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Como a indústria do sexo se adaptou à web

As produtoras de conteúdo adulto vivem a mesma crise que atingiu as gravadoras de música, com a queda das vendas dos CDs e sua substituição pela distribuição online

Embora também vendam conteúdo online, os estúdios perdem feio para os tubes (Ian Waldie/Getty Images)
DR

Da Redação

Publicado em 19 de novembro de 2012 às 14h28.

São Paulo - Depois da música, é a indústria do sexo que se reinventa.
 Os velhos DVDs dão lugar a sites de vídeo e webcams. Por trás deles estão programadores e atrizes que faturam alto com conteúdo adulto para web, celulares e redes sociais.

Considerado o rei do pornô americano, Steven Hirsch comandava em 2007 a produção de 60 filmes em DVD por ano, estrelados pelas mais belas atrizes do mercado. À frente do maior estúdio de conteúdo adulto do mundo, a Vivid Entertainment, Hirsch era o cara até ser engolido por uma nova concorrência. Uma onda de sites de sexo derrubou as vendas de seus DVDs e causou um baque tão grande nos negócios que alguns chegaram a declarar que a internet havia matado a indústria de filmes pornôs, assim como aconteceu com os CDs de música. Verdade, mas só para quem não soube se adaptar. Uma nova geração de empreendedores fatura alto criando conteúdo adulto para internet, tablets, smartphones e redes sociais.

Na liderança desse grupo está Fabian Thylmann, um empresário alemão que controla algumas das maiores produtoras e sites do mercado de sexo. Sob o comando de sua empresa, a Manwin, estão nomes como Brazzers, Digital Playground, Xtube e Pornhub, para citar alguns. Se os donos da Vivid e da Playboy iniciaram a carreira em estúdios fechados, rodeados de belas mulheres, Thylmann entrou no mundo do sexo como programador. E a Manwin é, na sua própria definição, uma empresa de tecnologia. Sinal de que os tempos mudaram. “Não há mais volta”, afirmou a INFO Steven Hirsch, da Vivid. “Os DVDs, que há cinco anos somavam 70% do mercado, hoje são menos de um quinto e continuam em queda.”

As produtoras de conteúdo adulto vivem a mesma crise que atingiu as gravadoras de música, com a queda das vendas dos CDs e sua substituição pela distribuição online. Além de pirateados em sites de torrents, os vídeos de sexo hoje inundam os chamados tubes, versões adultas que copiam o modelo de exibição e publicação do YouTube. Há ainda a explosão de páginas de webcams, a versão moderna do disk-sexo, na qual garotas tiram a roupa em troca de alguns dólares por minuto.

Embora também vendam conteúdo online, os estúdios perdem feio para os tubes. Segundo a ferramenta de análise de tráfego Google DoubleClick Ad Planner, o site da Vivid tem 3,8 milhões de visualizações por mês. Já as páginas de tube do xHamster, por exemplo, são acessadas mais de 4,8 bilhões de vezes ao mês. “Há uma nova geração de internautas que não coloca sequer 1 dólar na mesa para ver sexo online”, afirma Peter Warren, editor-sênior da Adult Video News (AVN), publicação que há 27 anos cobre a indústria de filmes adultos. “Vivemos nosso pior momento.”


Fabian Thylmann, fundador da Manwin, discorda. “Crescemos 15% ao ano, sem contar as aquisições”, disse durante uma palestra na Internext Expo 2012, realizada em janeiro deste ano em Las Vegas. Juntos, os mais de 100 sites da empresa atraem cerca de 60 milhões de visitantes por dia, que equivalem a toda a população do Reino Unido. Embora não divulgue valores, estima-se que seu faturamento ultrapasse os 200 milhões de dólares ao ano, mais do que o dobro da Vivid em seus dias de glória. O segredo do sucesso? Entender as ferramentas de distribuição online dos novos tempos.

Sua empresa possui páginas de cams, como a Webcams. com, e sete dos 20 maiores sites de tube da web, como Xtube e YouPorn. Neles, há uma mistura de conteúdo gratuito e pago, com imagens licenciadas de outras produtoras, cenas caseiras postadas por usuários e trechos de filmes da própria empresa. O grande tráfego desses sites os torna plataforma importante para divulgar lançamentos e observar tendências. Um exemplo? A Manwin sabe que os picos de acesso do Pornhub no Brasil acontecem às segundas-feiras, às 22 horas, e aos domingos à meia-noite, e que as estrelas mais buscadas no país são Lela Star e Sasha Grey. Essas informações são usadas para direcionar anúncios ou mesmo pautar suas produtoras que, juntas, gravam mais de 250 cenas de sexo por mês.

Marketing de afiliados

Thylmann construiu um império baseado em aquisições. Com 17 anos, criava software para a coleta de dados de tráfego. Em 2006, começou a buscar oportunidades e adquiriu três pequenos sites europeus. Em menos de três meses, seu faturamento cresceu 50%. O truque é o mesmo usado pelos sites pornôs desde o início da década de 1990, uma técnica chamada marketing de afiliados. Consiste basicamente em pagar por publicidade a partir de resultados.

Em vez de estabelecer um valor fixo por um banner em uma página, por exemplo, a remuneração é feita a partir do tráfego que ele gerar, ou dos produtos e serviços comprados a partir daquele link. Isso significa que um usuário pode passar horas apenas nos vídeos gratuitos do Xtube, mas basta se interessar por um anúncio e clicar para dar dinheiro ao site. A Amazon foi uma das primeiras empresas de internet a usar a prática, na década de 1990, e tornou-se a gigante mundial das vendas online. A diferença é que a Manwin aperfeiçoou a técnica como poucas.


