Tecnologia

Defasagem brasileira em tecnologia é resultado de escolhas erradas

Ao preterir a pesquisa aplicada, desenvolvida em acordo com o setor empresarial, Brasil acabou muito atrás do desempenho de países como a Coréia do Sul, onde a ênfase desde os anos 70 é em tecnologia

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 12h39.

Não é à toa que a Coréia do Sul está em 4º lugar no ranking mundial de registro de patentes. No início dos anos 70, o país estabeleceu que não cresceria sem investir pesadamente em educação, tecnologia e inovação. O governo entendeu que precisava aproximar a ciência das empresas, priorizando as pesquisas aplicadas. Três décadas depois, 2,64% do Produto Interno Bruto (PIB) coreano, cerca de 19 bilhões de dólares, é direcionado para Pesquisa e Desenvolvimento (P&D). Esse patamar supera o investimento americano, de 2,62% do PIB.

No Brasil, as diretrizes assumidas foram completamente diferentes. O país apostou todas as fichas no desenvolvimento da ciência pura, pressupondo que uma transição para aplicações tecnológicas ocorreria espontaneamente. "Esse modelo até funciona bem no caso da pesquisa agrícola, mas há uma enorme dificuldade no caso da indústria", afirma o economista Claudio de Moura Castro. "O resultado de nossas escolhas históricas é que temos uma ciência relativamente avançada para nossa realidade, mas a tecnologia anda a passo de tartaruga."

Castro cita alguns indícios do desequilíbrio resultante desse modelo. O Brasil hoje responde por 1,5% da produção científica mundial, o que lhe confere o 17º lugar no ranking por esse critério. Além disso, a cada dois anos, aproximadamente, o Brasil ultrapassa um país nessa classificação. Trata-se de um desempenho notável para uma nação com educação fundamental de péssima qualidade. Entretanto, esse resultado não reflete um bom desempenho no comércio internacional. O país recebe apenas 1% da receita mundial com exportações, o que demonstra a baixa participação da pesquisa científica nos produtos da pauta de exportação.

Vícios

Além desse descompasso, a produção científica brasileira distanciada da economia traz outros problemas. O sistema é caracterizado pela crença em que a ciência é impulsionada por pura curiosidade do pesquisador e, raramente, por uma demanda da indústria; o tempo de pesquisa não é um elemento fundamental, e os cientistas escrevem para ser lidos por outros cientistas.

"A produção científica coreana é muito mais concentrada, porque a ciência está lá para resolver as demandas da tecnologia", diz o economista. Além disso, predomina entre os pesquisadores brasileiros um preconceito em relação às áreas tecnológicas. "O cientista brasileiro acha feio ser camelô de seu projeto, e a linguagem de sua tribo é totalmente diferente da linguagem empresarial." As repercussões dessa cultura são a baixíssima incidência de pesquisas contratadas (projetos encomendados pela iniciativa privada a institutos públicos) e a supervalorização de papers em detrimento de trabalhos de consultoria empresarial.

Outro desdobramento é a baixa participação de dinheiro particular em P&D no Brasil. Enquanto aqui o investimento privado é de cerca de um terço do total, na Coréia ele responde por 73,7% -- e cresce 5,1% ao ano, acima da média de expansão dos investimentos, de 4,4% ao ano.

Caminho inverso

Curiosamente, a Coréia do Sul está agora preocupada em investir em ciência. Segundo Deok Soon Yim, presidente do Instituto de Políticas de Ciência e Tecnologia, órgão coreano responsável pelo planejamento de iniciativas na área, o orçamento público para pesquisa básica será incrementado em 25% no ano que vem. "Chegamos à conclusão de que não podemos basear nosso crescimento futuro apenas em soluções tecnológicas."

Yim e Castro participaram nesta terça-feira (16/8) de seminário sobre as experiências coreana e brasileira de desenvolvimento. O encontro é promovido pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP) e pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe).

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