Diabetes: estudos apontam que pelo menos 80% dos pacientes diabéticos que passaram pela cirurgia bariátrica tiveram melhora no quadro da doença (Marcos Santos/USP Imagens)
Da Redação
Publicado em 26 de maio de 2016 às 11h24.
São Paulo - Indicada até agora para pacientes com obesidade grave, a cirurgia bariátrica passa a ser recomendada também para o tratamento de diabete tipo 2 nos casos em que a doença não for controlada com o uso de medicamentos.
A nova diretriz, endossada por 45 associações médicas em todo o mundo, duas delas brasileiras, foi publicada anteontem na revista Diabetes Care, da Associação Americana de Diabetes. Para que a recomendação passe a valer no País, ainda precisa ser tema de resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM), que avalia o assunto.
De acordo com a nova diretriz, pacientes diabéticos com índice de massa corpórea (IMC) a partir de 30 poderiam ser submetidos a cirurgia de redução do estômago para controlar a doença. Pelas regras brasileiras, só podem passar pelo procedimento pacientes com IMC acima de 40 ou aqueles com índice superior a 35 quando apresentarem doenças relacionadas ao excesso de peso, como a própria diabete. A nova recomendação é apoiada pelas Sociedades Brasileiras de Diabete e de Cirurgia Metabólica e Bariátrica.
Segundo Ricardo Cohen, coordenador do Centro de Obesidade e Diabete do Hospital Alemão Oswaldo Cruz e um dos integrantes do grupo de especialistas que elaborou a nova diretriz, estudos apontam que pelo menos 80% dos pacientes diabéticos que passaram pela cirurgia tiveram melhora no quadro da doença. O médico explica que a cirurgia promove maior equilíbrio dos índices glicêmicos não só por meio da perda de peso.
"Há outros mecanismos, como diminuição da resistência à insulina, aumento da secreção de hormônios intestinais e mudança na flora bacteriana, entre outros fatores que propiciam essa melhora, antes mesmo da perda de peso", diz ele, um dos primeiros especialistas no mundo a estudar a cirurgia como opção no tratamento da diabete. As pesquisas no País começaram em 2006.
Cohen explica que os médicos seguiriam os critérios de uma escala de risco para definir quais pacientes se beneficiariam da técnica, chamada de Escore de Risco Metabólico. Entre os fatores avaliados estão o tempo de doença e de uso de tratamentos convencionais, idade e comorbidades. De forma geral, a operação não é indicada para quem tem menos de 20 e mais de 65 anos.
Mudança
Foi a partir da avaliação desses fatores de risco que a encarregada de finanças Ana Paula Pompeu de Toledo Mello, de 40 anos, decidiu fazer a cirurgia dentro do projeto de pesquisa que estudava a técnica em casos de diabete.
Ela tinha obesidade leve, com IMC de 31, mas vivia com a diabete descompensada, já havia desenvolvido hipertensão e tinha gordura no fígado. Em agosto do ano passado, Ana passou pela cirurgia bariátrica. "Se fosse pelo sobrepeso, eu nunca teria a indicação da cirurgia, mas resolvi tentar essa alternativa porque não conseguia controlar a glicemia só com medicamento e tinha medo das complicações da doença, ainda mais por ter recebido o diagnóstico jovem, quando eu tinha 30 anos", conta.
O receio era reforçado por grandes estragos que a doença fez em sua família. "Um tio teve de amputar a perna por causa da diabete e minha avó ficou praticamente cega, perdeu 90% da visão", afirma.
Logo após a cirurgia, diz Ana, os índices glicêmicos se normalizaram e ela não teve mais de tomar nenhum tipo de remédio - alguns pacientes, no entanto, mesmo após a cirurgia, precisam complementar o tratamento com medicamentos. Além disso, desde a operação, Ana já perdeu 25 quilos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.