“Temos duas equipes de vendas, com um total de 50 pessoas de TI e de design trabalhando para essas equipes”, diz Thylmann. A missão desses grupos é garantir o melhor resultado possível tanto para os anunciantes em suas páginas como para os banners que a empresa compra em outros sites.

Uma das estratégias é mudar constantemente as páginas para as quais eles apontam, dando a sensação de novidade para o usuário e gerando dados para melhorar o posicionamento dos anúncios. A empresa desenvolveu um programa que permite aos próprios parceiros fazer essa rotatividade dentro de seus sites. Ele é uma variação de um software para controle de afiliados criado por Thylmann. Apelidado de Nats, tornou-se uma das mais utilizadas ferramentas da indústria.

Mobilidade e interação

Outra estratégia da Manwin é investir em múltiplas plataformas. A empresa controla o site e os canais de TV da marca Playboy e possui uma equipe de 30 pessoas dedicada a adaptar conteúdo a aparelhos conectados, como TVs, tablets e smartphones. Hoje, todas as suas páginas estão disponíveis na versão mobile, e são acessadas por mais de 4,5 milhões de pessoas diariamente em seus tablets ou smartphones.

“Somente na América Latina, o mercado de conteúdo adulto mobile irá crescer de 54 milhões de dólares, neste ano, para 68 milhões em 2017”, disse a INFO Charlotte Miller, analista da empresa de pesquisa Juniper. O potencial é tão grande que já há quem foque o conteúdo quase que exclusivamente nessas plataformas.Autodenominada uma produtora geek, a americana 
Pink Visual aposta nas plataformas móveis. “Temos 2 mi
lhões de acessos por mês e 50% do nosso tráfego é mobile”,
 disse a INFO Allison Vivas, a presidente da produtora. A
 Pink Visual também criou um serviço na nuvem que permite assistir filmes em múltiplas plataformas. O usuário
 desembolsa entre 3,99 e 5,99 dólares por uma cena cur
ta que pode ser baixada e assistida quantas vezes quiser.


A ideia de associar preço baixo a uma plataforma que permite o fácil acesso ao conteúdo foi justamente a fórmula encontrada pela Apple para ressuscitar a indústria fonográfica. O modelo de negócios do iTunes permite cobrar centavos ou apenas alguns dólares por uma música, o que fez o serviço estourar. O sucesso se repetiu na app store, que dá aos usuários a tranquilidade de comprar aplicativos sem medo de fraudes ou problemas de segurança. Copiada no modelo, a Apple mantém firme sua determinação de não aceitar conteúdo adulto em suas lojas.

De olho nesse mercado, o inglês Stuart Lawley anunciou para 2013 o lançamento de uma grande loja virtual. Seu endereço? Milhares de sites que atuarem sob a chancela do domínio .xxx, o mais polêmico empreendimento pornô dos últimos anos. Conhecido como “distrito da luz vermelha da web”, ele foi lançado ao público em dezembro do ano passado e funciona como um .com ou .net. A única diferença é que só entram sites de conteúdo adulto, como o http://www.porno.xxx. Mais de 225 mil endereços já foram registrados, a um custo anual de 60 dólares, contra 10 cobrados pelo .com. Alguns deles, considerados mais fortes, foram vendidos a preços especiais. Nomes como freeporn.xxx acabaram arrematados por valores entre 100 mil e 500 mil dólares.

A ideia de Lawley é criar um sistema de micropagamento para diminuir os preços da pornografia. Ele unirá em um único processamento as compras de um mesmo cliente feitas em diferentes páginas do .xxx. É como se o domínio se tornasse uma grande loja, na qual todos os endereços diluem as taxas cobradas pelas operadoras de cartão. O sistema, inspirado no iTunes e na app store, garante que todas as informações pessoais fiquem com a ICM Registry, empresa de Lawley. “O usuário pode buscar pelos seus fetiches mais absurdos, porque o site não sabe quem ele é”, disse Lawley a INFO.

Search.xxx - A ICM demorou cinco anos para obter a aprovação do .xxx na Icann (Internet Corporation for Assigned Names and Numbers), o órgão que regula a internet. Mas mesmo antes de ser lançado já era criticado pelos grandes nomes da indústria. As principais queixas dizem respeito ao preço e à insegurança que ele criou. Afinal, milhares de empresas se sentiram obrigadas a registrar um nome para defender suas marcas. Tanto que a Manwin move um processo contra a ICM e a Icann acusando o .xxx de antitruste.

Lawley não nega que, do total de endereços, 80 mil tenham sido criados apenas de forma defensive. Mas diz que as pessoas fazem acusações sem compreender direito o negócio. “Nós mesmos tiramos mais de 20 mil nomes de celebridades, sem nenhum custo, para evitar que alguém registrasse algo como bradpitt.xxx”, diz. A ICM também deu um prazo para que os grandes marcas e países removessem seus nomes, evitando sites como Microsoft.xxx ou EUA.xxx.


“Muitos governos enviaram centenas de combinações de palavras”, diz Lawley. Em tempo: o Brasil ainda não percebeu o constrangimento que o .xxx pode gerar e não se mexeu.

