Tecnologia

"De volta para o futuro" fica no passado

Para o público em 1989, quando os CDs eram o mais recente lançamento tecnológico, "De Volta para o Futuro II" retratou um mundo excitante 30 anos à frente


	"De volta para o futuro II": muitos dos dispositivos previstos pelos roteiristas que enviaram a dupla excêntrica do filme para o futuro, especificamente 21 de outubro de 2015, não se concretizaram
 (Divulgação)

"De volta para o futuro II": muitos dos dispositivos previstos pelos roteiristas que enviaram a dupla excêntrica do filme para o futuro, especificamente 21 de outubro de 2015, não se concretizaram (Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 20 de outubro de 2015 às 13h17.

Quando Marty McFly e "Doc" Brown chegam ao ano de 2015 com a ajuda de uma máquina do tempo, direto de 1985, eles encontram um admirável mundo novo de carros voadores movidos a lixo, sapatos auto-amarráveis e garçons-robôs.

Para o público em 1989, quando os CDs eram o mais recente lançamento tecnológico, a comédia de ficção científica "De Volta para o Futuro II" retratou um mundo excitante 30 anos à frente no qual as pessoas iriam voar em hoverboards que desafiam a gravidade, vestindo roupas autoajustáveis e que secam sozinhas, enquanto os cachorros eram levados para passear por um drone.

Lamentavelmente, muitos dos dispositivos previstos pelos roteiristas que enviaram a dupla excêntrica do filme - e seu carro DeLorean transformado em máquina do tempo - para o futuro, especificamente 21 de outubro de 2015, não se concretizaram.

No entanto, em muitos aspectos, o 2015 da realidade é ainda mais diferente do que os cineastas Robert Zemeckis e Bob Gale poderiam ter imaginado, dizem futuristas que estudam e projetam tendências.

O que as pessoas podem fazer atualmente com os smartphones era quase inconcebível na época.

"Suas capacidades atualmente, incluindo o acesso a todas as informações do planeta, teria certamente surpreendido até mesmo os mais futuristas de 30 anos atrás... que não imaginaram que um telefone poderia se tornar algo além de falar e escrever mensagens", declarou à AFP Ross Dawson, futurista baseado em Sydney.

"Na época em que o filme foi feito, as pessoas olhando para a realidade de hoje em dia a considerariam bastante impressionante", disse.

Tecnologias que atualmente as pessoas não conseguem viver sem - como Google e Wikipedia, redes sociais como Facebook e Twitter, smartphones com GPS e sistemas de compras on-line - teriam sido difíceis de prever quando o filme foi lançado.

Mundo sem e-mail

No filme, Marty, interpretado por um jovem Michael J. Fox, recebe um aviso de demissão em casa por fax - uma tecnologia agora ultrapassada que parecia de ponta na década de 1980. A revolução da internet estava chegando e o mundo ainda não havia conhecido os e-mails.

Em 1985, apenas um quarto das casas nos Estados Unidos possuía um forno micro-ondas, e os aparelhos de videocassete eram um dispositivo que todos queriam ter.

Atualmente as pessoas podem comprar para suas casas uma impressora 3-D na internet por algumas centenas de dólares, que pode produzir qualquer coisa, de uma arma que esguicha água a uma que atira balas.

As pessoas de 2015 podem fazer downloads de músicas e assistir a filmes em "streaming" - termos que nem mesmo existiam em 1985.

Hoje em dia é possível modificar o genoma humano para corrigir um problema no DNA que provoca uma doença, criar carne de hambúrguer a partir de células-tronco das vacas, e uma sonda-robô foi enviada a um cometa a centenas de milhões de quilômetros da Terra.

"Os seres humanos se acostumaram muito rapidamente às inovações", disse Dawson, fundador da Future Exploration Network, que oferece serviços de planejamento de cenários.

Ainda assim, o filme acertou em alguns pontos.

Existem telas planas, videochamadas, tablets e aplicativos com previsões meteorológicas.

Embora ainda não esteja sendo plenamente usada, é possível contar com a tecnologia biométrica para pagar contas ou destravar portas através das impressões digitais, e óculos inteligentes semelhantes aos utilizados pelos filhos de Marty já estão a caminho.

Mais ciência que ficção

"Eles foram realmente muito visionários ao acertar em tantas coisas", declarou Thomas Frey, do DaVinci Institute, um think tank futurista.

"Mostraram isso de uma maneira cômica, apatetada, na verdade, mas acho que eles fizeram um trabalho fenomenal na época ao antecipar coisas que devem ter parecido bastante ridículas na época".

Algumas previsões estavam à frente do seu tempo.

Há trinta anos, a maioria dos futuristas apontariam uma chance de mais de 50% de existirem carros voadores em 2015, declarou o futurista independente Jack Uldrich à AFP por telefone a partir de Minneapolis.

"Existem algumas empresas que estão trabalhando em carros voadores, mas o que elas não têm é a decolagem (vertical)", como demonstrado pelo DeLorean de Doc.

Inovadores se inspiraram no filme: a empresa com sede na Califórnia Hendo está criando uma hoverboard que funciona com repulsão magnética. A fabricante de tênis Nike está trabalhando nos sapatos auto-amarráveis como os utilizados por Marty.

O que vem agora

A ficção científica influenciou os avanços científicos através das eras, mas a tarefa pode se tornar mais difícil à medida que o desenvolvimento tecnológico se acelera exponencialmente.

A série original "Star Trek" (1966-1969), por exemplo, é um bom exemplo de antencipação do futuro através das mentes inventivas de seus redatores, pois em seus antigos episódios é possível ver os protótipos do celular, do disquete, do DVD, do tablet e do scanner.

Será que os seres humanos se teletransportarão, viajarão no tempo, ou descobrirão o segredo da vida eterna em 2045? Quem sabe, dizem os especialistas.

"Uma das coisas que poderíamos facilmente ver em 30 anos são... humanoides e outros robôs como uma parte completa do nosso ambiente", disse Dawson.

Também é provável que "as pessoas utilizem seus pensamentos para controlar o mundo ao seu redor, até mesmo utilizando seus pensamentos para se comunicar diretamente com outras pessoas", afirma.

Dawson prevê um futuro não com carros voadores, por si só, e sim com casulos anto-conduzidos - uma alternativa mais barata e segura.

Uma coisa que o filme errou fortemente: os advogados não foram abolidos.

"Acho que um monte de gente gostaria que isso tivesse se tornado realidade", brincou Uldrich - mas então quem resolverá as disputas entre humanos e robôs no futuro?

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