de pacientes de hospitais que tenham problemas imunológicos e precisem que a comida esteja bastante esterilizada.

O procedimento pode ser aplicado a frutas, verduras, carnes, peixes e alimentos pré-cozinhados, inclusive quando já estão lacrados, o que evita precisar manipulá-los novamente e que haja riscos de contaminação .

Embora a União Europeia (UE) permita comercializar comida irradiada, sempre que no rótulo se informe que o produto foi tratado com esse método, seu consumo não é generalizado.

"É uma questão de percepção. Quando falamos de irradiação, o problema é o medo à reação do público. Nenhum supermercado quer ser o primeiro", analisou Blackburn.

A aplicação da energia nuclear à segurança alimentar é, em geral, pouco disseminada. Andrew Cannavan, chefe do Laboratório de Proteção dos Alimentos e do Meio Ambiente da AIEA, explica que, além das reservas do público, grande parte da indústria não está muito ciente da existência destas técnicas.

No entanto, muitos países já mostraram interesse em receber tecnologia da AIEA que os ajude a utilizar sistemas de controle de segurança alimentar.

"O uso de algumas dessas técnicas será regra nos próximos dez anos e haverá avanços nos procedimentos para torná-los mais baratos, aplicáveis e sensíveis", disse Cannavan, cujo laboratório fica em no município de Seibersdorf, perto de Viena.

O especialista afirma que essas técnicas teriam sido úteis em escândalos recentes, como o da venda de carne de cavalo na Europa e a presença de melamina em leites comercializados na China.

Sobre a relação entre a aplicação das técnicas e um suposto aumento no preço dos produtos, tanto Cannavan como Blackburn consideraram que com a tecnologia será possível rentabilizar mais a produção, dar mais garantias sobre a qualidade do produto e economizar na luta contra as fraudes.

"O consumidor recebe um produto melhor e mais autêntico sem custos adicionais", defende Cannavan.

São Paulo - Há quase uma semana o Japão luta para evitar que um desastre nuclear aumente ainda mais as proporções da tragédia que abateu o país. Na última sexta-feira (11), um terremoto devastou cidades inteiras da região nordeste, as quais também foram atingidas por ondas gigantes. O incidente causou danos à nuclear de Fukushima, provocando vazamentos de radiação. Os reatores nucleares danificados pelo terremoto estão entre os 55 que o Japão possui. O país é o terceiro maior produtor de energia nuclear do mundo. Segundo informações da ONG World Nuclear Power, por ano, são gerados 263,1 bilhões de kilowatts-hora (kWh) de energia nas usinas, o que equivale a 55% do total consumido pelos japoneses. A elevada dependência que o Japão tem deste tipo de energia representa, por si só, um risco, mas a intensa atividade sísmica que caracteriza a região potencializa os problemas. Entretanto, outros países grandes produtores de energia nuclear estão igualmente expostos a estes perigos. Mesmo em áreas menos sujeitas a terremotos e outros fenômenos climáticos, há ainda o risco de problemas técnicos nos reatores levarem a vazamentos, como ocorreu em Chernobyl, na Ucrânia, em 1986. De acordo com um ranking elaborado pela ONG, os Estados Unidos são os maiores geradores de energia nuclear do mundo, com 798,7 bilhões de kWh por ano em 104 reatores operando no país. O Brasil, de acordo com o estudo, está longe das primeiras colocações, com apenas 12,2 bilhões de kWh de energia gerados por ano nos dois reatores em atividade em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro. Conheça nas fotos ao lado os países que mais produzem energia nuclear no mundo:

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"Quando o público em geral escuta a palavra nuclear, pensa em Fukushima, em Chernobyl. Mas as pessoas não deveriam ter medo", garantiu Carl Blackburn, especialista em irradiação de alimentos.

Blackburn trabalha em Viena, na Áustria, para o programa conjunto desenvolvido pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) que busca usar a energia nuclear para trazer melhorias à agricultura e à comida.

O especialista garante que as técnicas nucleares não são perigosas e servem para dar mais segurança sobre o que comemos, além de evitar fraudes.

"As técnicas servem para saber se uma laranja realmente veio da Espanha e também se um suco de laranja é realmente 100% suco de laranja", explicou.

Isso é possível graças à análise dos isótopos estáveis, as variações naturais e não radioativas de um mesmo elemento químico e cuja proporção varia dependendo da região do planeta.

Essas diferenças ficam impregnadas na comida em uma marca que pode ser acompanhada com o uso de um espectrômetro de massas para identificar a origem de um produto.

A análise também permite saber se um produto foi adulterado. Por exemplo, é possível descobrir se um mel recebeu a adição de açúcares baratos.

"Também é importante do ponto de vista econômico, porque há países e produtores que investem na produção de comida de uma determinada maneira para ter uma marca de qualidade", disse Blackburn.

A Organização Mundial de Aduanas calcula que a fraude com alimentos cause danos no valor de US$ 49 bilhões a cada ano. As técnicas nucleares também permitem detectar níveis excessivos de antibióticos e pesticidas nos alimentos.

Outros métodos com os quais a AIEA e a FAO trabalham são irradiação de alimentos com raios gama, raios X e feixes de elétrons, que acabam com bactérias e outros microorganismos e prolongam a duração dos alimentos.

Blackburn explicou que irradiar os alimentos não significa submetê-los à radioatividade e comparou essa técnica com a da pasteurização usa no leite.

A irradiação costuma ser usada para tratar a comida de pacientes de hospitais que tenham problemas imunológicos e precisem que a comida esteja bastante esterilizada.

O procedimento pode ser aplicado a frutas, verduras, carnes, peixes e alimentos pré-cozinhados, inclusive quando já estão lacrados, o que evita precisar manipulá-los novamente e que haja riscos de contaminação .

Embora a União Europeia (UE) permita comercializar comida irradiada, sempre que no rótulo se informe que o produto foi tratado com esse método, seu consumo não é generalizado.

"É uma questão de percepção. Quando falamos de irradiação, o problema é o medo à reação do público. Nenhum supermercado quer ser o primeiro", analisou Blackburn.

A aplicação da energia nuclear à segurança alimentar é, em geral, pouco disseminada. Andrew Cannavan, chefe do Laboratório de Proteção dos Alimentos e do Meio Ambiente da AIEA, explica que, além das reservas do público, grande parte da indústria não está muito ciente da existência destas técnicas.

No entanto, muitos países já mostraram interesse em receber tecnologia da AIEA que os ajude a utilizar sistemas de controle de segurança alimentar.

"O uso de algumas dessas técnicas será regra nos próximos dez anos e haverá avanços nos procedimentos para torná-los mais baratos, aplicáveis e sensíveis", disse Cannavan, cujo laboratório fica em no município de Seibersdorf, perto de Viena.

O especialista afirma que essas técnicas teriam sido úteis em escândalos recentes, como o da venda de carne de cavalo na Europa e a presença de melamina em leites comercializados na China.

Sobre a relação entre a aplicação das técnicas e um suposto aumento no preço dos produtos, tanto Cannavan como Blackburn consideraram que com a tecnologia será possível rentabilizar mais a produção, dar mais garantias sobre a qualidade do produto e economizar na luta contra as fraudes.

"O consumidor recebe um produto melhor e mais autêntico sem custos adicionais", defende Cannavan.

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