Tecnologia

Empresa de cabos de internet quer conectar operadoras em Fortaleza

Cidade tem 8 rotas submarinas em suas praias, e a Angola Cable negocia com todas para criar um anel interconectando estações de chegada ao seu datacenter

Internet: imagem mostra cabos Submarinos da Angola Cables pelo mundo março/2018) (Angola Cables/Reprodução)

Internet: imagem mostra cabos Submarinos da Angola Cables pelo mundo março/2018) (Angola Cables/Reprodução)

Lucas Agrela

Lucas Agrela

Publicado em 17 de abril de 2019 às 10h44.

Última atualização em 17 de abril de 2019 às 10h45.

A Angola Cables inaugurou nesta semana seu datacenter Angonap em Fortaleza. A unidade faz parte do projeto da empresa no Brasil que compreende três cabos: o SACS (que liga o Brasil a Angola); o Monet (que vai do Brasil aos EUA); e o WACS, que liga a África à Europa. A inauguração do datacenter também marca a criação de um centro para serviços e armazenamento de conteúdos. Segundo André Martins, responsável comercial da Angola Cables no Brasil, trata-se de um datacenter neutro, que poderá ser usado por diversas operadoras. Mesmo as empresas concorrentes da angolana no mercado de cabos submarinos poderão usá-lo.

Fortaleza tem mais oito rotas submarinas que chegam em suas praias, e a Angola Cable está agora em processo de negociar com todas elas para criar um anel interconectando as estações de chegada ao seu datacenter. Além disso, a empresa não esconde o plano de ter um ponto de troca de tráfego com grandes, médias e pequenas operadoras na sua estrutura. Hoje o Ceará conta com cerca de 400 provedores locais, e algumas das principais empresas regionais nasceram no Estado. As maiores já são parceiras da Angola Cables. A empresa também anunciou o acordo com a RNP para que um ponto de troca de tráfego entre instituições acadêmicas no Brasil e na África fique baseado no Angonap.

André Martins diz que a aposta da empresa é que provedores de conteúdos e serviços queiram estabelecer suas bases de dados em Fortaleza para assegurar uma qualidade de atendimento e maior proximidade com o mercado do Nordeste do país ou para levar estes conteúdos ao exterior. "Hoje Fortaleza é um ponto de passagem de tráfego, e queremos que seja um ponto de presença", diz.

Segundo António Nunes, CEO da Angola Cables, inaugurando o datacenter "inicia-se a próxima etapa do projeto, que é ocupá-lo", brinca. Nesse momento o datacenter já tem alguns clientes importantes, como a RNP, a Globo.com e instituições de ensino, assim como o governo de Fortaleza (que recebeu parte da hospedagem de seus serviços como contrapartida pelo terreno). Mas a área e a infraestrutura do datacenter está programada para uma expansão de até quatro vezes o tamanho atual.

"Queremos que todas as empresas sejam nossas clientes, das pequenas às grandes operadoras e provedores, e por isso apostamos em um datacenter Tier III neutro na cidade", diz ele. A região Nordeste tem poucas estruturas semelhantes à que foi montada pela Angola Cables, mas há pelo menos um concorrente importante: a Ascenty, que tem estrutura em Fortaleza. Pela proximidade do mar e por conta das temperaturas médias elevadas, a montagem de um datacenter desta natureza requer esforços técnicos adicionais para controle de temperatura, umidade e salinidade do ar, mas a proximidade das rotas submarinas, segundo Rui Faria, líder do projeto e agora diretor comercial para a África, compensa esse esforço adicional

Busca de incentivos

"Chegamos em 2015 com a promessa de dois cabos e um datacenter", disse Nunes na solenidade de inauguração, com a presença de autoridades como o governador do Ceará, Camilo Santana; o prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio; e o ministro de Comunicações de Angola, José Carvalho da Rocha. Para António Nunes, se o projeto era "ter um ponto de desenvolvimento tecnológico", disse ele, ressaltando o empenho do setor público local na iniciativa, assim como o apoio do Banco de Desenvolvimento de Angola, que financiou os US$ 300 milhões investidos no projeto (entre a rede submarina e a construção do datacenter)."Fomos sonhadores e empreendedores. Hoje está criada a primeira ponte digital entre África e América Latina. Só foi possível com o apoio dos nossos acionistas e do governo Angolano".

Não havia na solenidade nenhum representante do Governo Federal, "por uma questão de agenda", disse Nunes (este noticiário confirmou que foram feitos convites mas a agenda com as autoridades angolanas inviabilizou uma data com a presença do ministro brasileiro, ou representante). O CEO da Angola Cables, contudo, não escondeu que a Angola Cables contava com a política de incentivo a datacenters que havia sido sinalizada pelo governo Michel Temer e que foi desenhada pelo Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, mas nunca publicada. Segundo ele, a empresa continuará buscando estes incentivos, considerados importantes para o projeto.

Desde que a Angola Cables iniciou o projeto, em 2015, o mercado de cabos submarinos foi afetado por uma queda considerável de preços, e a desaceleração econômica também diminuiu o potencial de mercado no curto prazo, o que deve se reverter com a retomada econômica (quando acontecer). Ainda assim, a empresa acredita que este ano terá a capacidade do datacenter plenamente ocupada.

*Este conteúdo foi originalmente publicado no site Teletime

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