O e-mail morreu
Antigo sinônimo de comunicação eficiente, ele está perdendo lugar para ferramentas mais ágeis e informais - como redes sociais, mensageiros isntantâneos e blogs
Da Redação
Publicado em 30 de março de 2010 às 14h33.
Na turma da faculdade de direito da estudante Paula Roese Mesquita, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, toda a comunicação virtual acontece pelo Orkut -- da discussão sobre temas de provas a convocações para festas. Afinal, tudo o que é comentado entre eles fica registrado na tela, evitando assim uma interminável troca de mensagens eletrônicas entre os colegas de classe. "É muito melhor. Quando abro um e-mail, já fico com preguiça de responder, porque em geral são longos e formais", diz Paula. A preferência é comum a muitos jovens no mundo. Eles fazem parte de uma geração que está abandonando o e-mail em favor de redes sociais (como o Orkut), comunicadores instantâneos (como o MSN) e mesmo o Twitter. Em setembro, 59 milhões de pessoas acessaram comunidades e ferramentas de mensagens instantâneas no Brasil, ante 28 milhões de usuários de e-mails, segundo o instituto de pesquisa Ibope Nielsen Online. O tempo gasto com mensagens eletrônicas foi de apenas 2 horas por mês, menos da metade do tempo despendido com comunicadores instantâneos. "É a prova de que o e-mail, do jeito como o conhecemos, está com os dias contados", diz César Taurion, gerente de novas tecnologias da IBM Brasil.
A necessidade de tornar a comunicação mais ágil é o principal motivo para a morte gradual do e-mail. Há 20 anos, aguardar a resposta de uma carta durante dias era algo tão corriqueiro quanto irritante. Com a popularização da internet, houve uma verdadeira revolução nos costumes -- e o tempo para uma troca de mensagens caiu para apenas algumas horas ou minutos. Como o mundo e a tecnologia não param de avançar, agora vão ficando evidentes as desvantagens -- e os limites -- do e-mail. Na opinião dos especialistas, ele deverá ser consolidado como um meio de comunicação sem interação, usado apenas por quem não precisa de respostas urgentes. Quem tem pressa recorrerá cada vez mais a alternativas como bate-papo virtual, mensagens de texto via celular (SMS) ou redes sociais. O Twitter é hoje uma das ferramentas que melhor caracterizam a essência da interação virtual. Por mensagens de até 140 caracteres, um usuário pode avisar instantaneamente dezenas de amigos sobre uma promoção recebida no emprego ou sobre a falta de luz em um bairro. As mensagens dispensam o "Oi, tudo bem?" introdutório do e-mail padrão e não exigem resposta de quem a recebeu. A maioria das novas ferramentas de comunicação exibe ainda símbolos gráficos que falam por si. Sinais coloridos indicam se o usuário está ocupado, ao telefone, em reunião ou disponível para falar. "As mensagens instantâneas podem diminuir em 40% o número de e-mails enviados numa empresa", diz Eduardo Campos, gerente de colaboração da Microsoft.
Como seria de esperar, são os mais jovens a se lançar com mais avidez à nova fronteira da comunicação. Uma pesquisa do Instituto Informa e da agência de publicidade Binder/FC+M mostra que o MSN é a forma preferida de diálogo virtual para 76% dos jovens brasileiros, seguido do Orkut, usado por 18% deles. O e-mail é o terceiro colocado, adotado prioritariamente por apenas 4%. Também as empresas, nas quais o correio eletrônico reinou absoluto nos últimos anos, começam a seguir essa trilha. "Para os negócios, o e-mail é lento, inconfiável e impreciso", diz Michael Maoz, analista da consultoria em tecnologia Gartner. A distribuidora de aço GGD Metal criou a regra para que seus funcionários usem o e-mail o mínimo possível. A comunicação dentro da empresa é feita por mensagens instantâneas e, no caso de assuntos mais formais, em reuniões. Na negociação com clientes, o e-mail ficou restrito a finalizações de pedidos e contratos. A decisão foi tomada em setembro do ano passado, justamente quando a companhia passava por uma baixa nas vendas trazida com a crise global. O resgate do contato pessoal, mesclado com ferramentas para as conversas virtuais -- como o bate-papo online --, é hoje visto como uma possível explicação para o crescimento gradual dos negócios. "Não sei se a retomada nas vendas foi apenas resultado da presença maior, mas passamos a receber elogios dos compradores", diz André Dias, diretor de marketing e vendas da empresa.
O exemplo da GGD Metal, porém, ainda não é regra. Muitas empresas rejeitam o Twitter ou sistemas de mensagens instantâneas porque temem a perda de produtividade dos funcionários, que podem ficar tentados a bater papo no horário do trabalho. Mas alternativas como a da americana Yammer devem derrubar as barreiras de quem resiste. Ela oferece um sistema parecido com o Twitter, mas para ambientes corporativos. A empresa foi fundada em outubro do ano passado e hoje já tem 50 000 clientes, entre eles a consultoria Deloitte, a rede de televisão americana Fox e a fabricante de chips AMD. A ferramenta da Yammer permite a comunicação apenas entre os funcionários e, como possibilita que todos leiam as mensagens, inibe os assuntos particulares. "Modéstia à parte, nós revolucionamos a comunicação corporativa", diz Rahul Agarwal, diretor de comunicação da Yammer. Na AMD, cliente desde o ano passado, 2 000 funcionários já aderiram. "Pedidos de informações para projetos ou mensagens como quem deixou um sanduíche no micro-ondas, por favor, vá buscar hoje se restringem à ferramenta e não tomam espaço do e-mail", diz John Taylor, diretor global de comunicação de produtos da AMD.
Grandes empresas de internet também procuram alternativas para satisfazer quem deixa o e-mail de lado. O Google lançou no começo de outubro o Google Wave, um serviço ainda em teste que reúne em um só sistema mensagens instantâneas, armazenagem de documentos e recursos de rede social. Enquanto alguém escreve uma mensagem, é possível acompanhar a digitação letra a letra. Dá também para trocar imagens, vídeos e documentos. A ferramenta foi recebida com euforia. "O Wave permite que a conversa escrita se assemelhe a um papo com voz e aumenta a interação", diz David Hallerman, analista da empresa de pesquisas em internet eMarketer. Aos poucos, o e-mail, antes o símbolo da revolução das comunicações do novo milênio, vai ganhando uma conotação ligeiramente pré-histórica. E assim caminha a humanidade...