Ceitec, Dataprev e Serpro: as “big techs estatais” na mira da privatização
Governo brasileiro quer transformar as empresas em companhias privadas
Rodrigo Loureiro
Publicado em 10 de fevereiro de 2021 às 08h00.
Empresas brasileiras de tecnologia da informação podem ganhar novas rivais no mercado privado em breve. Trata-se de um processo de privatização que deve ocorrer em breve e que envolve estatais como Ceitec, Dataprev e Serpro. Nesta semana, o Supremo Tribunal Federal decidiu que não será necessária a criação de uma lei específica para o início do processo que torna essas e outras companhias privadas.
A decisão, que teve os vetos dos ministros Edson Fachin e Ricardo Lewandowski, abre caminho para a venda das três empresas que atuam com tecnologia. A decisão girava em torno da aprovação ou não da necessidade uma lei específica para permitir os processos de desestatização de companhias. A ação foi movida pelo Partido Democrático Trabalhista (PDT), que se posiciona contra a privatização.
Ceitec
Vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, a Ceitec foi criada em 2008 e tem sede em Porto Alegre. A companhia atua no desenvolvimento de soluções para identificação automática. Isto é, chips, sensores e etiquetas eletrônicas que são utilizados desde para pagamentos automáticos em pedágios até para a identificação de animais e de medicamentos.
A Ceitec gerou receita de 7,8 milhões de reais em 2019, o que fez com que a estatal terminasse o ano com prejuízo líquido de 12 milhões de reais, uma vez que as despesas operacionais somaram 81 milhões de reais e consumiram o caixa que havia acumulado no período. Fechar, porém, pode custar mais caro. A Acceitec, associação de funcionários da estatal, estima que os custos irão girar em torno de 300 milhões de reais.
Apesar dos números estarem bem abaixo do ideal, é preciso ressaltar algo bastante positivo em relação à estatal. A Ceitec é a única empresa na América Latina capaz de produzir, do início ao fim, chips utilizando silício – material presente em processadores de smartphones, tablets e computadores. A maior parte dos chips produzidas em todo o planeta vem da Ásia.
Dataprev
A companhia atua prioritariamente com o processamento de pagamentos de benefícios do INSS. Em 2021, a empresa ganhou uma participação maior ao ser a responsável pela aprovação dos pagamentos do Auxílio Emergencial, benefício criado pelo governo federal para ajudar pessoas em situação de apuro durante a pandemia do novo coronavírus.
A decisão de privatizar a Dataprev foi tomada em janeiro do ano passado. Na mesma época, a companhia já previa o encerramento de suas atividades em 20 estados brasileiros. Isso iria impactar diretamente no corte de 493 funcionários, o que corresponde a 15% da força total de trabalho. A expectativa era de que a medida gerasse uma economia próxima de 93 milhões de reais.
No ano retrasado, a Dataprev obteve receita de 1,6 bilhão de reais, pouco acima do 1,5 bilhão de reais em 2018. Já o lucro líquido diminuiu de 150 milhões para 148 milhões de reais no intervalo entre 2018 e 2019. Os dados de 2020 ainda não foram consolidados, mas já se espera que os números sejam bem menores do que os registrados nos últimos anos.
Serpro
Descrita como a maior empresa pública de tecnologia da informação do mundo, a Serpro foi fundada ainda em 1964 e, até 2019, contava com um quadro de funcionários com mais de 9 mil empregados. Naquele ano, inclusive, a companhia foi a vencedora do prêmio de melhor Melhores & Maiores, da EXAME, na categoria empresa da Indústria Digital. Era a líder do mercado, superando empresas como Positivo, Totvs e Tivit.
A empresa oferece sistemas para o processamento do Imposto de Renda e para outros serviços. Em conjunto com a Receita Federal, a estatal lançou no ano passado o aplicativo eSocial Doméstico, que simplifica a contratação de trabalhadores domésticos. Em 2020, o governo federal escolheu a Amazon como uma parceria da estatal brasileira para a alocação de dados em servidores digitais hospedados em nuvem.
Desta lista, a Serpro é definitivamente a maior empresa e a que vive seu melhor momento. Em 2019, a receita foi de quase 3,4 bilhões de reais, com lucro líquido de 486 milhões de reais. Os números de 2020 não estão consolidados, mas já apontam que a receita recorrente possa diminuir cerca de 1,5%, enquanto se espera que as despesas recorrentes, que também devem ter queda, somem mais de 2,7 bilhões de reais.