Neuralink: dispositivo instalado no crânio conecta computador capaz de interpretar sinais elétricos do cérebro (Neuralink/YouTube/Reprodução)
Thiago Lavado
Publicado em 28 de agosto de 2020 às 21h18.
A neurotech Neuralink, uma empresa do bilionário Elon Musk, apresentou nesta sexta-feira, 28, atualizações de um produto parar criar uma ligação direta entre cérebros e computadores. O executivo mostrou o dispositivo funcionando e sendo capaz de reconhecer quando um porco, que tinha o implante, usava o focinho para farejar ou tocar alguma coisa.
O resultado ainda é incipiente, mas mostra o futuro previsto pela Neuralink, que, segundo Musk, planeja usar esse tipo de tecnologia para resolver problemas cerebrais corrigindo sinais elétricos. A empresa planeja solucionar problemas como ansiedade, perda de memória, AVCs, perda de audição, paralisia e cegueira.
Um dos avanços que o protótipo teve no último ano foi na implantação: a equipe da Neuralink diminuiu o tamanho do dispositivo e agora ele pode ser instalado removendo um pedaço do crânio do tamanho de uma moeda. A tecnologia tem cerca de 8mm de espessura, comparada aos 10mm do crânio. Segundo engenheiros, o dispositivo é robusto e não seria facilmente danificado. Ele também precisa ser recarregado por indução elétrica uma vez por dia.
Musk explicou ainda que a instalação pode ser feita em menos de uma hora, sem a necessidade de internação no hospital ou de anestesia geral. O executivo também afirmou que a Neuralink está trabalhando de perto com as autoridades regulatórias nos Estados Unidos para alinhar todos os requisitos de segurança.
Durante a apresentação, Musk apresentou outros porcos para atestar a segurança da tecnologia. Um deles estava com mais de um implante, outro teve implantes removidos e foi apresentado para mostrar a reversibilidade da aplicação, que pode ser tirada ou atualizada depois. Um dos engenheiros do projeto explicou que porcos foram escolhidos por terem uma espessura semelhante à do crânio humano e um tipo membrana cerebral parecida.
Os técnicos da Neuralink afirmaram que os primeiros testes devem ser realizados em pessoas tetraplégicas ou paraplégicas, a fim de trazer movimento e restaurar capacidades perdidas. Atualmente, segundo eles, o maior desafio é fazer o isolamento elétrico dos pequenos fios que ficam conectados ao cérebro, para evitar interferências que não sejam sinais eletrônicos dos neurônios.
Questionado sobre o custo da tecnologia, Musk falou sobre deixar o custo mais baixo possível, para próximo de algumas milhares de dólares, incluindo a cirurgia de implante. “O intuito é que seja próximo do custo de um smartphone ou de um dispositivo inteligente”, afirmou.
Musk não é o único interessado em conectar computadores e mentes: no final de 2019, Mark Zuckerberg também decidiu colocar o Facebook nessa área, com um investimento de 1 bilhão de dólares na startup CTRL-Labs, que também desenvolve interfaces para conectar computadores ao cérebro. Atualmente, a Neuralink conta com cerca de 100 funcionários, mas Musk deixou claro durante o evento que o objetivo é chegar a mil pessoas trabalhando no projeto e disse que há vagas abertas.
Embora as primeiras aplicações sejam focadas no uso médico e de correção de problemas causados por falhas na transmissão elétrica de neurônios, o bilionário não negou que há a possibilidade de outros usos, como armazenamento e acesso de memórias, comunicação com as máquinas e até jogos. "Em última análise, você vai poder baixar [suas memórias] em um novo corpo".
"Isso está obviamente soando como um episódio de Black Mirror. Mas acho que eles são bons de previsão", disse o executivo. "O futuro vai ser esquisito".