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Colômbia cria jogo para explicar conflito com as Farc

O jogo para videogame "Reconstrução" busca se tornar uma ferramenta pedagógica, e por isso não tem imagens de violência, nem inclui o narcotráfico

Reconstrução: a narrativa do jogo é apoiada por histórias em quadrinhos e não busca condenar os vitimadores (Divulgação)

Reconstrução: a narrativa do jogo é apoiada por histórias em quadrinhos e não busca condenar os vitimadores (Divulgação)

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AFP

Publicado em 26 de dezembro de 2016 às 17h06.

Morena, magra e com corte de cabelo afro, Victoria é a personagem principal de "Reconstrução", um videogame criado e desenvolvido em Bogotá para que os jogadores vivam a história desta vítima do conflito interno da Colômbia e reflitam sobre a guerra.

O objetivo é "nos colocarmos um pouco no lugar dos outros", disse à AFP Álvaro Triana, produtor de "Reconstrução", que trata de um conflito de mais de meio século entre guerrilhas, paramilitares e agentes do Estado, que afetou oito milhões de pessoas e deixou 268.000 mortos.

A história começa quando esta mulher, de mais de 30 anos, volta ao seu povoado natal, Pueblo Escondido, um lugar fictício na região de Urabá (noroeste), de onde fugiu aos 14 anos devido à violência.

Victoria então começa a ter "flashbacks" da sua vida neste local, um pequeno e selvagem povoado colombiano, rodeado por natureza, com uma praça principal e uma pequena igreja.

A aventura gráfica gira em torno da interação de Victoria com outros personagens, como seu avô, outros moradores e membros de grupos armados.

"As decisões do jogador afetam a história que vai sendo contada, justamente para enfatizar o ponto de que, se estivéssemos nesta situação, o que faríamos? Não é tão fácil como imaginamos", disse Triana, engenheiro de sistemas de 34 anos.

"Eu ajudaria uma das pessoas que acaba de atacar meu povoado? É correto fazer isso ou o deixo morrer?", exemplifica.

Sem violência, nem humor negro

"Reconstrução" busca se tornar uma ferramenta pedagógica, e por isso não tem imagens de violência, nem inclui o narcotráfico, fonte de financiamento dos grupos armados clandestinos.

"Um jogo de guerra dificilmente vai estimular bons comportamentos", e o narcotráfico é difícil de abordar - "não queríamos apelar ao humor negro", afirma.

Além disso, a narrativa do jogo é apoiada por histórias em quadrinhos e não busca condenar os vitimadores, que são considerados o resultado de uma série de circunstâncias próprias da dinâmica da guerra.

Triana indicou que a iniciativa, que conta com o financiamento da Cooperação Alemã (GIZ), estará disponível em janeiro para download gratuito em sistemas iOS e Android, em smartphones e tablets.

O primeiro capítulo deste projeto, que os criadores esperam que se transforme em saga, também terá uma versão em inglês, embora o público-alvo seja principalmente os colombianos residentes de áreas urbanas que não viveram perto dos confrontos.

A ideia do projeto surgiu há um ano, quando Triana se reuniu com a produtora audiovisual Patricia Ayala, que tinha feito uma série de reportagens sobre a conflagração colombiana.

Para fevereiro, desenvolveram um protótipo que contou com o feedback do Centro Nacional de Memória Histórica (CNMH) e de vítimas da guerra interna. A versão final começou a ser feita em agosto.

"Curiosamente, a ideia de um videogame que trate do conflito armado gerou mais rejeição nas pessoas que trabalham com vítimas do que nas vítimas", disse o produtor, que trabalhou com um grupo de 20 animadores, engenheiros, artistas e programadores no desenvolvimento da plataforma.

Mulheres que desenvolvem um projeto de costura no CNMH quiseram que fossem usados no videogame os desenhos de seus bordados, que aparecem em algumas cenas.

Trabalhamos para que a mensagem "seja otimista e não algo catastrófico, porque já estamos cheios disso", disse Triana, que considera "Reconstrução" uma ferramenta de reconciliação para a Colômbia, cujo governo assinou em novembro um acordo de paz com as Farc, a principal guerrilha do país.

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