Quanto ao custo, a explicação envolve o modelo de negócios do .xxx. Sua proposta é ser uma area onde o consumidor se sinta mais à vontade para buscar e comprar conteúdo adulto. Além de adotar critérios rigorosos contra imagens de menores de idade, a ICM fez uma parceria com a empresa de segurança McAfee para escancear diariamente todas as páginas em busca de vulnerabilidades. Nada que grandes sites, como Playboy, Vivid ou as páginas da própria Manwin, não façam, mas o foco do domínio não está necessariamente nessas grandes empresas.

Esperto, Stuart Lawley percebeu o potencial de unir pequenos sites para oferecer uma estrutura similar à dos grandes nomes. Filho de um motorista de ônibus e de uma dona de casa, ele tem tino para bons negócios. Após formar-se em engenharia em Londres, Lawley fez uma fortuna considerável ao investir na internet no período da bolha. A empresa que criou, uma fornecedora de tecnologias para provedores, foi vendida por 240 milhões de dólares, em 2000. Com dinheiro de sobra, passou uma temporada à toa nas Bahamas e depois comprou a ICM e criou o domínio .xxx.

Em setembro, sua empresa lançou o Search.xxx, um buscador tipo Google para as suas páginas. Hoje, como em todos os serviços web, ganha a briga quem está mais bem ranqueado nos sites de busca. Mais uma mudança que não tem nada a ver com o velho modelo de negócio dos filmes em DVD.

Luz, câmera, ação

Referência na produção de conteúdo adulto desde a época do cinema mudo, o Vale de San Fernando, na Califórnia, anda devagar. Até cinco anos atrás, centenas de estúdios disputavam atores e atrizes que ganhavam, por cena, algo em torno de 1 200 dólares. Estrelas como Briana Banks, uma quase sósia de Pamela Anderson, eram contratadas com exclusividade e faturavam até 100 mil dólares anuais. San Fernando, ao todo, lançava mais de 12 mil filmes em DVD por ano.

Hoje, a região conhecida pelos apelidos de San Pornando ou Vale do Silicone tem menos de 40 estúdios que mal produzem 3 mil filmes por ano. Os contratos de longa duração são raros e atrizes desconhecidas podem ganhar míseros 400 dólares por cena, enquanto homens recebem 150. No Brasil não é diferente. Se em 2002 os filmes em DVD movimentaram 450 milhões de reais, em 2009 o valor não chegou a 100 milhões. Ironicamente, foi a própria indústria pornô que contribuiu para esse cenário.


Desde o surgimento da web, os sites de conteúdo adulto estiveram na vanguarda da tecnologia. Das transmissões de streaming ao desenvolvimento de sistemas de pagamento online, essas páginas impulsionaram a evolução da internet e aumentaram a necessidade dos usuários de mais velocidade para o acesso. Uma pesquisa do Nielsen NetRatings aponta a pornografia e a pirataria como as responsáveis pelo aumento da demanda por banda larga na Europa. Além disso, com mais velocidade, ficou mais fácil baixar e subir arquivos na rede, o que beneficiou todos os usuários e as empresas .com.

Uma consequência direta desse novo cenário foi a entrada da concorrência pesada de conteúdo amador. Em sites como o Xtube, por exemplo, mais de mil novos vídeos são publicados todos os dias. A grande maioria caseiros. “A quantidade de gente que agora faz filmes para ter seus 15 minutos de fama é um problema tão grande para a indústria quanto a pirataria”, disse a INFO Mark Spiegler, considerado o mais ativo agente de atrizes do Vale de San Fernando. Nas três horas em que a INFO esteve em seu escritório, cinco garotas telefonaram procurando trabalho.

Dado o cenário atual, a melhor opção para elas talvez seja iniciar uma carreira solo. A francesa Jessie Volt é uma das que pretende investir no mercado de apresentações por webcam. Loira, siliconada e já conhecida em San Fernando, ela fatura 17 mil dólares por 15 dias de trabalho. Mas, aos 22 anos, a atriz agenciada por Spiegler já traçou outros planos: quer montar seu próprio site, vender cenas de sexo por streaming e fortalecer o relacionamento com seus fãs nas redes sociais. Com 12 mil seguidores no Twitter, Jessie segue os passos de todas as atuais musas de filmes adultos. “Hoje quem não é famoso no mundo online não existe. É simples assim”, disse Jessie a INFO.

Uma das mais conhecidas atrizes do momento é Jesse Jane, contratada com exclusividade pela produtora Digital Playground. Sua conta no Twitter é atualizada de hora em hora com novidades para seus mais de 197 mil seguidores. Na outra plataforma adorada pelas atrizes, o Instagram, Jesse divulga fotos e atrai visitantes para a sua página na web, a jessejane.com. “A internet ajudou muito a minha carreira, pois me tornou mais conhecida”, disse Jesse a INFO. As redes sociais aproximam as estrelas do público, que busca cada vez maior interação.

Os cerca de 1500 atores e atrizes mais assíduos no Twitter postam mais de 50 mil mensagens e 3 mil fotos por dia. Os números são da The Naughty Tweet Network, a primeira empresa dedicada à comunicação em mídias sociais do mundo pornô. Contando com outras personalidades, como garotas de webcam ou modelos, são mais de 4 mil os perfis monitorados.

Com sede em Las Vegas, a empresa fornece consultoria para quem deseja fortalecer sua marca no mundo digital. Além disso, a Naughty Tweet Network fatura com 16 sites que agregam as postagens dos atores em uma única página. Basta acessar o Porn Star Tweet, por exemplo, para ler todas as mensagens publicadas pelas atrizes no microblog.


