Algoritmo do Twitter priorizava fotos de rostos jovens e de pele clara
Concurso promovido pela rede social durante conferência de segurança digital confirmou vieses que existiam em algoritmo de corte de imagens. Funcionalidade já foi removida da plataforma
Thiago Lavado
Publicado em 10 de agosto de 2021 às 14h21.
O time de engenharia de software do Twitter anunciou o resultado de uma competição que pretendia identificar vieses no algoritmo que corta fotos na linha do tempo da rede social.
O Twitter já havia desabilitado o sistema que realizava o corte das imagens: ele servia para alinhar as imagens publicadas por usuários à linha do tempo, sem distorções. Para isso, adequava as imagens a uma mesma dimensão e tentava focar em alguma informação importante na imagem. No ano passado, usuários denunciaram ao Twitter que o algoritmo tinha vieses e favorecia rostos de pessoas brancas em detrimento de pessoas negras.
A competição promovida pelo Twitter, que aconteceu na conferência DEF CON confirmou as preocupações dos usuários e os achados iniciais. O primeiro lugar da competição confirmou que o algoritmo da plataforma favorecia a aparição de rostos "magros, jovens, de pele clara com textura suave, e com traços faciais estereotipicamente femininos".
Bogdan Kulynych, um estudante da Escola Politécnica Federal de Lausanne, na Suíça, levou o primeiro lugar e 3.500 dólares. Ele utilizou um programa de inteligência artificial que gerou uma variedade de rostos semelhantes, mas com distintas combinações de feminilidade, tom de pele e traços faciais. Ele aplicou essas imagens ao algoritmo do Twitter e averiguou as preferências da máquina.
Rumman Chowdhury, diretor do time que pesquisa transparência e ética dentro de algoritmos no Twitter parabenizou os competidores por ter mostrado os efeitos na vida real dos algoritmos.
"Quando pensamos em vieses em nossos modelos, não é apenas sobre um aspecto acadêmico ou experimental, mas sobre como isso funciona na maneira em que pensamos a sociedade", disse Chowdhury.
Outros participantes da competição demonstraram ainda outros efeitos nocivos do algoritmo de corte de imagem. Pesquisadores demonstraram que os vieses não se limitavam a filtros, mas também a emojis que apresentam pessoas de pele escura ou mesmo textos escritos em outros idiomas, como árabe.
O resultado da competição demonstra a importância de pensar a influência e o peso que é dado a algoritmos e dados, que podem ter problemas de programação e preferências intrínsecas. Apesar disso, também demonstra que é preciso que as empresas estejam atentas a esse aspecto da tecnologia e dispostas a corrigir falhas.