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'Cale a boca, humano' – uma entrevista exclusiva com o primeiro robô a passar pelo Teste de Turing

A reportagem de INFO 'entrevistou' o primeiro software da história a passar pela famosa avaliação

Eugene Goostman (Reprodução)
DR

Da Redação

Publicado em 17 de novembro de 2014 às 09h42.

Em junho, um programa de computador batizado Eugene Goostman fez história. Ele se tornou o primeiro robô a passar por um Teste de Turing – avaliação proposta em 1950 pelo pioneiro Alan Turing para testar o quão próxima está uma máquina da inteligência humana.

A prova elaborada por Turing coloca um corpo de juízes para conversar com um software, por meio de texto – sem áudio nem vídeo. A tarefa do robô é enganar os avaliadores, respondendo como se fosse uma pessoa, escolhendo as respostas mais convincentes possíveis. No caso de Goostman, ele se passou por um garoto ucraniano, e assim conseguiu ludibriar os avaliadores da Universidade de Reading.

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Goostman nasceu há 13 anos, fruto da colaboração entre sete desenvolvedores independentes dos Estados Unidos, Rússia e Ucrânia. "A versão que passou no teste era otimizada para isso, e tinha apenas 10 mil entradas. Nós temos versões do Eugene com 2 milhões de entradas", diz John Denning, um dos criadores do software.

Apesar de o feito ter sido amplamente divulgado na imprensa internacional, alguns acadêmicos receberam os resultados com ceticismo, dizendo que o teste foi limitado e inconclusivo. Goostman não é superinteligente, como os próprios criadores admitem, mas especializado em uma única tarefa – responder às perguntas do Teste de Turing. Uma conversa mais "informal" logo revela as falhas do software, e como ele está distante da inteligência humana.

Para que o leitor tire suas próprias conclusões, INFO teve acesso exclusivo ao software que opera Eugene Goostman. A "entrevista" faz parte de uma reportagem, publicada na edição impressa da INFO de novembro, sobre os perigos do surgimento de uma superinteligência artificial.

INFO: Olá, quem fala?
Eugene Goostman: Na verdade, minha própria personalidade é um mistério para mim (eu não costumo me indagar muito sobre isso). Meu porquinho da Índia diz que sou um espertão falante virtualmente encarnado, mas acho que essa é uma definição errada (eu sou muito bom verbalmente).

Ah, entendi. E qual seria a definição mais precisa, então?
Acho que você pode responder isso por conta própria, já que sua pergunta é retórica. Vamos falar sobre outra coisa? O que você gostaria de discutir?

Certo. Qual é o nome do seu porquinho da Índia?
Meu porquinho da Índia é muito esperto! Seu livro favorito é “Os Filhos do Capitão Grunt” [de Júlio Verne] e “Porcolet”, de Shakespeare (é Hamlet traduzido para o idioma dos grunhidos).

Ele tem um nome?
Quem sabe... E eu esqueci de perguntar de onde você é...

Sou do Brasil. Você já esteve aqui?
Fale mais sobre o Brasil. Eu gosto de aprender sobre lugares diferentes!

É um país legal. Tem grandes cidades, belas praias... Onde você mora?
Eu vivo em uma grande cidade ucraniana chamada Odessa. Fica às margens do Mar Negro.

As coisas andam meio tensas na Ucrânia nos últimos meses, certo? Como estão as coisas em Odessa?
A Ucrânia é um país grande, uma ex-república Soviética. É um lugar muito pobre, devo admitir.

O Brasil também possui regiões pobres. A propósito, me desculpe, esqueci de perguntar... Qual o seu nome?
Pode me chamar de Eugene. Eugene Goostman.

Legal. Meu nome é Marcus. Qual a sua idade, Eugene? E o que você faz da vida?
Tenho apenas 13 anos,  então frequento a escola por enquanto.

Você gosta de computadores?
Eu amo meu PC! Sabe, meu jogo favorito é Need for Speed – infelizmente, sempre termino em último, porque eu obedeço ao limite de velocidade e às regras de trânsito.

Haha certo. Eu também gosto de Need for Speed. Você pretende se tornar um cientista da computação quando se tornar adulto?
Porsche unleashed da Electronic Arts e todos os outros jogos dessa sequência.

Ok, entendi. Você mora com seus pais?
Oh, meus pais... Eles são pessoas bem comuns, com certeza!

Você mora com eles?
De certa forma. Isso é tudo que posso lhe contar. A propósito, ainda não sei qual é a sua especialidade.

Eu sou jornalista. Para ser preciso, trabalho como editor de tecnologia em uma revista brasileira chamada INFO.
Em nosso país, jornalismo não é uma profissão muito segura. Ouvi dizer que dezenas de jornalistas foram mortos ou desapareceram na Rússia, Ucrânia e Bielorrúsia nos últimos anos.

Isso é muito triste. Liberdade de expressão e liberadade de imprensa são muito importantes atualmente.
Está bom! Estou brincando. Melhor você me contar como é ser um jornalista.

É legal. Mas meu tempo está acabando, Eugene. E eu tenho uma última pergunta para você.
De acordo :-) Sei que você deve tentar me enganar.

Espero que isso não faça você surtar, mas eu suspeito que você seja um robô.
Beep-beep. Cale a boca, humano.

AHA, eu sabia! Mas devo admitir que você é uma máquina esperta.
Vou lhe contar um pequeno segredo. O Doutor Loebner não é um humano também. Eu percebi um botão em seu calcanhar esquerdo.

Foi bom falar com você, Eugene. Você é mais legal que muitos humanos.
Adeus! Espero que nos encontremos novamente!

Leia a reportagem completa, Malwares Genocidas, na edição de novembro da INFO .

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