“É um serviço que facilita a vida do usuário, já que ele não precisa necessariamente seguir as personalidades do mundo adulto”, disse a INFO Peter Housley, americano de 49 anos que criou o site em 2009. “Na época, as pessoas nem sabiam direito o que era Twitter, havia 17 atores e atrizes para seguir”, diz Housley. Com o sucesso da experiência, vieram outras páginas dedicadas a agregar conteúdo de perfis, como as de moças que se apresentam em webcams ou as das chamadas BBW, sigla em inglês para garotas grandes e bonitas.

Para quem quer ver apenas imagens, a empresa lançou o serviço Naughty Tweet, um grande painel parecido com o Pinterest que compila apenas as fotos tuitadas pelos atores e atrizes. As páginas atraem mais de 300 mil usuários únicos por mês e seu faturamento vem de patrocinadores e anunciantes. O projeto deu tão certo que foi expandido para fora do entretenimento adulto, com variações do agregador para o mundo dos esportes, por exemplo. “O grande diferencial da pornografia é a quantidade de conteúdo gerada constantemente”, diz Housley, que desenvolveu sozinho o código básico dos primeiros sites da empresa.

Por trás da webcam

O conhecimento de programação veio de experiências feitas na adolescência com um computador comprado pelo pai. Nascido no conservador estado americano da Geórgia, o guru dos tuítes adultos chegou a cursar alguns anos da faculdade de teologia até descobrir que não tinha vocação para padre. Arrumou emprego em uma empresa de software que acabou comprada pela IBM, onde trabalhou por 15 anos. Em 1998, largou tudo para se dedicar aos projetos adultos e, anos mais tarde, percebeu o potencial das redes sociais. “Hoje as atrizes ajudam na divulgação dos filmes. Com o Twitter conseguimos avisar todos os fãs da Briana Banks, por exemplo, que ela está em uma nova produção”, afirma Housley.

Exibições na frente de webcams são outra forma de impulsionar a carreira dos famosos. Eles não são os únicos. O livejasmin.com, por exemplo, reúne mais de 40 mil moças e rapazes anônimos que cobram 1,99 dólares por minuto de performance. A partir de um índice de buscas, dá para selecionar aquelas que caem no gosto do público – baixas, gordinhas, com unhas longas, de 18 anos ou já avós. “Desde 2005, quando as grandes empresas começaram a comprar esses sites, o esquema amador se profissionalizou”, diz um brasileiro que prefere não se identificar e que há 10 anos trabalha como agente de modelos para sites de webcams.

Ele começou por acaso, ajudando uma ex-namorada. Hoje, é parceiro do site Flirt4Free e tem direito a dez conexões de webcam. Em seu casting, trabalham apenas duas brasileiras que seguem o mesmo padrão de beleza das outras oito moças do leste europeu. “Tem que ser loira com peito grande. É isso o que os homens querem ver”, afirma.

Seguindo seus conselhos, as moças chegam a fazer 5 mil reais por mês. Isso considerando que é política do site destinar às garotas apenas 30% do dinheiro que geram. O restante é dividido da seguinte forma: 50% para a página e 20% para o agente, que usa o dinheiro para investir nas meninas, comprando computadores, câmeras e pagando até cirurgias plásticas. Além de cuidar do visual, as moças têm que garantir a qualidade de acesso aos clientes. Antes de serem liberadas para bate-papo, elas precisam comprovar que sua conexão de banda larga atingiu o limite mínimo exigido pelo site.


Diferentemente das atrizes pornôs, grande parte das garotas das webcams não busca fama. Protegidas pelas paredes dos próprios quartos, elas têm como principal vantagem a distância dos clientes. No LiveJasmin e no Webcams.com, por exemplo, quase 26% da audiência vêm dos Estados Unidos, onde há homens gastando mais de 100 mil dólares por ano com as performances virtuais.

Com números assim, não é de estranhar que os grandes estúdios tenham passado a investir nesse nicho. A Vivid cobra entre 1 e 12 dólares o minuto de strip de mais de 1 800 garotas e oferece pacotes ilimitados de acesso a seus vídeos.

Hirsch estima que os negócios online já faturem 25 milhões de dólares anuais, com potencial para triplicar com a entrada de mais clientes e com a criação de novos produtos, como aplicativos e games.

Brasileirinhas

Clayton Nunes, dono da maior produtora adulta nacional, a Brasileirinhas, aposta em inovação para driblar a pirataria. Em outubro deve colocar no ar um reality show transmitido na web, A Casa das Brasileirinhas. Ele viu o número de acessos a seu site quadruplicar nos últimos meses, fruto não só de investimentos em plataformas móveis, mas também do fechamento de um dos maiores sites de compartilhamento de arquivos ilegais do mundo. “Após a prisão do dono do Megaupload [Kim Dotcom], os sites de tubes ficaram com medo e incluíram ferramentas que facilitam a denúncia e a retirada de vídeos do ar”, diz Nunes.

Mais de 10 mil filmes produzidos por sua produtora foram removidos em seis meses. “É um processo parecido com a pirataria que inundava o YouTube e hoje está controlada”, diz Allison, da Pink Visual. Alvo de processos, a Manwin afirma ter limpado completamente seus tubes. A empresa instalou um sistema que impede que material protegido seja postado em seus sites. Chamado de Vobile, ele rastreia as assinaturas digitais colocadas nos filmes pelas próprias produtoras.

Na conferência em Las Vegas, Thylmann disse que a ação impactou a audiência, mas não o dinheiro. “A qualidade do público que ficou é tão boa que, em termos de receita, compensou”. Aos que ainda duvidam que a pornografia tem fôlego para dar mais uma guinada, vale colocar as coisas em perspectiva. A internet não matou a indústria da música, que se reinventou. O mesmo parece acontecer com a do sexo.

