Foguetes americanos Himars: lançamento durante exercício militar em Marrocos (Paul HANDLEY/AFP)
Os mísseis de precisão Himars (High Mobility Artillery Rocket System) que os Estados Unidos fornecem para a Ucrânia deram ao seu exército um novo impulso no campo de batalha, fazendo inclinar a balança contra a Rússia, o que pode pressionar o país a interromper sua ofensiva, segundo especialistas.
Desde meados de junho, a Ucrânia conseguiu destruir mais de 20 grandes depósitos de munição e postos de comando russos usando os Himars, alvos que antes estavam fora do alcance da artilharia tradicional.
Vídeos postados nas redes sociais mostram explosões em depósitos de munição, especialmente em Lugansk, Nova Kakhovka e outros locais controlados pela Rússia, testando o poder e a precisão dessa nova arma.
"Os invasores já puderam sentir como é a artilharia moderna. Não terão nenhuma retaguarda segura em nosso território", disse o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky.
Especialistas acreditam que esses novos sistemas não são uma solução definitiva e que a Ucrânia precisa de mais armas e sistemas de radar para derrotar os russos.
Para o analista Christopher Dougherty, do centro de estudos Center for New American Security, em Washington, os Himars não decepcionam.
No entanto, acrescenta: "a arma em si não muda as coisas".
O M142 Himars (High Mobility Artillery Rocket System) é uma plataforma móvel de lançamento de foguetes montada em blindados que pode transportar mísseis guiados por GPS de 227 mm com um alcance de cerca de 80 quilômetros.
Ao contrário dos sistemas de foguetes que ambos os lados usaram na guerra, os mísseis Himars podem ser direcionados a alvos precisos, tornando-os mais confiáveis.
Atualmente, a Ucrânia tem 12 desses sistemas que podem lançar seis foguetes por vez e centenas de munições.
Além de serem altamente precisos, esses foguetes voam baixo e rápido para evitar as defesas aéreas russas. E com sua enorme mobilidade, são muito difíceis de rastrear e destruir.
"Os Himars estão mudando os combates na Ucrânia. Permitem que os ucranianos ataquem os russos a uma distância maior e em áreas que eram inacessíveis devido às defesas aéreas russas", disse Mick Ryan, general aposentado e analista australiano, no Twitter.
Não são apenas os Himars, desde junho a Ucrânia tem artilharia de alta precisão fornecida por outros aliados, como obuses franceses Ceasar, e na semana passada os Estados Unidos anunciaram que poderiam fornecer 1.000 cartuchos de uma nova artilharia guiada com precisão.
Ryan acrescenta que com isso a Ucrânia se concentra em atacar pontos fracos dos russos, como depósitos de munição perto de ferrovias e em locais relativamente próximos à frente de batalha.
Eventualmente, os militares russos se adaptarão e posicionarão seus depósitos mais longe da linha de frente, dizem os analistas, mas isso complicará sua logística.
Além disso, o número de caminhões russos diminuiu por causa da guerra.
Phillips O'Brien, professor de estudos estratégicos da Universidade St Andrews, na Escócia, diz que os sistemas Himars fazem parte de uma estratégia mais ampla para atingir a logística russa e forçá-los a atrasar suas defesas aéreas.
Isso deixaria a artilharia russa na linha de frente, principal carta ofensiva de Moscou, menos protegida das forças aéreas e terrestres ucranianas.
Enquanto isso, Kiev pressiona Washington a fornecer mísseis ATACMS, compatíveis com os Himars e com alcance de 300 quilômetros.
"Nossas autoridades estão negociando em todos os níveis com os representantes dos Estados Unidos sobre a necessidade de nos fornecer mísseis para os Himars de maior alcance", disse Fedir Venislavskyi, parlamentar ucraniano.
Até agora, a Casa Branca negou o possível uso de certas armas para atacar alvos dentro do território russo, o que poderia levar os Estados Unidos e a OTAN diretamente à guerra.
Dougherty argumenta que os EUA não têm muitos ATACMS em seu estoque e a produção parou há vários anos.
O'Brien estima que, além dos Himars, o que a Ucrânia precisa é de mais proteção contra ataques aéreos russos. "Dar à Ucrânia mais e melhores capacidades antiaéreas deve ser uma prioridade tão grande quanto fornecer armas de longo alcance", escreveu O'Brien no Twitter.