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Cientistas debatem compartilhamento de água do Rio Paraíba do Sul

Há um ano, o nível do Cantareira alcançava 58,5%, e a baixa reserva atual levanta a hipótese de compartilhamento das águas do Rio Paraíba do Sul

Rio Paraíba do Sul (Wikimedia Commons)

Rio Paraíba do Sul (Wikimedia Commons)

DR

Da Redação

Publicado em 11 de junho de 2014 às 05h47.

O Sistema Cantareira, que abastece a região metropolitana de São Paulo, registrou volume de águas armazenadas da ordem de 23,9% ontem (9), de acordo com dados da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). Há um ano, o nível do Cantareira alcançava  58,5%, e a baixa reserva atual levanta a hipótese de compartilhamento das águas do Rio Paraíba do Sul, que abastecem grande parte do Rio de Janeiro, como saída para minimizar a falta de água na capital paulista.

Ex-diretor presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), Jerson Kelman, professor do Instituto Luiz Alberto Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), admite o compartilhamento, mas somente "no curtíssimo" prazo. "No momento, o que tem que ser feito é a obra de mais rápida implementação [para a transposição]", disse à Agência Brasil. "Trata-se de uma emergência", sustentou.

Indicou, porém, que o governo de São Paulo deve começar de imediato a investir em fontes de água de maior volume, como o Rio Juquiá, para evitar que o próximo verão seja tão ruim, em termos de abastecimento, como foi o verão passado. Segundo ele, "seria conveniente que o governo de São Paulo iniciasse imediatamente o aproveitamento de água do Rio Juquiá, que é uma fonte de São Paulo, para o abastecimento local, para que essa situação de emergência do Paraíba do Sul não seja ampliada".

Kelman disse que as autoridades paulistas devem sinalizar, de forma clara, que não vão enfrentar o problema de aumento de necessidade de água "retirando mais e mais água do Paraíba do Sul, porque, aí, entra em conflito com o Rio de Janeiro, inescapável. Evita-se esse conflito buscando uma fonte de água que tem lá próxima, que é uma fonte local, chamada Juquiá", reforçou.

Na avaliação do professor Rubem La Laina Porto, da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, o compartilhamento do Rio Paraíba do Sul "é uma coisa inescapável". Kelman e Porto participaram hoje (10) do 4º Debate Nacional Reflexões de Engenharia, que a Academia Nacional de Engenharia (ANE) promoveu na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

O professor Porto esclareceu que o Rio Paraíba do Sul tem partes de sua bacia não apenas no Rio de Janeiro e em São Paulo, mas também em Minas Gerais. "Toda vez que isso acontece e há um problema de uso da água, o princípio é que isso seja compartilhado. De forma muito indireta, é matéria constitucional até, na medida em que estabelece rios de jurisdição estadual e federal ", comentou. Como o Rio Paraíba do Sul nasce em São Paulo mas atravessa outros estados, ele é de jurisdição federal e sujeito, portanto, à autoridade reguladora, que é a ANA.

Ele explicou que de certa forma, a própria Constituição consagrou o princípio do compartilhamento. "É o que tem sido feito no mundo inteiro". Segundo Rubem Porto, não existe alternativa que não seja essa na disputa pelo Rio Paraíba do Sul, entre o Rio de Janeiro e São Paulo, "porque, se houver radicalização, todo mundo vai ficar ilegal. São Paulo não vai poder tirar a água que precisa, porque tem influência no Rio de Janeiro, e este não pode se arvorar a ser o único possuidor de águas que, inclusive, não são geradas no Rio de Janeiro ".

Porto sustentou que o acordo é a única possibilidade na questão do Rio Paraíba do Sul. O princípio, disse, é esse: se três estados geram água, esses três devem usufruir de alguma parte dos benefícios que essa água pode trazer para eles. Ressaltou, porém, que a quantidade de água para cada um tem que ser negociada. "Acho que o que vale é o princípio do compartilhamento".

A vice-presidente da ANE, Djenane Pamplona, informou que o Rio Paraíba do Sul, apesar de nascer em São Paulo, é o único recurso hídrico que o Rio de Janeiro tem para seu abastecimento, enquanto São Paulo tem outras opções. "Então, qualquer coisa que seja feita vai atrapalhar o estado do Rio de Janeiro". Ela não tem dúvidas que a engenharia e a universidade podem trazer contribuições importantes para a questão do Rio Paraíba do Sul. "Com certeza absoluta, a busca é essa".

Editor Stênio Ribeiro

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