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São Paulo - Depois da música, é a indústria do sexo que se reinventa.
 Os velhos DVDs dão lugar a sites de vídeo e webcams. Por trás deles estão programadores e atrizes que faturam alto com conteúdo adulto para web, celulares e redes sociais.

Considerado o rei do pornô americano, Steven Hirsch comandava em 2007 a produção de 60 filmes em DVD por ano, estrelados pelas mais belas atrizes do mercado. À frente do maior estúdio de conteúdo adulto do mundo, a Vivid Entertainment, Hirsch era o cara até ser engolido por uma nova concorrência. Uma onda de sites de sexo derrubou as vendas de seus DVDs e causou um baque tão grande nos negócios que alguns chegaram a declarar que a internet havia matado a indústria de filmes pornôs, assim como aconteceu com os CDs de música. Verdade, mas só para quem não soube se adaptar. Uma nova geração de empreendedores fatura alto criando conteúdo adulto para internet, tablets, smartphones e redes sociais.

Na liderança desse grupo está Fabian Thylmann, um empresário alemão que controla algumas das maiores produtoras e sites do mercado de sexo. Sob o comando de sua empresa, a Manwin, estão nomes como Brazzers, Digital Playground, Xtube e Pornhub, para citar alguns. Se os donos da Vivid e da Playboy iniciaram a carreira em estúdios fechados, rodeados de belas mulheres, Thylmann entrou no mundo do sexo como programador. E a Manwin é, na sua própria definição, uma empresa de tecnologia. Sinal de que os tempos mudaram. “Não há mais volta”, afirmou a INFO Steven Hirsch, da Vivid. “Os DVDs, que há cinco anos somavam 70% do mercado, hoje são menos de um quinto e continuam em queda.”

As produtoras de conteúdo adulto vivem a mesma crise que atingiu as gravadoras de música, com a queda das vendas dos CDs e sua substituição pela distribuição online. Além de pirateados em sites de torrents, os vídeos de sexo hoje inundam os chamados tubes, versões adultas que copiam o modelo de exibição e publicação do YouTube. Há ainda a explosão de páginas de webcams, a versão moderna do disk-sexo, na qual garotas tiram a roupa em troca de alguns dólares por minuto.

Embora também vendam conteúdo online, os estúdios perdem feio para os tubes. Segundo a ferramenta de análise de tráfego Google DoubleClick Ad Planner, o site da Vivid tem 3,8 milhões de visualizações por mês. Já as páginas de tube do xHamster, por exemplo, são acessadas mais de 4,8 bilhões de vezes ao mês. “Há uma nova geração de internautas que não coloca sequer 1 dólar na mesa para ver sexo online”, afirma Peter Warren, editor-sênior da Adult Video News (AVN), publicação que há 27 anos cobre a indústria de filmes adultos. “Vivemos nosso pior momento.”


Fabian Thylmann, fundador da Manwin, discorda. “Crescemos 15% ao ano, sem contar as aquisições”, disse durante uma palestra na Internext Expo 2012, realizada em janeiro deste ano em Las Vegas. Juntos, os mais de 100 sites da empresa atraem cerca de 60 milhões de visitantes por dia, que equivalem a toda a população do Reino Unido. Embora não divulgue valores, estima-se que seu faturamento ultrapasse os 200 milhões de dólares ao ano, mais do que o dobro da Vivid em seus dias de glória. O segredo do sucesso? Entender as ferramentas de distribuição online dos novos tempos.

Sua empresa possui páginas de cams, como a Webcams. com, e sete dos 20 maiores sites de tube da web, como Xtube e YouPorn. Neles, há uma mistura de conteúdo gratuito e pago, com imagens licenciadas de outras produtoras, cenas caseiras postadas por usuários e trechos de filmes da própria empresa. O grande tráfego desses sites os torna plataforma importante para divulgar lançamentos e observar tendências. Um exemplo? A Manwin sabe que os picos de acesso do Pornhub no Brasil acontecem às segundas-feiras, às 22 horas, e aos domingos à meia-noite, e que as estrelas mais buscadas no país são Lela Star e Sasha Grey. Essas informações são usadas para direcionar anúncios ou mesmo pautar suas produtoras que, juntas, gravam mais de 250 cenas de sexo por mês.

Marketing de afiliados

Thylmann construiu um império baseado em aquisições. Com 17 anos, criava software para a coleta de dados de tráfego. Em 2006, começou a buscar oportunidades e adquiriu três pequenos sites europeus. Em menos de três meses, seu faturamento cresceu 50%. O truque é o mesmo usado pelos sites pornôs desde o início da década de 1990, uma técnica chamada marketing de afiliados. Consiste basicamente em pagar por publicidade a partir de resultados.

Em vez de estabelecer um valor fixo por um banner em uma página, por exemplo, a remuneração é feita a partir do tráfego que ele gerar, ou dos produtos e serviços comprados a partir daquele link. Isso significa que um usuário pode passar horas apenas nos vídeos gratuitos do Xtube, mas basta se interessar por um anúncio e clicar para dar dinheiro ao site. A Amazon foi uma das primeiras empresas de internet a usar a prática, na década de 1990, e tornou-se a gigante mundial das vendas online. A diferença é que a Manwin aperfeiçoou a técnica como poucas.


