Microsoft: mesmo assim, muitas pessoas com autismo estão desempregadas, e as que trabalham costumam receber salários baixos (Divulgação)
Da Redação
Publicado em 3 de junho de 2015 às 21h23.
David McNabb se formou em Ciência da Computação em 2001, mas jamais conseguiu trabalho, nem em sua área nem em nenhuma outra, porque fracassava em todas as entrevistas.
As reuniões com os possíveis empregadores “sem dúvida eram um grande obstáculo”, disse McNabb, 36, que foi diagnosticado autista no ano passado.
“Eu não estava em sintonia com o que eles buscavam em uma pessoa, ou talvez eu não fosse o tipo de pessoa com quem eles gostariam de trabalhar”.
Ele finalmente iniciou sua vida profissional há cerca de cinco meses, quando começou a trabalhar de casa para a Ultra Testing, uma startup de 2 anos e meio que testa software para empresas. Oitenta por cento da força de trabalho da Ultra tem transtorno do espectro do autismo.
Muitas pessoas com autismo, transtorno que obstrui as habilidades sociais e de comunicação, estão desempregadas, e as que trabalham costumam ter empregos com salários baixos.
As entrevistas são difíceis porque muitas dessas pessoas têm dificuldade para estabelecer contato visual e são sensíveis a ruídos ou à luz.
No entanto, assim como McNabb, algumas são altamente funcionais e têm um excelente desempenho em tarefas repetitivas, em identificar padrões de dados e em encontrar falhas em software – bons candidatos para o setor de tecnologia –. Microsoft Corp., SAP SE, Freddie Mac e HP Australia iniciaram programas para contratar pessoas no espectro do autismo.
“Sem dúvida essa tem sido uma etapa muito boa para mim, pois estou deslanchando, podendo mostrar que posso trabalhar e contribuir em uma equipe”, disse McNabb, que mora com o pai e a madrasta em Flossmoor, Illinois.
Ele passou diversos anos ajudando seus familiares a resolver problemas informáticos, oferecendo-se e tentando consertar em casa sistemas operacionais e software para descobrir como funcionam.
‘Muito inteligente’
No ano passado, uma equipe de testes da Ultra, que tem sede em Nova York, se dedicou a descobrir falhas de software para a empresa responsável pelos prêmios Webby, que homenageiam a excelência na internet.
“Eles descobriram de 5 a 10 vezes mais coisas do que a gente. Ficamos impressionados”, disse Steve Marchese, produtor executivo da Webby Media Group. “Essa é uma forma muito inteligente de utilizar os dons que as pessoas do espectro têm”.
Outro incentivo para que as empresas contratem pessoas com autismo é que isso ajuda-as a cumprir leis trabalhistas que entraram em vigor no ano passado nos EUA.
A regulação requer que, para obter contratos federais, as empresas aumentem a contratação de pessoas com deficiências para que elas equivalham a pelo menos 7 por cento dos funcionários.
A integração pode ser desafiadora. Para lidar com adultos autistas geralmente é necessário aumentar a capacitação, adaptar as estações de trabalho, adotar novas habilidades comunicacionais e aceitar métodos de trabalho não-convencionais.
Os funcionários precisam se adequar ao ambiente de trabalho físico, a seus ruídos, sua disposição e as interações sociais com colegas. Ambos os lados precisam estar cientes dos salários comparáveis para evitar a exploração.
Microsoft e SAP
A Microsoft disse no mês passado que iniciou um programa-piloto em Redmond, Washington, em parceria com a Specialisterne USA, um grupo sem fins lucrativos que ajuda pessoas autistas a conseguir emprego.
“Elas têm paixão pelos detalhes”, disse Mark Grein, diretor executivo da Specialisterne, em uma entrevista em Stamford, Connecticut. “Elas tendem a ser muito boas em seguir, aperfeiçoar e otimizar um processo”.
A SAP SE, fabricante alemã de software, contratou 53 funcionários em todo o mundo desde 2012 através de seu programa Autism at Work (“Autismo no trabalho”, em tradução livre) e visa que até o ano 2020 pessoas autistas componham 1 por cento do pessoal da empresa, que atualmente é de 74.500 trabalhadores.
“Temos claras evidências dos benefícios empresariais do nosso programa-piloto”, como ganhos em produtividade, qualidade, relações com clientes, gerenciamento de pessoas e inovação, disse José Velasco, diretor do programa de autismo da SAP nos EUA.
“Estamos tentando criar uma cultura em que valorizamos uns aos outros”, disse Rajesh Anandan, um dos fundadores da Ultra. A empresa está contratando quatro ou cinco funcionários a cada seis ou oito semanas para atender à demanda por serviços, e a grande maioria dos novos funcionários é de autistas, disse ele. “Se realmente tivermos sucesso, vamos contratar centenas, talvez alguns milhares”.