App da Cabify faz 1 ano no Brasil e combate carros particulares
Concorrente da Uber tem menos recursos no seu aplicativo, mas foca em qualidade do serviço de transporte individual
Lucas Agrela
Publicado em 9 de junho de 2017 às 07h00.
Última atualização em 9 de junho de 2017 às 07h33.
São Paulo -- A Cabify , uma das principais rivais da Uber , completa um ano de operação no Brasil nesta semana. O aplicativo de transporte individual encontrou no nosso país o seu melhor mercado na América do Sul e atua hoje em oito cidades brasileiras, fora o ABC paulista, anexado à área de São Paulo.
A empresa informa que mantém seu foco na expansão gradual do serviço, buscando equilíbrio entre oferta de motoristas e demanda de clientes, em vez de buscar um crescimento rápido, como fez a Uber--o que lhe gerou alguns problemas de reputação.
Ainda assim, o aplicativo reporta um crescimento de mais 80% mês a mês no último ano, seguindo a onda da concorrência e oferecendo diversos descontos em horários específicos do dia.
Com a captação de 200 milhões de dólares para investir no Brasil, a Cabify agora vai direcionar seus esforços para ampliar seu setor de tecnologia e oferecer mais recursos a motoristas e clientes.
EXAME.com conversou com Daniel Bedoya, diretor de operações da Cabify no Brasil. Confira os principais pontos da entrevista a seguir.
EXAME.com: Como vocês adaptaram a tecnologia existente da Cabify para trazer o serviço ao Brasil e o que mudou nessa área desde que vocês lançaram o serviço no país?
Daniel Bedoya: A nossa tecnologia é viva. De hora em hora, temos melhorias sendo feitas. Muitas vezes mais no backoffice, coisas que não são sentidas pelo usuário final como um recurso, mas entrega estabilidade. A Cabify investe hoje grande parte em tecnologia para desenvolvimento de soluções no app e também em tecnologias internas para a operação da equipe, gestão de bancos de dados, dinâmica de operação de motoristas e passageiros.
Um dos recursos mais pedidos por motoristas é o que permite direcionar o seu caminho de volta para casa e, ainda assim, encontrar um passageiro que vai para a mesma direção. Vocês pretendem incluí-lo no app?
Temos um backlog de recursos quase infinito. O Uber copiou isso de uma empresa asiática. Isso está no nosso radar, mas também temos recursos para aceitar outras viagens quando você está prestes a finalizar uma corrida e esse recurso tem maior demanda e deve ter prioridade.
Falando ainda de recursos do aplicativo, vocês já permitem o compartilhamento de corridas entre dois ou mais usuários atualmente? Por quê?
Ainda não temos um plano claro para a divisão de tarifas, mas vimos que é uma necessidade.
O Brasil está prestes a receber aplicativos de carona do Waze e do Moovit, para dividir custos do trajeto cotidiano duas vezes ao dia. Esses lançamentos podem ter impacto no negócio da Cabify?
Creio que não, falo isso com muita segurança. Antes da Cabify, eu trabalhava com compartilhamento de viagens, e isso é um negócio complemente diferente para a mobilidade. Mas é outro perfil de consumo. Esses lançamentos devem impactar os players com o mesmo modelo, mas que se diferenciam pelo preço. Como esse não é o nosso foco, eles não devem migrar para uma plataforma como essa.
Na experiência de vocês, qual foi a cidade mais desafiadora para implementar a operação da Cabify?
Todas têm suas complexidades, mas destaco o Rio por questões regulatórias locais. A cidade também teve crises politicas mais do que as outras. Foi bem complexo o que houve lá. Fora isso teve também a Olimpíada, que aconteceu próximo ao nosso lançamento. A cidade estava cheia de obras por conta disso também houve dificuldades. Tivemos que investir mais tempo para a implementação.
Como serão usados os 200 milhões de dólares recebidos pela Cabify? Vocês vão expandir mais no Brasil?
Outras cidades estão no radar, mas não podemos fazer isso sem ter uma estrutura grande. Grande parte do capital é para o investimento em novas tecnologias.
Como vocês veem a regulamentação de apps de transportes na cidade de São Paulo?
São Paulo é a cidade mais evoluída. O município deixou o modelo formalizado e isso diminuiu a discussão sobre o assunto. Diferencial em SP é que regula o sistema viário e a mobilidade, não apenas os carros. Parece uma diferença pequena, mas é o que realmente explica o motivo de São Paulo fazer mais sentido do que os outros. Você foca em quantas pessoas são e quilômetros se deslocam. Quando você fala de carros, nem sempre isso significa transporte.
O cenário para os apps de caronas pagas está mais estável?
Vemos maior maturidade do governo e dos operadores com relação a isso. Certamente hoje temos um ambiente muito mais desenvolvido. Houve aumento do consumo também e isso é muito mais discutido com a população como serviço de transporte. Mês a mês avaliamos que é um mercado que cresce muito. Houve um grande amadurecimento do mercado como um todo.
Vocês ainda combatem os carros particulares em larga escala?
Sim, continuamos a combater a propriedade do veículo. Não é só o carro privado que vai fazer isso. Nos vemos como uma plataforma de mobilidade. Mas essa é uma maratona, não uma prova de 100 m. Esse primeiro ano foi apenas o começo, ainda temos vários quilômetros para percorrer.