“Temos duas equipes de vendas, com um total de 50 pessoas de TI e de design trabalhando para essas equipes”, diz Thylmann. A missão desses grupos é garantir o melhor resultado possível tanto para os anunciantes em suas páginas como para os banners que a empresa compra em outros sites.

Uma das estratégias é mudar constantemente as páginas para as quais eles apontam, dando a sensação de novidade para o usuário e gerando dados para melhorar o posicionamento dos anúncios. A empresa desenvolveu um programa que permite aos próprios parceiros fazer essa rotatividade dentro de seus sites. Ele é uma variação de um software para controle de afiliados criado por Thylmann. Apelidado de Nats, tornou-se uma das mais utilizadas ferramentas da indústria.

Mobilidade e interação

Outra estratégia da Manwin é investir em múltiplas plataformas. A empresa controla o site e os canais de TV da marca Playboy e possui uma equipe de 30 pessoas dedicada a adaptar conteúdo a aparelhos conectados, como TVs, tablets e smartphones. Hoje, todas as suas páginas estão disponíveis na versão mobile, e são acessadas por mais de 4,5 milhões de pessoas diariamente em seus tablets ou smartphones.

“Somente na América Latina, o mercado de conteúdo adulto mobile irá crescer de 54 milhões de dólares, neste ano, para 68 milhões em 2017”, disse a INFO Charlotte Miller, analista da empresa de pesquisa Juniper. O potencial é tão grande que já há quem foque o conteúdo quase que exclusivamente nessas plataformas.Autodenominada uma produtora geek, a americana 
Pink Visual aposta nas plataformas móveis. “Temos 2 mi
lhões de acessos por mês e 50% do nosso tráfego é mobile”,
 disse a INFO Allison Vivas, a presidente da produtora. A
 Pink Visual também criou um serviço na nuvem que permite assistir filmes em múltiplas plataformas. O usuário
 desembolsa entre 3,99 e 5,99 dólares por uma cena cur
ta que pode ser baixada e assistida quantas vezes quiser.


A ideia de associar preço baixo a uma plataforma que permite o fácil acesso ao conteúdo foi justamente a fórmula encontrada pela Apple para ressuscitar a indústria fonográfica. O modelo de negócios do iTunes permite cobrar centavos ou apenas alguns dólares por uma música, o que fez o serviço estourar. O sucesso se repetiu na app store, que dá aos usuários a tranquilidade de comprar aplicativos sem medo de fraudes ou problemas de segurança. Copiada no modelo, a Apple mantém firme sua determinação de não aceitar conteúdo adulto em suas lojas.

De olho nesse mercado, o inglês Stuart Lawley anunciou para 2013 o lançamento de uma grande loja virtual. Seu endereço? Milhares de sites que atuarem sob a chancela do domínio .xxx, o mais polêmico empreendimento pornô dos últimos anos. Conhecido como “distrito da luz vermelha da web”, ele foi lançado ao público em dezembro do ano passado e funciona como um .com ou .net. A única diferença é que só entram sites de conteúdo adulto, como o http://www.porno.xxx. Mais de 225 mil endereços já foram registrados, a um custo anual de 60 dólares, contra 10 cobrados pelo .com. Alguns deles, considerados mais fortes, foram vendidos a preços especiais. Nomes como freeporn.xxx acabaram arrematados por valores entre 100 mil e 500 mil dólares.

A ideia de Lawley é criar um sistema de micropagamento para diminuir os preços da pornografia. Ele unirá em um único processamento as compras de um mesmo cliente feitas em diferentes páginas do .xxx. É como se o domínio se tornasse uma grande loja, na qual todos os endereços diluem as taxas cobradas pelas operadoras de cartão. O sistema, inspirado no iTunes e na app store, garante que todas as informações pessoais fiquem com a ICM Registry, empresa de Lawley. “O usuário pode buscar pelos seus fetiches mais absurdos, porque o site não sabe quem ele é”, disse Lawley a INFO.

Search.xxx - A ICM demorou cinco anos para obter a aprovação do .xxx na Icann (Internet Corporation for Assigned Names and Numbers), o órgão que regula a internet. Mas mesmo antes de ser lançado já era criticado pelos grandes nomes da indústria. As principais queixas dizem respeito ao preço e à insegurança que ele criou. Afinal, milhares de empresas se sentiram obrigadas a registrar um nome para defender suas marcas. Tanto que a Manwin move um processo contra a ICM e a Icann acusando o .xxx de antitruste.

Lawley não nega que, do total de endereços, 80 mil tenham sido criados apenas de forma defensive. Mas diz que as pessoas fazem acusações sem compreender direito o negócio. “Nós mesmos tiramos mais de 20 mil nomes de celebridades, sem nenhum custo, para evitar que alguém registrasse algo como bradpitt.xxx”, diz. A ICM também deu um prazo para que os grandes marcas e países removessem seus nomes, evitando sites como Microsoft.xxx ou EUA.xxx.


“Muitos governos enviaram centenas de combinações de palavras”, diz Lawley. Em tempo: o Brasil ainda não percebeu o constrangimento que o .xxx pode gerar e não se mexeu.

Quanto ao custo, a explicação envolve o modelo de negócios do .xxx. Sua proposta é ser uma area onde o consumidor se sinta mais à vontade para buscar e comprar conteúdo adulto. Além de adotar critérios rigorosos contra imagens de menores de idade, a ICM fez uma parceria com a empresa de segurança McAfee para escancear diariamente todas as páginas em busca de vulnerabilidades. Nada que grandes sites, como Playboy, Vivid ou as páginas da própria Manwin, não façam, mas o foco do domínio não está necessariamente nessas grandes empresas.

