(Georgijevic/Getty Images)
Laura Pancini
Publicado em 9 de setembro de 2021 às 07h00.
Mais e mais, empresas fazem uso de tecnologias que automatizam o processo de recrutamento e seleção. Através da inteligência artificial (IA), milhares de currículos que antes eram avaliados em dias, conseguem ser aprovados (ou ignorados) em minutos.
Agora, uma nova pesquisa realizada por acadêmicos da Universidade de Harvard estima que esse tipo de tecnologia pode estar impedindo cerca de 27 milhões de norte-americanos de encontrar trabalho em tempo integral, os transformando em "trabalhadores ocultos".
Nas últimas duas décadas, empresas passaram a ir atrás de softwares que analisam currículos conforme o número de candidatos aumentou e a tecnologia se tornou mais acessível.
As plataformas ajudam a encontrar o candidato ideal através de palavras-chaves e experiência, muitas vezes com base nos critérios específicos determinados por quem lidera o processo.
Até 75% dos empregadores nos Estados Unidos contam com essa tecnologia hoje, de acordo com o relatório.
Os trabalhadores ocultos, como afirma o relatório, são candidatos que buscam vagas, mas não obtêm sucesso por conta de "processos de contratação que se concentram no que eles não têm (como credenciais), em vez do valor que podem trazer (como habilidades)".
Na pesquisa, os trabalhadores ocultos foram divididos em três categorias: 63% estão trabalhando em um ou vários empregos de meio período, mas gostariam de um emprego em tempo integral; 33% estão procurando emprego, mas estão desempregados há muito tempo e 4% são "ausentes do mercado de trabalho": não procuram emprego, mas podem e têm vontade de trabalhar nas circunstâncias certas.
A conclusão da equipe de Harvard é que os grupos mais afetados incluem:
Idosos e pessoas com pouca ou nenhuma qualificação, sem diploma ou histórico de emprego também foram afetadas por ferramentas de IA.
"Nos EUA, existem, segundo nossas estimativas, mais de 27 milhões de trabalhadores ocultos. Nós estimamos proporções semelhantes no Reino Unido e na Alemanha", afirma o relatório.
Os pesquisadores por trás do projeto conversaram com 8.000 trabalhadores ocultos, antigos e atuais, e 2.250 executivos do Reino Unido, Alemanha e EUA para entender o problema mais a fundo.
A pandemia do coronavírus foi um fator que contribuiu para o aumento no número de trabalhadores ocultos, afirma o relatório. Porém, muitas pessoas acreditam que encontrar trabalho era igualmente difícil antes da pandemia.
O relatório traz algumas recomendações para as empresas conseguirem ser mais diversas em seus processos seletivos, como: (1) trocar de filtros "negativos" para afirmativos, como enfatizar em habilidades ao invés de experiência acadêmica ou profissional e (2) tornar o processo de candidatura mais fácil para atrair mais grupos, já que 84% dos entrevistados disseram ter dificuldade em se candidatar.