Esperto, Stuart Lawley percebeu o potencial de unir pequenos sites para oferecer uma estrutura similar à dos grandes nomes. Filho de um motorista de ônibus e de uma dona de casa, ele tem tino para bons negócios. Após formar-se em engenharia em Londres, Lawley fez uma fortuna considerável ao investir na internet no período da bolha. A empresa que criou, uma fornecedora de tecnologias para provedores, foi vendida por 240 milhões de dólares, em 2000. Com dinheiro de sobra, passou uma temporada à toa nas Bahamas e depois comprou a ICM e criou o domínio .xxx.

Em setembro, sua empresa lançou o Search.xxx, um buscador tipo Google para as suas páginas. Hoje, como em todos os serviços web, ganha a briga quem está mais bem ranqueado nos sites de busca. Mais uma mudança que não tem nada a ver com o velho modelo de negócio dos filmes em DVD.

Luz, câmera, ação

Referência na produção de conteúdo adulto desde a época do cinema mudo, o Vale de San Fernando, na Califórnia, anda devagar. Até cinco anos atrás, centenas de estúdios disputavam atores e atrizes que ganhavam, por cena, algo em torno de 1 200 dólares. Estrelas como Briana Banks, uma quase sósia de Pamela Anderson, eram contratadas com exclusividade e faturavam até 100 mil dólares anuais. San Fernando, ao todo, lançava mais de 12 mil filmes em DVD por ano.

Hoje, a região conhecida pelos apelidos de San Pornando ou Vale do Silicone tem menos de 40 estúdios que mal produzem 3 mil filmes por ano. Os contratos de longa duração são raros e atrizes desconhecidas podem ganhar míseros 400 dólares por cena, enquanto homens recebem 150. No Brasil não é diferente. Se em 2002 os filmes em DVD movimentaram 450 milhões de reais, em 2009 o valor não chegou a 100 milhões. Ironicamente, foi a própria indústria pornô que contribuiu para esse cenário.


Desde o surgimento da web, os sites de conteúdo adulto estiveram na vanguarda da tecnologia. Das transmissões de streaming ao desenvolvimento de sistemas de pagamento online, essas páginas impulsionaram a evolução da internet e aumentaram a necessidade dos usuários de mais velocidade para o acesso. Uma pesquisa do Nielsen NetRatings aponta a pornografia e a pirataria como as responsáveis pelo aumento da demanda por banda larga na Europa. Além disso, com mais velocidade, ficou mais fácil baixar e subir arquivos na rede, o que beneficiou todos os usuários e as empresas .com.

Uma consequência direta desse novo cenário foi a entrada da concorrência pesada de conteúdo amador. Em sites como o Xtube, por exemplo, mais de mil novos vídeos são publicados todos os dias. A grande maioria caseiros. “A quantidade de gente que agora faz filmes para ter seus 15 minutos de fama é um problema tão grande para a indústria quanto a pirataria”, disse a INFO Mark Spiegler, considerado o mais ativo agente de atrizes do Vale de San Fernando. Nas três horas em que a INFO esteve em seu escritório, cinco garotas telefonaram procurando trabalho.

Dado o cenário atual, a melhor opção para elas talvez seja iniciar uma carreira solo. A francesa Jessie Volt é uma das que pretende investir no mercado de apresentações por webcam. Loira, siliconada e já conhecida em San Fernando, ela fatura 17 mil dólares por 15 dias de trabalho. Mas, aos 22 anos, a atriz agenciada por Spiegler já traçou outros planos: quer montar seu próprio site, vender cenas de sexo por streaming e fortalecer o relacionamento com seus fãs nas redes sociais. Com 12 mil seguidores no Twitter, Jessie segue os passos de todas as atuais musas de filmes adultos. “Hoje quem não é famoso no mundo online não existe. É simples assim”, disse Jessie a INFO.

Uma das mais conhecidas atrizes do momento é Jesse Jane, contratada com exclusividade pela produtora Digital Playground. Sua conta no Twitter é atualizada de hora em hora com novidades para seus mais de 197 mil seguidores. Na outra plataforma adorada pelas atrizes, o Instagram, Jesse divulga fotos e atrai visitantes para a sua página na web, a jessejane.com. “A internet ajudou muito a minha carreira, pois me tornou mais conhecida”, disse Jesse a INFO. As redes sociais aproximam as estrelas do público, que busca cada vez maior interação.

Os cerca de 1500 atores e atrizes mais assíduos no Twitter postam mais de 50 mil mensagens e 3 mil fotos por dia. Os números são da The Naughty Tweet Network, a primeira empresa dedicada à comunicação em mídias sociais do mundo pornô. Contando com outras personalidades, como garotas de webcam ou modelos, são mais de 4 mil os perfis monitorados.

Com sede em Las Vegas, a empresa fornece consultoria para quem deseja fortalecer sua marca no mundo digital. Além disso, a Naughty Tweet Network fatura com 16 sites que agregam as postagens dos atores em uma única página. Basta acessar o Porn Star Tweet, por exemplo, para ler todas as mensagens publicadas pelas atrizes no microblog.


“É um serviço que facilita a vida do usuário, já que ele não precisa necessariamente seguir as personalidades do mundo adulto”, disse a INFO Peter Housley, americano de 49 anos que criou o site em 2009. “Na época, as pessoas nem sabiam direito o que era Twitter, havia 17 atores e atrizes para seguir”, diz Housley. Com o sucesso da experiência, vieram outras páginas dedicadas a agregar conteúdo de perfis, como as de moças que se apresentam em webcams ou as das chamadas BBW, sigla em inglês para garotas grandes e bonitas.

Para quem quer ver apenas imagens, a empresa lançou o serviço Naughty Tweet, um grande painel parecido com o Pinterest que compila apenas as fotos tuitadas pelos atores e atrizes. As páginas atraem mais de 300 mil usuários únicos por mês e seu faturamento vem de patrocinadores e anunciantes. O projeto deu tão certo que foi expandido para fora do entretenimento adulto, com variações do agregador para o mundo dos esportes, por exemplo. “O grande diferencial da pornografia é a quantidade de conteúdo gerada constantemente”, diz Housley, que desenvolveu sozinho o código básico dos primeiros sites da empresa.

Por trás da webcam

O conhecimento de programação veio de experiências feitas na adolescência com um computador comprado pelo pai. Nascido no conservador estado americano da Geórgia, o guru dos tuítes adultos chegou a cursar alguns anos da faculdade de teologia até descobrir que não tinha vocação para padre. Arrumou emprego em uma empresa de software que acabou comprada pela IBM, onde trabalhou por 15 anos. Em 1998, largou tudo para se dedicar aos projetos adultos e, anos mais tarde, percebeu o potencial das redes sociais. “Hoje as atrizes ajudam na divulgação dos filmes. Com o Twitter conseguimos avisar todos os fãs da Briana Banks, por exemplo, que ela está em uma nova produção”, afirma Housley.

Exibições na frente de webcams são outra forma de impulsionar a carreira dos famosos. Eles não são os únicos. O livejasmin.com, por exemplo, reúne mais de 40 mil moças e rapazes anônimos que cobram 1,99 dólares por minuto de performance. A partir de um índice de buscas, dá para selecionar aquelas que caem no gosto do público – baixas, gordinhas, com unhas longas, de 18 anos ou já avós. “Desde 2005, quando as grandes empresas começaram a comprar esses sites, o esquema amador se profissionalizou”, diz um brasileiro que prefere não se identificar e que há 10 anos trabalha como agente de modelos para sites de webcams.

Ele começou por acaso, ajudando uma ex-namorada. Hoje, é parceiro do site Flirt4Free e tem direito a dez conexões de webcam. Em seu casting, trabalham apenas duas brasileiras que seguem o mesmo padrão de beleza das outras oito moças do leste europeu. “Tem que ser loira com peito grande. É isso o que os homens querem ver”, afirma.

Seguindo seus conselhos, as moças chegam a fazer 5 mil reais por mês. Isso considerando que é política do site destinar às garotas apenas 30% do dinheiro que geram. O restante é dividido da seguinte forma: 50% para a página e 20% para o agente, que usa o dinheiro para investir nas meninas, comprando computadores, câmeras e pagando até cirurgias plásticas. Além de cuidar do visual, as moças têm que garantir a qualidade de acesso aos clientes. Antes de serem liberadas para bate-papo, elas precisam comprovar que sua conexão de banda larga atingiu o limite mínimo exigido pelo site.


Diferentemente das atrizes pornôs, grande parte das garotas das webcams não busca fama. Protegidas pelas paredes dos próprios quartos, elas têm como principal vantagem a distância dos clientes. No LiveJasmin e no Webcams.com, por exemplo, quase 26% da audiência vêm dos Estados Unidos, onde há homens gastando mais de 100 mil dólares por ano com as performances virtuais.

Com números assim, não é de estranhar que os grandes estúdios tenham passado a investir nesse nicho. A Vivid cobra entre 1 e 12 dólares o minuto de strip de mais de 1 800 garotas e oferece pacotes ilimitados de acesso a seus vídeos.

Hirsch estima que os negócios online já faturem 25 milhões de dólares anuais, com potencial para triplicar com a entrada de mais clientes e com a criação de novos produtos, como aplicativos e games.

Brasileirinhas

Clayton Nunes, dono da maior produtora adulta nacional, a Brasileirinhas, aposta em inovação para driblar a pirataria. Em outubro deve colocar no ar um reality show transmitido na web, A Casa das Brasileirinhas. Ele viu o número de acessos a seu site quadruplicar nos últimos meses, fruto não só de investimentos em plataformas móveis, mas também do fechamento de um dos maiores sites de compartilhamento de arquivos ilegais do mundo. “Após a prisão do dono do Megaupload [Kim Dotcom], os sites de tubes ficaram com medo e incluíram ferramentas que facilitam a denúncia e a retirada de vídeos do ar”, diz Nunes.

Mais de 10 mil filmes produzidos por sua produtora foram removidos em seis meses. “É um processo parecido com a pirataria que inundava o YouTube e hoje está controlada”, diz Allison, da Pink Visual. Alvo de processos, a Manwin afirma ter limpado completamente seus tubes. A empresa instalou um sistema que impede que material protegido seja postado em seus sites. Chamado de Vobile, ele rastreia as assinaturas digitais colocadas nos filmes pelas próprias produtoras.

Na conferência em Las Vegas, Thylmann disse que a ação impactou a audiência, mas não o dinheiro. “A qualidade do público que ficou é tão boa que, em termos de receita, compensou”. Aos que ainda duvidam que a pornografia tem fôlego para dar mais uma guinada, vale colocar as coisas em perspectiva. A internet não matou a indústria da música, que se reinventou. O mesmo parece acontecer com a do sexo.

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